EQUIPA DA ADF
À medida que as ameaças extremistas violentas deterioram no Mali e começam a expandir-se para o Níger e Burkina Faso, os Estados costeiros, como o Benin, passaram a ser a próxima fronteira.
No dia 1 de Maio de 2019, a violência avançou em direcção àquela fronteira, quando os agressores raptaram dois turistas franceses e mataram os seus guias turísticos no Parque Nacional Pendjari, no Benin. As forças francesas, que operam a partir de Burkina Faso, mais tarde resgataram os dois turistas e outros dois civis — um americano e um sul-coreano — numa operação que resultou na morte de dois soldados franceses.
No dia 10 de Fevereiro de 2020, homens armados com catanas e espingardas atacaram uma esquadra da polícia na aldeia beninense de Mekrou-Djimdjim, próximo da fronteira com Burkina Faso, matando um agente e ferindo um outro.
O que os analistas temiam parece estar a acontecer: o extremismo violento está a continuar a sua marcha a partir do Sahel em direcção aos países costeiros vizinhos. O Dr. Daniel Eizenga, um pesquisador do Centro Africano de Estudos Estratégicos (ACSS) disse à ADF, em 2019, que os extremistas do Sahel procuram “expandir o seu campo de acção.” Os Estados costeiros circunvizinhos estão prontos para esta expansão e dão oportunidades para os grupos terroristas explorarem financeiramente as rotas do comércio, como aquelas através das quais o gado é movimentado para os mercados.
A expansão também oferece aos militantes acesso a “alvos fáceis nos ataques em grande escala”, como o ataque perpetrado contra a instância turística da praia de Grand Bassam, em Março de 2016, na Costa do Marfim, que fez 16 vítimas mortais, disse Eizenga.
Enquanto esses ataques ocorriam, o governo do Benin estava a direccionar a sua atenção para assuntos políticos internos. Os observadores afirmam que o Presidente Patrice Talon, eleito em 2016, começou de imediato a enfraquecer os seus oponentes políticos e a reputação do país como uma democracia forte e estabelecida.
Aquando da sua subida ao poder, Talon jurou não procurar uma reeleição, mas quando o seu mandado se aproximava do fim, ele mudou de ideia. Ao longo da caminhada, ele “eliminou quase todas as possibilidades de oposição legítima,” escreveu Tim Hirschel Burns, em Abril, para a revista Foreign Policy. O advogado pessoal de Talon assumiu o cargo de Presidente do Tribunal Constitucional do país e um corpo judicial formado para combater a corrupção e o terrorismo, entretanto, virou as suas atenções para os adversários políticos do presidente.
O resultado, escreveu Dr. Marck Duerksen, do ACSS, num documento do dia 27 de Abril de 2021, intitulado “O Desmantelamento da Democracia do Benin,” foi a reeleição, no dia 11 de Abril, de Talon, na qual apenas 26% dos eleitores foram às urnas. Apesar de 16 observadores da União Africana e 105 da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental terem louvado a votação calma e ordeira, o resultado reflectiu um boicote depois de uma oposição séria ter sido impedida.
Instituições de justiça enfraquecidas preparam o terreno para os extremistas se enraizarem, uma vez que apelam para os cidadãos negligenciados e descontentes, especialmente aqueles localizados nas regiões como o norte do Benin, que estão longe dos epicentros do governo. A fórmula tem sido fundamental na transformação do Sahel num terreno propício para a continuação da violência extremista e da instabilidade, escreveu a Dra. Catherine Lena Kelley, uma professora associada do ACSS.
“É uma mensagem potente,” escreveu Kelly no documento “Justiça e Estado de Direito Fundamentais para a Segurança Africana,” de 25 de Maio. “O abuso dos direitos humanos pelos actores do sector de segurança e as percepções de tratamento injusto pelos agentes do governo são factores determinantes para a decisão de indivíduos se juntarem aos grupos extremistas violentos no Sahel, na Bacia do Lago Chade e no Corno de África.”
Num momento crucial em que o Benin devia estar a fortalecer-se e a expandir o alcance das instituições democráticas, em vez disso, continuou a sua marcha em direcção ao governo autocrático.
O Benin tentou representar um papel activo na luta contra o extremismo regional. Participa na Força-Tarefa Conjunta Multinacional, com os Camarões, Chade, Níger e Nigéria contra o Boko Haram. Também formou um grupo doméstico denominado Comité de Alto Nível para a Luta Contra o Terrorismo e Insegurança nas Fronteiras (CLTIF). Mas mesmo o CLTIF tem sido utilizado para atacar os oponentes políticos de Talon, escreveu a pesquisadora académica, Christina Cottiero, para o Washington Post, em Maio.
Os extremistas tendem a ter como alvo as zonas que se encontram em desvantagem no Benin para explorar a ira em relação a um governo ineficaz. O norte do país, por exemplo, recebe poucos recursos do governo em comparação com a região costeira. “No país vizinho, Burkina Faso, grupos como o Ansaroul Islam exploram sentimentos de injustiça e ressentimento em relação ao governo para radicalizar as pessoas,” escreveu Cottiero.
Enquanto os extremistas continuam a expandir o campo de acção, é provável que a violência no norte do Benin continue. O crime transfronteiriço também é um problema contínuo e pode-se esperar que os extremistas explorem o comércio naquela região. O envolvimento com as populações locais e a preservação das instituições democráticas serão elementos-chave para o combate contra a propagação do extremismo violento, afirmam os observadores.
“A democracia não é apenas um veículo de governação para liberdade, igualdade e direitos humanos, mas é também um meio para o alcance da segurança nacional — a nível doméstico e internacional,” escreveu Duerksen, do ACSS.