Os soldados da Marinha Nigeriana estavam agachados no convés do navio de guerra com os olhos fixos na mira. Um helicóptero sobrevoava acima e drones estavam prontos para levantar voo.
Próximo dali, um barco de ataque seguia em alta velocidade em direcção a uma embarcação, no porto de Apapa, na Nigéria.
Nas águas nigerianas e no Golfo da Guiné, a pirataria, a pesca ilegal e outros crimes marítimos estão a aumentar, colocando em risco vidas, a segurança alimentar e o comércio internacional. Para aumentar as capacidades de segurança marítima, os membros da Marinha Nigeriana participaram recentemente num exercício de treino que teve a duração de quatro dias, sob a orientação da Guarda Costeira dos EUA.
Os treinos, patrocinados pelo Comando dos EUA para África (AFRICOM), tiveram início no dia 30 de Agosto e neles também participaram membros da Marinha Espanhola.
“Estas operações marítimas exigem a colaboração de não uma, mas da marinha de três países, todas a trabalharem em conjunto e de forma simultânea,” disse o Capitão da Marinha dos EUA, Chad Graham, comandante do USS Hershel “Woody” Williams. “Outras operações de colaboração semelhantes a esta oferecem experiência de grande valor para a minha tripulação no presente, mas também permitem que sejamos mais eficientes e capazes nas operações futuras com os nossos parceiros da região.”
Bashir Jamoh, chefe da agência de administração e segurança marítima nigeriana, disse à Reuters que o aumento de patrulhas marítimas, incluindo aquelas realizadas pelas marinhas dos EUA e europeias, ajudaram a reprimir alguma criminalidade naquela região rica em petróleo.
“Se a ameaça aos seus navios não for resolvida, todo o comércio internacional fica afectado,” disse Jamoh.
A pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN) e a pirataria foram sempre os maiores problemas na Nigéria e na região durante décadas.
No primeiro trimestre de 2021, o Golfo da Guiné representou 43% de todos os incidentes de pirataria ocorridos na região africana, de acordo com o Gabinete Marítimo Internacional. Nessa altura, 38 incidentes foram registados no Golfo da Guiné, incluindo 33 embarcações abordadas, duas tentativas de ataque e um barco sequestrado. Os ataques tiveram como alvo navios de carga, embarcações de pesca e barcos de passageiros.
Em 2020, o Golfo da Guiné representou mais de 95% de todos os sequestros marítimos a nível do mundo, de acordo com o gabinete.
As práticas comerciais marítimas ilegais custam aos países da África Ocidental aproximadamente 1,95 bilhões de dólares em toda a cadeia de valores pesqueiros e 593 milhões de dólares por ano em rendimento familiar. A pesca INN também dizima as populações de peixe que já se encontram em rápido declínio, destrói os ecossistemas e tem sido ligada a outros crimes, tais como pirataria e tráfico de drogas.
Em Junho, a Câmara dos Representantes da Nigéria anunciou que o país perde 70 milhões de dólares por ano para a pesca ilegal, incluindo perda de receitas de impostos e taxas de licenciamento assim como dinheiro que podia ser ganho por pescadores locais legítimos.
As operações de pesca de pequena escala contribuem com 80% do peixe produzido localmente e apoiam os meios de subsistência de 24 milhões de nigerianos, noticiou o The Maritime Executive.
Vice-almirante Auwal Zubairu Gambo, chefe do Estado-maior da marinhanigeriana, falou sobre os problemas de segurança marítima do país em inícios de Setembro durante uma conferência anual, em Kano.
“Caracteristicamente, as ameaças marítimas tornaram-se de grande preocupação e encontram-se a evoluir e a desafiar as capacidades de combate da Marinha Nigeriana e outros actores,” disse Gambo num artigo do jornal nigeriano, Daily Trust. “A situação actual requer avaliações constantes, maior colaboração assim como cooperação entre agências no seio das partes interessadas.”
O exército dos EUA há muito vem apoiando os esforços de segurança marítima da Nigéria.
No início de Agosto, os oficiais destacados para o USS Hershel “Woody” Williams participaram num exercício de treino marítimo, com duração de três dias, com embarcações de patrulha ao largo da costa. Em Julho, 25 oficiais do Serviço de Barco Especial da Marinha Nigeriana e uma equipa de Forças Especiais do Exército dos EUA concluíram um exercício combinado de treino conjunto e de intercâmbio, de acordo com a Marinha dos EUA.
Os países participaram de forma conjunta em vários exercícios militares anuais, incluindo o Flintlock, que se centra no combate ao terrorismo e ao crime transnacional, e o Obangame Express, que se centra na segurança marítima.