Altos funcionários das Nações Unidas estão a alertar para as consequências de não proteger as mulheres e os seus direitos em zonas de conflito, no meio de recentes decisões de encerrar ou reduzir as missões de manutenção da paz e as missões políticas especiais.
Sima Bahous, directora-executiva da ONU Mulheres, que defende a igualdade de género em todo o mundo, disse aos embaixadores numa reunião do Conselho de Segurança em Agosto de 2024 que alguns governos estão a cortar na defesa apesar do aumento dos conflitos e da insegurança.
“É contra-intuitivo que, face a níveis de conflito e violência sem precedentes, o número de efectivos de manutenção da paz tenha caído quase para metade, de 121.000 em 2016 para cerca de 71.000 em 2024,” lamentou Bahous. Salientou a crescente violência contra as mulheres e as raparigas, acrescentando que as guerras estão a ser travadas com um claro desrespeito pelas suas vidas e direitos.
Os funcionários da ONU referiam-se ao Mali, onde a missão de manutenção da paz da ONU, MINUSMA, foi encerrada em Dezembro de 2023 por insistência das autoridades militares de transição. Antes da sua partida acelerada, o país tinha assistido a um progresso “transformador” que reforçou a participação política das mulheres, segundo as autoridades.
Os funcionários também manifestaram a sua preocupação com as recentes partidas de missões dos principais focos de conflito, que deram origem a vazios de segurança e aumentaram a vulnerabilidade das mulheres e raparigas. As retiradas diminuíram a capacidade da ONU para apoiar os parceiros nacionais no combate à violência sexual relacionada com conflitos em domínios como a investigação, a apresentação de relatórios e a assistência aos sobreviventes.
“Tememos um futuro de atrocidades crescentes contra as mulheres, a sua marginalização cada vez maior da tomada de decisões e, em última análise, um fracasso da comunidade internacional,” desabafou Bahous. “Essa perspectiva deveria ser, e estou confiante que é, inaceitável para todos nós.”