Em todo o Sahel, o zumbido do motor de uma motocicleta tornou-se um som que inspira medo.
As motocicletas tornaram-se o veículo preferido dos terroristas em toda a região, permitindo-lhes deslocar-se rapidamente, atacar de surpresa e evitar a captura pelas autoridades locais.
“As motos têm sido uma presença quase constante nas operações de campo dos grupos armados do Sahel, com enxames de motos a permitir que dezenas, ou mesmo centenas de combatentes, desçam rapidamente sobre um local-alvo,” os investigadores da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC) escreveram num relatório de 2023 sobre o uso de motos entre grupos terroristas do Sahel.
O apelo das motos é simples, de acordo com os investigadores da GI-TOC — elas são adequadas para as estradas arenosas e não pavimentadas da região, mais eficientes em termos de consumo de combustível do que os carros e mais fáceis de reparar.
O relatório constatou que as motocicletas se tornaram um dos itens mais traficados no Sahel. Elas são indispensáveis para os grupos armados extremistas violentos, particularmente onde o Sahel faz fronteira com o Benin e outros Estados costeiros ao sul, observa o relatório.
Nos últimos meses, os terroristas do Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) e da Província do Estado Islâmico na África Ocidental mataram dezenas de soldados e civis em todo o Sahel durante ataques com motocicletas a bases militares e comunidades.
Em Junho, por exemplo, várias centenas de homens armados, muitos deles em motocicletas, atacaram uma base do exército nigerino perto da fronteira com o Mali, matando pelo menos 34 soldados e ferindo 14, de acordo com o Ministério da Defesa do Níger.
Em Agosto, homens armados em motocicletas mataram 11 pessoas e sequestraram outras 70 numa aldeia no Estado de Zamfara, no noroeste da Nigéria, na fronteira com o Níger.
“Eles chegaram em motocicletas, atirando aleatoriamente antes de sequestrar as nossas filhas e crianças,” Isa Sani, morador da comunidade de Sabongarin Damri, disse à Reuters.
Outros ataques com motocicletas perpetrados pelo JNIM no Sahel este ano incluíram 30 soldados mortos no Benin, mais de 50 pessoas perto de Kobe, no Mali, 44 fiéis em Fambita, no Níger, e 200 soldados no posto militar de Djibo, no Burquina Faso.
O uso crescente de motocicletas por terroristas transforma aqueles veículos de um sinal de prosperidade num símbolo de violência e ameaça. Iliyasu Yahuza, residente de Benin, descobriu isso em primeira mão quando levou a sua motocicleta para a sua comunidade rural, Brignamaro, no norte de Benin. Anteriormente, a motocicleta atraía a atenção de crianças animadas, disse. Agora, essas mesmas crianças fogem. Yahuza, um comerciante, preocupa-se com a forma como a motocicleta está a afectar a sua própria reputação.
“As pessoas começaram a ver-me como um membro do grupo armado que lança ataques nesta região,” Yahuza disse à Al Jazeera. “Já não me sinto seguro a conduzir uma motocicleta.”
Civis como Yahuza também correm o risco de ter as suas motocicletas roubadas por terroristas, um acto que pode devastar vidas e meios de subsistência, informou a GI-TOC.
“O roubo de motocicletas no Sahel é frequentemente violento por natureza e tem consequências económicas extremamente prejudiciais para os cidadãos,” afirma o relatório.
No início deste ano, o Burquina Faso anunciou que as suas forças apreenderam 900 motocicletas e 164 triciclos motorizados perto de uma passagem fronteiriça com a Costa do Marfim. Os veículos seguiam para Korhogo, onde seriam vendidos para financiar o terrorismo, informaram as autoridades burquinabês.
Os veículos confiscados foram entregues às forças de segurança do Burquina Faso para a sua luta contra os terroristas, o Ministro da Segurança do Burquina Faso, Mahamadou Sana, disse num comunicado.
No norte do Benin, Junaidu Woru, residente em Tanguita, disse à Al Jazeera que o uso de motocicletas pelos terroristas significa que os civis precisam de encontrar outras opções de transporte.
“Pessoas inocentes devem evitar usar essas motos para a sua própria segurança,” aconselhou Woru. “Porque quando ocorre um ataque e uma pessoa inocente está a conduzir pela área naquele momento específico, ela pode ser confundida com um militante.”