Numa altura em que os grupos terroristas continuam a lançar ataques no Sahel, alguns temem que chegue o dia em que os insurgentes marcharão para uma capital e derrubarão o governo nacional. Isso seguiria um padrão semelhante ao que ocorreu na Síria e no Afeganistão, quando o controlo do Estado entrou em colapso praticamente da noite para o dia.
No entanto, analistas do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) acreditam que a ocupação de Bamako, Niamey ou Ouagadougou por terroristas do Sahel é improvável a curto prazo.
“Eles não têm o poder de fogo e as capacidades logísticas para sustentar um cerco prolongado e a ocupação de uma grande cidade,” escreveram os analistas do ISS, Djiby Sow e Hassane Koné. “A sua força reside na mobilidade e no conhecimento local, e não na capacidade de ocupar e governar territórios por longos períodos.”
Grupos como o Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) e o Estado Islâmico no Grande Sahara (ISGS) aproveitam a ausência do Estado nas zonas rurais e estabelecem “governos paralelos” através dos quais mediam conflitos, cobram impostos e impõem uma interpretação rigorosa da Sharia.
Estima-se que 30% do território do Burquina Faso e 50% do Mali se encontram fora do controlo do Estado. Nestas regiões rurais, os civis, desesperados por paz, têm demonstrado vontade de se aliar a qualquer grupo que prometa estabilidade.
“As populações em muitas áreas fora das capitais consideram o seu governo indiferente e, quando presente, ineficaz e mal intencionado,” Michael DeAngelo escreveu para o Foreign Policy Research Institute. “Os grupos jihadistas vêem esta lacuna como uma oportunidade para controlar o território, proporcionando segurança e governação.”
Wassim Nasr, jornalista da France24 que entrevistou um dos fundadores de uma filial do JNIM, acredita igualmente que é improvável que ocupem uma capital, porque os grupos terroristas do Sahel não têm grandes capacidades logísticas e não são apoiados por muitos residentes das grandes cidades. As melhores estimativas apontam que o JNIM tenha cerca de 6.000 combatentes, provavelmente um número demasiado pequeno para controlar uma capital nacional.
“Embora, em teoria, gostassem de tomar estas cidades militarmente, conquistar Bamako, Ouagadougou ou Niamey seria muito dispendioso para eles em termos de governação e gestão,” Nasr disse ao Combating Terrorism Center. “Com grande parte da população destas cidades a ser-lhes hostil, não seria fácil.”
Contudo, Nasr advertiu que não descartaria nada se os grupos obtivessem grandes ganhos territoriais e vissem uma oportunidade de tomar o poder. Um ataque do JNIM em Bamako, em Setembro de 2024, teve como alvo uma escola da polícia militar e o aeroporto internacional, demonstrando a vontade do grupo de atacar a capital.
“Não faz sentido para eles tomarem as cidades de um ponto de vista racional, mas é claro que devemos ter em mente que não estamos a falar apenas de actores racionais aqui e que é possível que decisões irracionais levem a ganhos concretos para eles,” considerou Nasr.
O risco maior pode ser o que os analistas chamam de “fragmentação do Estado,” em que o Estado continua a falhar em fornecer serviços ou segurança a grandes partes do país. Nesse vácuo, os grupos terroristas tornar-se-ão o governo de facto e poderão recrutar combatentes e lucrar com uma economia ilícita. À medida que se expandem, podem ser capazes de estabelecer um “proto-Estado” que atravessa várias fronteiras do Sahel.
Sow e Koné escreveram que no Mali, que se encontra em estado de crise desde 2012, as crianças estão a chegar à idade adulta sem ter conhecido a paz. Os investigadores apontam para jovens combatentes radicalizados do JNIM que atacaram descaradamente uma instalação militar no dia 2 de Junho em Tombuctu.
“A aparência jovem dos agressores no ataque frustrado de 2 de Junho em Tombuctu deve ser um alerta para os estrategas [do Sahel],” escreveram Sow e Koné. “Isso reflecte uma geração de crianças privadas de escolaridade devido à insegurança crónica e cujas famílias não têm acesso a rendimentos, justiça e serviços sociais essenciais. Esses factores são fortes impulsionadores do recrutamento para grupos armados — e não podem ser resolvidos apenas por meios militares.”
Com capitais como Bamako e Ouagadougou agora cercadas por regiões assoladas pelo terrorismo, alguns analistas temem que os grupos terroristas, sobretudo o JNIM, tenham impulso e estejam determinados a continuar avançando.
“Estão a criar um proto-Estado que se estende como um cinto desde o oeste do Mali até à fronteira com o Benin,” Héni Nsaibia, analista sénior para a África Ocidental do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, disse ao The Washington Post. “É uma expansão substancial — até exponencial.”