Quase três décadas após o Egipto lançar o seu primeiro satélite em órbita, a Agência Espacial Africana abriu as suas portas no Cairo com a missão de expandir o papel do continente no espaço.
Sediada na Cidade Espacial Egípcia, a agência, conhecida como AfSA, tem a tarefa de coordenar o trabalho dos vários programas espaciais africanos, bem como garantir o acesso a dados, informações, serviços e produtos derivados do espaço. A agência foi criada pela União Africana (UA) em 2018.
“As actividades espaciais de todo o continente têm sido muito fragmentadas,” afirmou Meshack Kinyua, responsável pela formação em aplicações espaciais da União Africana. “A [agência] … coloca todos os membros da União Africana em pé de igualdade no que diz respeito ao acesso aos dados recolhidos, com base nas suas necessidades.”
As agências espaciais africanas estão a trabalhar com as suas homólogas europeias para formar técnicos e adquirir conhecimentos para construir satélites e processar dados. Os engenheiros senegaleses, por exemplo, desenvolveram o Gaindesat-1A do seu país após cinco anos de formação no Centro Espacial Universitário de Montpellier, em França. O lançamento do pequeno satélite meteorológico em 2024 marcou o início do programa espacial do Senegal.
“O programa espacial africano está numa fase embrionária neste momento”, Kinyua disse num vídeo da União Africana. “Estamos a trabalhar directamente para garantir que os Estados-membros tenham capacidade em termos de infra-estruturas e de desenvolvimento de capital humano.”
Pelo menos 21 países africanos têm programas espaciais. A maioria deles começou nos últimos 25 anos, com a queda dos custos de desenvolvimento e lançamento de satélites. Desde que o Egipto lançou o NileSat-1 em 1998, 19 países africanos colocaram 67 satélites em órbita, de acordo com a SpaceHubs Africa. O Botswana tornou-se a mais recente nação espacial do continente quando lançou o BotSat-1 no dia 15 de Março.
O BOTSAT-1 foi desenvolvido pela Universidade Internacional de Ciência e Tecnologia do Botswana com o objectivo de melhorar a agricultura, monitorar catástrofes e acompanhar as condições meteorológicas.
Os países africanos esperam triplicar o número de satélites em órbita nos próximos anos. Os defensores do espaço consideram o papel crescente de África além da atmosfera vital para o futuro, seja a tecnologia utilizada para prever o tempo, criar comunicações seguras ou rastrear os movimentos de terroristas nas fronteiras porosas do continente.
“O espaço é fundamental para a segurança nacional dos países africanos de uma forma que vai muito além das operações de defesa tradicionais,” Temidayo Oniosun, director-geral da Space in Africa, disse num webinar do Centro Africano de Estudos Estratégicos sobre o crescente programa espacial africano em 2024. Para esse fim, a missão da Agência Espacial Africana assenta em quatro pilares: observação da Terra, comunicações por satélite, navegação e posicionamento, astronomia e ciências espaciais.
Kinyua afirma que o desenvolvimento do programa espacial africano ajudará o continente a assumir um papel mais importante na investigação internacional sobre a Terra e o espaço. Actualmente, os investigadores africanos contribuem com menos de 1% da base de conhecimento científico global, observou ele.
Embora os países africanos estejam ocupados a desenvolver os seus próprios satélites, ainda dependem da ajuda internacional para colocá-los em órbita, pois não há nenhum local de lançamento no continente. Uma vez em órbita, os países africanos também dependem de entidades estrangeiras para rastreá-los e monitorar as suas condições.
Apesar disso, novos programas espaciais criam o potencial para o continente se tornar um importante participante na indústria espacial, de acordo com analistas.
Kinyua vê o crescente programa espacial africano como uma forma de envolver os estudantes africanos de matemática e ciências e impedi-los de procurar emprego na Europa, Ásia ou América.
“Os africanos estão a migrar para trabalhar em programas espaciais noutros lugares,” Kinyua disse num vídeo da União Africana. “Estamos a perder em termos de dividendos neste sector.”