O abate de um drone maliano na fronteira com a Argélia aumentou as tensões entre os dois países, que adoptam abordagens diferentes em relação aos grupos Tuaregues que vivem ao longo da fronteira comum.
As forças argelinas abateram o drone turco Akinci no início de Abril, depois de este ter cruzado o espaço aéreo argelino perto da comunidade fronteiriça de Tin Zaouatine, uma cidade remota no interior do Sahara que é uma base dos rebeldes Tuaregues que lutam contra a junta que governa o Mali. As autoridades malianas afirmam que o drone caiu 10 quilómetros dentro da sua fronteira.
Tin Zaouatine foi onde, em Julho de 2024, os Tuaregues mataram 47 soldados malianos e 84 mercenários russos pertencentes ao antigo Grupo Wagner, agora conhecido como Africa Corps, que lutavam com as forças malianas.
A disputa pelo drone é a mais recente escalada nas tensões entre a Argélia e o Mali, que começaram com os golpes de Estado no Mali em 2020 e 2021. As relações deterioraram-se quando os governantes militares do Mali convidaram mercenários russos para entrar no país em 2021 para ajudar a combater os rebeldes Tuaregues, que o Mali classificou como terroristas.
Os especialistas acreditam que o Mali acolhe entre 1.000 e 1.500 mercenários russos. A junta chama os mercenários de instrutores, mas, como se viu em Tin Zaouatine, muitas vezes, eles juntam-se ao exército nas operações militares.
O analista Constantin Gouvy, do Instituto Clingendael, disse à Al Jazeera que a estratégia dos mercenários russos contra suspeitos de terrorismo no Mali caracteriza-se pela “violência gratuita contra civis.”
A Argélia opõe-se ao uso de mercenários russos pelo Mali e à decisão da junta de tratar os Tuaregues como terroristas. A Argélia teme que os confrontos armados do Mali com os Tuaregues na região de Tin Zaouatine — confrontos muitas vezes agravados pela brutalidade dos mercenários russos — possam levar a uma expansão dos combates para a Argélia, que tem a sua própria população Tuaregue.
Antes de a junta maliana derrubar o seu governo, a Argélia passou mais de uma década a mediar entre o governo maliano democraticamente eleito e os rebeldes Tuaregues. Essas negociações resultaram nos Acordos de Argel, em 2015. A junta que governa o Mali retirou-se dos acordos em 2023. Acusa a Argélia de abrigar os mesmos grupos Tuaregues que a junta combate.
Recentemente, a Argélia destacou tropas ao longo da sua fronteira com o Mali para impedir a infiltração de militantes armados vindos do Mali e dos seus vizinhos da Aliança dos Estados do Sahel (AES), Burquina Faso e Níger.
O Mali considerou premeditada a destruição do drone. Num comunicado conjunto, os países da AES afirmaram que a acção da Argélia contra o drone de reconhecimento “impediu a neutralização de um grupo terrorista que planeava actos terroristas contra a AES.”
“O conselho de líderes da AES considera o abate de [um] drone operado pelas forças armadas do Mali como um acto hostil contra todos os membros da AES e como uma acção traiçoeira que tende, de alguma forma, a fomentar o terrorismo e desestabilizar a região,” o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Mali, Mali Abdoulaye Diop, disse num comunicado.
Em resposta ao incidente com o drone, o Mali e os seus aliados da AES retiraram os seus embaixadores da Argélia. A Argélia seguiu o exemplo. Alguns dias depois, a Argélia e o Mali fecharam o seu espaço aéreo um ao outro.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) apelou à calma em meio às tensões crescentes entre a Argélia e o Mali. O Mali e os seus aliados da AES abandonaram a CEDEAO em Janeiro, mas os países da CEDEAO que fazem fronteira com a AES permanecem em alerta, pois a violência que permeia o Sahel ameaça propagar-se para o sul.
Os Estados-membros da CEDEAO exortaram a Argélia e o Mali a “abrandar a tensão, promover o diálogo e utilizar mecanismos regionais e continentais para resolver as divergências.”