Extremistas Usam as Minas de Ouro de Burkina Faso como Fonte de Poder

EQUIPA DA ADF

Os grupos extremistas da região do Sahel estão de olhos postos nas minas de ouro como uma fonte para a compra de armas, viaturas e outro equipamento necessário para fazer ataques mortais.

Burkina Faso, o produtor de ouro com o crescimento mais rápido do continente, encontrou-se no centro da mira da luta de grupos extremistas para ganhar o controlo de minas artesanais de pequena escala na região nordeste do país.

“Os terroristas ouvem que este local ou aquele está a prosperar com ouro e depois marcam esses lugares como alvo –– eles podem matar a todos ou assumir o controlo e cobrar impostos,” Kibsa Ouedraogo, um chefe tradicional da aldeia de Noaka, disse ao Financial Times. “Para mim, não tem nada a ver com religião, é um tipo de máfia.”

De muitas formas, o ouro representa uma moeda muito forte para os criminosos e terroristas, uma vez que é virtualmente impossível de rastrear e, a 58 dólares por grama, é valioso em pequenas quantidades. A mineração de ouro teve lugar em Burkina Faso durante centenas de anos, mas o país recentemente experimentou uma corrida do ouro, com mais de 30 toneladas métricas por ano a serem retiradas de minas artesanais não regulamentadas e sem cobrança de impostos.

REUTERS

Nas mãos dos criminosos, o ouro é contrabandeado, atravessando fronteiras, para os países costeiros onde pode ser transportado para o Médio Oriente, refinado e vendido para a obtenção de grandes lucros.

“Se estes grupos querem crescer, a necessidade é o financiamento,” Christian Nellemann, director do grupo norueguês de análise de segurança, Rhipto, disse ao Financial Times. “…Eles precisam desesperadamente de ouro.”

O brilho reluzente da riqueza trouxe violência. As autoridades reportam que o ano de 2021 registou um nível quase que sem precedentes de violência relacionada com o ouro. Em Junho, os jihadistas lançaram o ataque mais mortal do país desde 2015, matando 160 pessoas e desalojando mais de 7.000, de acordo com o grupo internacional, Mines Advisory Group, MAG.

Acredita-se que os agressores tenham atacado uma aldeia na província de Yagha, numa tentativa de apoderar-se de uma mina de ouro. No dia seguinte, o governador da região suspendeu todas as actividades relacionadas com a mineração do ouro nas províncias de Yagha e Oudalan.

No dia 31 de Agosto, os terroristas atacaram uma coluna de viaturas da empresa canadiana de mineração, Iamgold Corp., que seguia em direcção à mina de ouro de Essakane, em Burkina Faso. A Reuters noticiou que a segurança da coluna conseguiu repelir o ataque.

A Iamgold suspendeu imediatamente todas as colunas de e para Essakane, a maior mina em operação da empresa, “até uma data por anunciar.”

Estes ataques não são isolados. O Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS) comunicou que 1.170 incidentes violentos foram registados em Burkina Faso, no vizinho Mali e na região ocidental do Níger, em 2020, um aumento de 44% em comparação com 2019.

A violência registou um firme aumento desde 2015, e dois grupos — a Frente de Libertação de Macina e o Estado Islâmico do Grande Sahara — foram responsáveis por quase todos os ataques de 2020, que resultaram em 4.122 mortes, um aumento de 57% em comparação com 2019.

O centro relata que a violência do Sahel desalojou 1,7 milhões de pessoas, das quais 1,1 milhões encontram-se em Burkina Faso.

Depois de prejudicar uma região, através da infiltração e ataques, os “jihadistas ganham o controlo das rotas vitais de contrabando e os locais de exploração mineira, incluindo minas artesanais de ouro,” escreveu o Dr. Malte Lierl num relatório de 2020, intitulado “Growing State Fragility in the Sahel: Rethinking International Involvement” (A Fragilidade de Um Estado em Crescimento no Sahel: Repensando o Envolvimento Internacional).”

O controlo de zonas ricas em ouro dá aos grupos uma fonte de riqueza e um fornecimento estável de novos combatentes, afirmam os observadores. Quando os jihadistas assumem o controlo das zonas de mineração artesanal, encorajam — ou ordenam — aos homens locais para deixarem crescer a sua barba, adoptarem o uso de calções e a obedecerem aos ensinamentos religiosos extremistas.

“Independentemente da região, o seu primeiro alvo é o controlo das zonas de exploração de ouro,” analista de segurança burquinabê, Mahamadou Sawadogo, disse ao Financial Times. “É a sua principal fonte de receitas e é um bom lugar para recrutar jovens.”

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