EQUIPA DA ADF
Uma resposta rápida das autoridades de saúde pública armada com vacinas parece ter contido o mais recente surto do Ébola, na República Democrática do Congo (RDC). Mas pesquisas recentes sobre a causa do surto deixam os especialistas em saúde preocupados com mais e piores surtos no futuro.
O surto do Ébola começou na província do Kivu do Norte, na RDC, em Fevereiro. As equipas do Ministério de Saúde, da Organização Mundial de Saúde (OMS), do UNICEF e outros grupos responderam rapidamente, através do rastreamento de contactos e administração de vacinações, visando acabar com a propagação do vírus.
Até ao dia 22 de Março, metade das dezenas de vítimas do Ébola do Kivu do Norte tinham morrido e os últimos sobreviventes tinham recebido alta no hospital. Com isso, o Kivu do Norte começou o período de espera, necessário para declarar o mais recente surto oficialmente terminado. Espera-se que isso venha a acontecer no dia 3 de Maio, se nenhum outro caso aparecer.
Quando o surto começou, a OMS enviou mais de 15.000 doses da vacina contra o Ébola para o Kivu do Norte. As equipas administraram 1.500 vacinas nas primeiras semanas do surto.
A vacina foi desenvolvida em resposta à epidemia do Ébola de 2014-16 que matou 11.300 pessoas na África Ocidental. Foi implementada pela primeira vez contra o Ébola de 2018, na província do Equador, na RDC. Desde então, a vacina provou ser altamente eficaz para proteger as pessoas de infecções e para interromper epidemias.
De acordo com o Dr. Medread Onobiaso, chefe do gabinete local do UNICEF, em Beni, na RDC, as lições das campanhas de vacinação anteriores contra o Ébola foram de vital importância para conter a mais recente epidemia.
Enquanto batalhavam contra o mais recente surto do Ébola, as autoridades sanitárias dependeram dos sobreviventes dos surtos anteriores para ajudar os seus países a localizar potenciais casos para tratamento e rastreamento de contactos.
“Os sobreviventes são uma importante fonte de apoio. Eles são importantes para nos ajudar a comunicar com as comunidades, porque as pessoas, com certeza, as ouvem,” Phillippe Katembo, funcionário da OMS, na RDC, disse ao Escritório Regional da OMS para África, no Twitter.
Contudo, uma pesquisa recente também levanta preocupações sobre o papel que os sobreviventes podem desempenhar nos futuros surtos — como uma potencial fonte de ressurgimentos.
Os pesquisadores afirmam que os sobreviventes do surto da África Ocidental de 2014-16 podem ter sido a fonte de um surto na Guiné, que aconteceu em simultâneo com o evento do Kivu do Norte. A análise genética do vírus da Guiné demonstrou que era virtualmente idêntico à estirpe que causou a epidemia de 2014-16.
Os pesquisadores já sabiam há algum tempo que o Ébola se esconde nos corpos dos sobreviventes, muitas vezes, nas gónadas, nos olhos e no líquido cefalorraquidiano, onde o sistema imunológico tem dificuldades para o destruir. Os sobreviventes do sexo masculino demonstraram que transmitiram o vírus às suas parceiras sexuais muitos meses depois de recuperarem da infecção.
Estudos anteriores demonstraram que o vírus se esconde nos corpos dos sobreviventes por um período de até 500 dias. Mas a possibilidade de alguém transmiti-lo depois de cinco anos surpreendeu os cientistas.
Até há bem pouco tempo, as fontes mais comuns do surto do Ébola eram animais selvagens e fluidos dos corpos das vítimas. Os pesquisadores afirmam que os sobreviventes podem servir como um reservatório para que o vírus complique a luta contra o mesmo, uma vez que os sobreviventes podem potencialmente ocasionar novos surtos.
Mike Ryan, director do Programa de Emergências de Saúde da OMS, alertou que as novas descobertas podem provocar mais estigma contra os sobreviventes do Ébola se os seus vizinhos os considerarem como uma potencial fonte do vírus.
Os especialistas em saúde pública afirmam que as estratégias de vacinação contra o Ébola precisam de mudar de uma resposta “instantânea” para uma prevenção em toda a África equatorial. Existem duas vacinas eficazes contra o Ébola, mas o processo iria precisar de um grande investimento na produção da vacina, armazenamento em ambientes extremamente frios e formação para os profissionais de saúde administrarem as doses.
“Precisamos de continuar a investir na pesquisa e no desenvolvimento para o Ébola, incluindo em vacinas,” Dra. Ibrahima Soce Fall, directora-geral adjunta da resposta de emergência na OMS, disse ao The Telegraph, do Reino Unido. “No futuro, precisamos de mudar para uma medida mais preventiva. Se não o fizermos, teremos um impacto catastrófico na saúde global.”