EQUIPA DA ADF
Por aproximadamente dois anos desde que foi descoberta, a COVID-19 dominou a atenção dos provedores de cuidados de saúde pelo mundo. Ela desviou os recursos e os fundos de outras prioridades relacionadas com a saúde.
Por causa da pandemia, poucas pessoas foram testadas para a tuberculose, HIV e malária ao longo do ano passado, de acordo com um novo relatório feito pelo Fundo Global de Luta Contra a SIDA, Tuberculose e Malária.
Utilizando palavras como “devastador” e “catastrófico” para descrever o impacto da pandemia da COVID-19 na luta contra outras doenças mortais contagiosas, o relatório fez a comparação de dados de 2019 e 2020 sobre o HIV, a tuberculose e a malária em mais de 100 países de baixa e média-baixa renda.
“A COVID-19 foi o maior contratempo da luta contra o HIV, a tuberculose e a malária que encontramos e duas décadas desde a criação do Fundo Global,” escreveu o director-executivo da organização, Peter Sands, numa introdução do seu Relatório de Resultados de 2021.
Pela primeira vez nos 20 anos da história da organização, a meta dos dados relacionados com estas doenças retrocedeu. As estatísticas de testagens de Abril a Setembro de 2020 em comparação com o mesmo período de seis meses de 2019 demonstraram que:
- Os testes de HIV baixaram em 41%.
- Os diagnósticos da malária baixaram em 31%.
- As consultas pré-natais baixaram em 43%.
- As recomendações para diagnósticos complementares e tratamento de tuberculose reduziram em 59%.
Enquanto a COVID-19 se propagava pela África em 2020, recursos como profissionais de saúde, laboratórios, máquinas de testagem e camas foram desviados da prevenção e tratamento de outras doenças.
A pandemia também interrompeu a cadeia de fornecimento de programas de prevenção que disponibilizam medicamentos, preservativos, agulhas limpas e redes mosquiteiras.
Em 2020, os confinamentos obrigatórios tornaram o acesso aos cuidados médicos muito mais difícil para pessoas com HIV/SIDA, tuberculose e malária.
Cerca de 25,7 milhões de africanos vivem com o HIV, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
O Fundo Global anunciou que 5.000 raparigas adolescentes e mulheres jovens são infectadas por HIV na África Oriental e Austral por semana.
A COVID-19 superou a tuberculose como sendo a doença contagiosa mais mortal do mundo em 2020, mas a tuberculose ainda assim matou mais de 1,4 milhões de pessoas em 2019.
Os casos e as mortes da malária reduziram de 2000 a 2017, de acordo com o relatório, “mas esse progresso observou uma estagnação por volta de 2018. A COVID-19 exacerbou o desafio, afastando-nos para mais longe da meta.”
Mas existem sinais de esperança na forma como alguns países se levantaram perante o desafio.
O relatório deu crédito às “medidas de adaptação” e “à diligência e inovação dos agentes comunitários de saúde,” com a manutenção das medidas de prevenção da malária estáveis em comparação com 2019. A distribuição de redes mosquiteiras aumentou em 17% com os esforços de feitos de porta em porta.
O Fundo Global financia 4 bilhões de dólares por ano para a prevenção e tratamento destas doenças em parceria com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, o Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio do SIDA e outros países e organizações.
Até Junho de 2021, a organização tinha investido 22,7 bilhões de dólares em programas de HIV e SIDA, 3,8 bilhões de dólares em programas de TB/HIV, 14,7 bilhões de dólares em programas de controlo da malária e 7,8 bilhões de dólares em programas de TB.
Sands disse que as necessidades de financiamento aumentaram por causa da forma como a pandemia desviou a missão.
“Na maior parte dos países de renda baixa e média-baixa, a crise está longe de ter chegado ao fim, com as infecções e mortes pela COVID-19 a continuarem a aumentar e as repercussões sobre o HIV, a tuberculose e a malária continuam a aumentar,” disse num artigo da página da internet do Fundo Global.
“Para reconquistar o terreno perdido nas três epidemias de 2020 e para intensificar a luta contra a COVID-19, temos de aumentar de forma massiva os programas de adaptação, aumentar o acesso às ferramentas da luta contra a COVID-19 e apoiar os sistemas de saúde para que não entrem em colapso.”
Yacine Djibo, fundadora e directora-executiva da Speak Up Africa, uma organização de advocacia de saúde pública com sede no Senegal, fez eco a esse sentimento.
Ela disse que as estatísticas do Fundo Global sublinham a necessidade de aumentar a colaboração e o investimento para a protecção contra outras doenças mais contagiosas do continente.
“Enquanto continuamos a lutar contra o vírus,” disse à revista digital, Quartz Africa, “temos de redobrar os nossos esforços para concluir a luta contra as doenças mortais como a malária, para que ninguém seja deixado para trás e especialmente os que estão mais propensos a esse risco.”