À medida que os drones desempenham um papel cada vez mais importante nas estratégias de batalha em toda a África, os exércitos do continente estão a adicionar pequenos drones disponíveis comercialmente aos seus arsenais como uma alternativa barata e altamente adaptável aos veículos aéreos não tripulados (VANT) de nível militar.
Nos últimos anos, os exércitos africanos entraram numa onda de compras de VANT, com os drones Bayraktar TB-2 e Akinci da Turquia a tornarem-se as opções mais populares. A 5 milhões de dólares cada TB-2 e cerca de 50 milhões de dólares para um Akinci, os custos para os exércitos com dificuldades financeiras aumentam rapidamente.
Em comparação, os drones comerciais custam entre algumas centenas e alguns milhares de dólares e podem ser facilmente equipados para transportar pequenas cargas explosivas. O baixo custo torna-os essencialmente descartáveis, segundo os analistas.
A mudança para drones mais baratos, muitos deles quadricópteros, está a acontecer em parte em resposta à adopção da mesma tecnologia por terroristas. Nos últimos anos, grupos terroristas como o al-Shabaab na Somália e o Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin no Burquina Faso e no Mali transformaram esses drones em dispositivos explosivos improvisadosvoadores, montando bombas neles.
Agora, as forças armadas africanas adoptaram a mesma capacidade.
“Eles têm isso nas suas mochilas, vão para missões e são capazes de atacar onde for necessário,” Muhammad Umar, director de tecnologia da fabricante nigeriana de drones EIB Group, disse recentemente à Agence France-Presse (AFP).
A Nigéria tornou-se líder na compra e construção de VANT para uso militar. As Forças Armadas da Nigéria compraram drones de vários fornecedores, incluindo a Turquia e a China, dois dos maiores actores no mercado africano de drones, de acordo com uma análise do Centro de Estudos Estratégicos de África.
A Nigéria também é sede da Terra Industries, anteriormente Terrahaptix, uma empresa de robótica e manufactura que opera a maior fábrica de drones de África. De acordo com a empresa, a fábrica terá capacidade para produzir 30.000 drones por ano, incluindo drones de vigilância de longo alcance, quadricópteros de resposta rápida e pequenos veículos autónomos.
Desde que construiu os seus primeiros drones em 2018, a Nigéria desenvolveu um drone kamikaze conhecido como Damisa, em parceria com uma empresa de tecnologia nigeriana. A Nigéria e a Etiópia concordaram recentemente em colaborar numa frota de drones fabricados em África, capazes de aplicações civis e militares. A Etiópia é o segundo maior comprador de drones na África Subsaariana.
Numa recente exposição militar na Nigéria, os pequenos drones foram a atracção principal — sem as munições. Os vendedores destacaram a flexibilidade e a capacidade de resposta rápida dos drones.
“É preciso velocidade, é preciso agilidade,” Oluwagbenga Karimu, especialista em autonomia de sistemas do EIB Group, disse à AFP.
A corrida armamentista de VANT também tem o potencial de prejudicar civis se não houver supervisão adequada e restrições ao uso de drones.
No Sudão, por exemplo, um ataque com drones realizado a 19 de Setembro pelas Forças de Apoio Rápido (RSF) no Darfur do Norte matou 70 pessoas que participavam na oração de sexta-feira numa mesquita local. As RSF lançaram ataques semelhantes contra hospitais no Darfur do Norte. As Forças Armadas do Sudão também recorrem a pequenos drones para atacar posições das RSF e mercados civis frequentados por combatentes das RSF.
Ataques com drones liderados pelo governo também mataram dezenas de civis em Burquina Faso, Etiópia, Mali, Nigéria e Somália nos últimos anos.
Num relatório publicado no início deste ano, a Drone Wars UK estimou que mais de 940 civis morreram em pelo menos 50 ataques relacionados com drones em seis países africanos entre Novembro de 2021 e Novembro de 2024. Os especialistas acreditam que essa estimativa está muito aquém do número real de mortes, porque muitos ataques com drones acontecem secretamente.
“A compra de drones tornou-se uma forma barata para os Estados adquirirem um poder de fogo significativo,” Michael Spagat, chefe do departamento de economia da Royal Holloway, Universidade de Londres, disse à Al Jazeera. “Os drones têm a vantagem adicional de que os atacantes não precisam de se preocupar com a morte dos pilotos. Não é necessário investir na formação de pessoas que se pode perder.”
Para a analista Cora Morris, autora do relatório Drone Wars UK, a rápida expansão dos drones na guerra prejudica os civis que os governos deveriam proteger.
“O aumento crescente de danos civis em todo o mundo revela uma falha generalizada em levar a sério a perda de vidas civis,” Morris disse à Al Jazeera. “Isso é ainda mais flagrante no que diz respeito à utilização de drones, com uma normalização preocupante da morte de civis que acompanha a sua proliferação.”