Em 2024, uma equipa de monitoria das Nações Unidas relatou que a relação entre o grupo terrorista al-Shabaab da Somália e os rebeldes Houthi do Iémen era “transaccional ou oportunista, e não ideológica.”
Num relatório de 2025, a ONU afirmou que esses laços estão a aprofundar-se e representam uma ameaça crescente à segurança nas regiões do Corno de África e do Mar Vermelho.
“O fluxo de armas do Iémen para as áreas controladas pelo al-Shabaab na Somália continuou,” afirmou o relatório de 6 de Fevereiro. “Entre Junho e Setembro (2024), o al-Shabaab recebeu armas, munições e explosivos diversos através dos portos de Marka e Baraawe, em [Lower] Shabelle.
“Estima-se que as armas tenham sido usadas em ataques contra os acampamentos da Missão de Transição da União Africana na Somália, em [Lower] Shabelle, em Setembro e Novembro.”
O presidente somali, Hassan Sheikh Mohamud, culpou os Houthis apoiados pelo Irão, também conhecidos pelo nome Ansar Allah, pela proliferação de armas que alimentou o ressurgimento do al-Shabaab nos últimos meses. O Exército Nacional Somali tem vivido uma frustrante montanha-russa de altos e baixos nas suas batalhas em curso pelo território com os terroristas ligados à al-Qaeda.
A al-Qaeda na Península Arábica (AQAP) estabeleceu um pacto de não-agressão com os Houthis em 2022 e tem trabalhado cada vez mais com eles na transferência de armas e na coordenação de ataques contra as forças governamentais do Iémen desde 2024.
Com alguma facilitação da al-Qaeda global e da AQAP, a aliança entre o al-Shabaab e os Houthis surgiu pragmaticamente do contrabando internacional de armas entre a Somália e o Iémen. O Golfo de Áden separa os países por apenas 280 quilómetros em algumas partes.
“Para a Ansar Allah, as costas porosas da Somália tornaram-se fundamentais para garantir que o grupo tenha acesso aos suprimentos iranianos e ao equipamento chinês necessários para o crescimento do seu programa de drones e mísseis apoiado pelo Irão,” os analistas Ibrahim Jalal e Adnan al-Jabarni escreveram num relatório de 14 de Março para o Carnegie Middle East Center.
Em comparação com o armamento que o al-Shabaab normalmente utiliza, como espingardas de assalto, morteiros e dispositivos explosivos improvisados, os Houthis fornecem acesso a sistemas mais avançados, incluindo drones armados e mísseis terra-ar.
Em troca, o al-Shabaab partilhou a sua rede de inteligência costeira e anos de experiência em pirataria com os Houthis. Um aumento nos ataques marítimos reforçou as finanças de ambos os grupos, alimentando o conflito em ambos os lados do Golfo de Áden.
“A cooperação com o al-Shabaab e a AQAP proporciona aos Houthis mais acesso ao Mar Arábico e ao Oceano Índico Ocidental,” o Centro Africano de Estudos Estratégicos escreveu num artigo de 28 de Maio.
“Além disso, a rede de combatentes, simpatizantes e contrabandistas do al-Shabaab na Somália e no norte do Quénia oferece aos Houthis mais oportunidades de obter carregamentos de armas (muitos dos quais provenientes do Irão) do Oceano Índico e transportá-los em barcos costeiros ou por terra até ao Golfo de Áden, onde têm mais hipóteses de chegar às costas do Iémen.”
Outro sinal da relação cada vez mais complexa entre os grupos surgiu em 2024, quando a AQAP enviou mais de uma dezena de operativos do al-Shabaab ao Iémen para treino em guerra com drones, a fim de expandir as capacidades tácticas do grupo somali, de acordo com o relatório de Fevereiro de 2025 do grupo de monitoria da ONU. O grupo da ONU também observou o lançamento pela AQAP de uma aplicação de comunicações que permite a troca de mensagens exclusivas com o al-Shabaab.
Relatos vindos do Estado semiautónomo da Puntlândia, no nordeste da Somália, sugerem que os rebeldes Houthis estabeleceram bases nas montanhas Golis, ao longo da costa da região de Sanaag.
“Acredita-se que os Houthis operam instalações de desenvolvimento de mísseis nas montanhas Golis,” o Major Abdirahman Warsame, ex-comandante das Forças Especiais Danab da Somália, escreveu num artigo publicado no dia 10 de Abril no Hiiraan Online. “Houve um teste de míssil supostamente lançado pelos Houthis de Harshaw, em Sanaag, para Taleh, na região de Sool — uma distância de 459 quilómetros.
“Os Houthis das montanhas Golis ocultam a sua identidade, fazendo-se passar por militantes do al-Shabaab para enganar e intimidar a população local. Esta táctica tem como objectivo impedir a resistência das comunidades locais, que, de outra forma, poderiam opor-se à sua presença.”
Com os grupos a trabalharem em conjunto para reforçar as suas finanças, tecnologia e capacidade operacional, os especialistas estão a exortar os governos de toda a África Oriental a colaborarem para combater a crescente instabilidade que estes grupos trazem ao Corno de África, ao Mar Vermelho e ao Golfo de Áden.
“Dado que ambos os grupos militantes estão bem entrincheirados nos seus respectivos países de acolhimento, será necessário mais do que uma acção marítima para reduzir significativamente esta ameaça,” recomendou o Africa Center. “Serão também necessários esforços sustentados para reduzir o controlo territorial de cada grupo, visto que estas bases terrestres têm servido de plataforma a partir da qual os actores não estatais têm conseguido lançar ataques no mar, expandir os seus fluxos de receitas e reforçar a sua capacidade militar.”