Especialistas afirmam que o aumento de ataques de grupos terroristas na fronteira sudoeste do Mali indica uma intenção de expandir-se através da fronteira para o Senegal.
Com sede no Mali e apoiada pela al-Qaeda, a coligação de grupos terroristas Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) aumentou os seus ataques em sete vezes entre 2021 e 2024 na região de Kayes, no Mali, de acordo com um novo relatório do grupo de reflexão Timbuktu Institute.
“A JNIM aumentou exponencialmente as suas actividades em Kayes, região fronteiriça do Mali com a Guiné, Mauritânia e Senegal,” afirma o instituto no seu relatório de Maio de 2025. “Estas actividades incluem ataques complexos às forças de segurança, coacção de civis e economia criminosa.
“O Senegal apresenta vulnerabilidades que a JNIM pode explorar, incluindo uma fronteira porosa, falta de consciência pública sobre questões de segurança, desafios socioeconómicos prementes e a disseminação do salafismo como matriz ideológica. A fronteira do Senegal com o Mali já é amplamente explorada por contrabandistas, e a sua geografia torna mais difícil a sua segurança.”
Grupos terroristas têm recrutado no leste do Senegal desde o início da insurgência no Mali em 2012, o que aumenta a possibilidade de estabelecimento de células locais no Senegal, alerta o analista Liam Carr.
“Há indicadores de que a JNIM tem capacidade e intenção de operar no leste do Senegal,” escreveu num relatório de 2024 para o Africa File do Critical Threats Project. “As autoridades senegalesas desmantelaram uma célula de apoio à JNIM no lado senegalês da fronteira em 2021, indicando o desejo de, pelo menos, estabelecer uma base de apoio na retaguarda no Senegal.”
A JNIM infiltrou-se em sectores económicos importantes na região de Kayes, no Mali, incluindo a mineração de ouro, a pecuária e a exploração florestal, que dependem do comércio com o Senegal e a Mauritânia. Estes interesses ajudam a financiar o estabelecimento de redes transfronteiriças da JNIM nos países vizinhos do Mali a oeste.
“O grupo está ciente de que pode então utilizar estas redes para facilitar a circulação de pessoas e recursos afiliados para a Mauritânia e o Senegal,” afirma o relatório. “Embora a sua prioridade imediata seja utilizar os espaços mauritanos e senegaleses para fins económicos, a fim de facilitar o financiamento das suas actividades e o recrutamento, a JNIM irá provavelmente tentar expandir gradualmente o seu controlo territorial no futuro.”
As forças armadas do Senegal e a sua Gendarmaria Nacional estabeleceram uma forte parceria de colaboração com os Estados Unidos que remonta à década de 1980. Através do seu Programa de Assistência Antiterrorista, os EUA financiaram em 2018 a construção do Centro Regional de Treino Táctico em Thiès, cerca de 70 quilómetros a leste da capital, Dakar.
A formação nas instalações inclui as forças especiais senegalesas e as suas homólogas da África Ocidental.
O Senegal também aderiu ao Programa Global de Alvos Vulneráveis das Nações Unidas em Dezembro de 2024, o que lhe permite receber assistência técnica do Gabinete da ONU contra o Terrorismo para reforçar a segurança e a resiliência das infra-estruturas críticas e dos “alvos fáceis” contra o terrorismo.
No entanto, a ameaça das organizações militantes vai além da violência. Grupos terroristas como a JNIM também fazem um esforço sistemático para espalhar a sua ideologia radical, disse o Instituto Timbuktu. O grupo terrorista usa o desemprego e as queixas étnicas para recrutar jovens.
“A JNIM já explorou vulnerabilidades semelhantes em todo o Sahel,” afirma o relatório. “O Senegal não deve ser considerado uma excepção duradoura sem esforços de prevenção e construção da resiliência da comunidade.”