O futuro dos conflitos em África está a ser construído com base em três pilares: mercenários, drones e informações falsas, de acordo com o analista Alessandro Arduino.
No seu novo livro, “Money for Mayhem,” Arduino, professor afiliado do King’s College London, vê os futuros conflitos em África a serem construídos em torno de empresas militares privadas capazes de mobilizar simultaneamente combatentes experientes, operar drones de combate e realizar campanhas enganosas nas redes sociais que visam principalmente os jovens.
“África é o cenário perfeito para que este tipo de coisa aconteça,” Arduino disse à ADF numa entrevista.
Mais do que qualquer outro grupo, o Africa Corps da Rússia — e o Grupo Wagner antes deste — fornece o modelo para esta visão da guerra futura no continente. Este modelo não é muito diferente do passado, quando mercenários foram contratados há décadas para lutar em conflitos de Angola à Serra Leoa.
No Sahel, por exemplo, as juntas governativas convidaram mercenários do Grupo Wagner para ajudá-las a combater grupos extremistas. Os mercenários são pagos pelos seus serviços com a exploração de ouro e outros recursos naturais no Burquina Faso e no Mali. Os fracos governos desses países dependem dos mercenários para protegê-los dos desafios internos ao seu poder.
Uma situação semelhante existe na República Centro-Africana, onde os mercenários russos actuam desde 2018, servindo como segurança presidencial, entrando em combate com o exército e realizando campanhas de propaganda direccionadas a civis.
“Os mercenários são desprezados por todos, mas a porta ainda está aberta,” Arduino disse à ADF.
A ironia, porém, é que a presença de mercenários numa zona de conflito só piora os conflitos. Isso é propositado, segundo Arduino.
“O negócio deles prospera com o caos perpétuo,” Arduino disse à The Conversation. “Cada cessar-fogo ameaça o seu sustento.”
Os drones têm fornecido poder aéreo de baixo custo para grupos paramilitares, como as Forças de Apoio Rápido (RSF) do Sudão, e governos que buscam uma alternativa aos caças e outras aeronaves multimilionárias.
Juntamente com os mercenários, os drones tornam-se uma força aérea contratada, capaz de apoiar combatentes terrestres ou lançar ataques aéreos, como o ataque das RSF em Maio à sede do governo sudanês em Port Sudan.
A Rússia não é a única a fornecer operações militares prontas a usar às nações africanas. A Turquia também está a tornar-se um interveniente importante nesse mercado através da sua empresa militar privada estatal Sadat.
A Turquia tem estado activa ao lado do governo na guerra civil do Sudão, enquanto a Rússia apoia indirectamente as RSF através do Grupo Wagner e do seu aliado, o Marechal Khalifa Haftar, da Líbia. A Rússia e a Turquia continuam em lados opostos da guerra civil na Líbia, que se tornou um dos primeiros campos de testes para a guerra com drones.
“Esta fusão de um exército rentável e uma força aérea pronta a usar pode tornar-se uma exportação poderosa, servindo as ambições políticas e económicas de Ancara em África,” Arduino disse na The Conversation.
A Turquia também é a fonte dos drones Bayraktar TB-2 e Akinci, que se tornaram os veículos aéreos não tripulados (VANT) preferidos das forças armadas de todo o continente. Durante o seu ataque com drones a Port Sudan, as RSF tiveram como alvo os hangares que abrigavam os drones turcos e os seus operadores.
O terceiro elemento da visão de Arduino sobre a guerra futura em África é a informação falsa, particularmente a que é disseminada online e tem como alvo os jovens.
Grupos mercenários estão a usar tecnologias em rápida evolução, como inteligência artificial (IA) e influenciadores pagos, para divulgar as suas próprias mensagens. A propaganda do Grupo Wagner ajudou a persuadir os líderes militares do Sahel a substituir as forças antiterroristas francesas e americanas por mercenários russos.
As empresas mercenárias que podem fornecer combatentes experientes, drones de alta tecnologia e campanhas de informação falsa terão um papel importante em conflitos futuros, Arduino disse à ADF.
O poder dessa combinação está a ser demonstrado diariamente nos países africanos.
“De todas as regiões do mundo, a que mais sofrerá será a África,” acrescentou.