O al-Shabaab da Somália e os rebeldes Ansar Allah do Iémen estabeleceram uma aliança que ameaça desestabilizar mais a região do Mar Vermelho e partes do Corno de África.
No centro da aliança está uma equação simples: o al-Shabaab tem dinheiro e precisa de armas para combater o governo da Somália. Os rebeldes Ansar Allah, conhecidos como Houthis, têm armas e precisam de dinheiro para operar em partes do noroeste do Iémen, onde são o governo de facto.
Os dois grupos formaram uma aliança, apesar das suas diferentes posições religiosas e políticas. Os membros do al-Shabaab seguem o Islão sunita e são filiados na al-Qaeda. Os Houthis são xiitas, tal como o seu patrono, o Irão, que lhes forneceu armas ligeiras e de pequeno calibre, em violação de um embargo de armas imposto pelas Nações Unidas ao Iémen. Em 2020, a Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional informou que algumas dessas armas acabaram na Somália.
O al-Shabaab e os Houthis estão a fazer causa comum para perturbar a navegação no Mar Vermelho e no Oceano Índico ocidental. Um relatório da ONU de Fevereiro confirmou que o pessoal do al-Shabaab e dos Houthis se reuniu na Somália em Julho e Setembro de 2024. Durante essas reuniões, os Houthis concordaram em fornecer armas e assistência técnica ao al-Shabaab em troca do aumento da pirataria e dos raptos com pedido de resgate no Golfo de Áden e ao largo da costa da Somália.
“Estes relatórios lançaram luz sobre negociações em curso em que os Houthis estão alegadamente a facilitar o contrabando de armamento avançado, incluindo drones e mísseis terra-ar, para o al-Shabaab,” a investigadora Zeinab Mostafa Ruwayha escreveu recentemente para o Yemen & Gulf Center for Studies.
Há também provas de que engenheiros Houthis visitaram o al-Shabaab para ajudar o grupo a fabricar armas e bombas avançadas, acrescentou Ruwayha.
O al-Shabaab vê nos drones fabricados pelos Houthis e nas armas fabricadas pelo Irão uma forma de recuperar o controlo da costa, que o grupo perdeu após uma série de derrotas do Exército Nacional da Somália e dos seus aliados internacionais. Essas derrotas reduziram a capacidade de angariação de fundos do al-Shabaab. Segundo os especialistas, os Houthis vêem a sua aliança com o al-Shabaab como uma forma de projectar a sua influência e, por extensão, a influência do Irão através do Mar Vermelho e no Corno de África.
Desde o final de 2023, os Houthis lançaram mísseis e drones contra mais de 130 navios comerciais que transitavam no ponto de estrangulamento do estreito de Bab el-Mandeb, onde o Mar Vermelho encontra o Golfo de Áden. Os ataques fizeram com que o transporte marítimo através do Mar Vermelho caísse para cerca de metade entre Novembro de 2023 e Novembro de 2024, de acordo com a página de internet de notícias sobre transporte marítimo Lloyd’s List.
Além de receberem mísseis e outras armas do Irão, os Houthis também desenvolveram o seu próprio sistema doméstico de fabrico de drones, que produz drones aéreos e aquáticos capazes de realizar tudo, desde a recolha de informações a ataques kamikaze.
Por seu lado, os combatentes do al-Shabaab têm-se revelado hábeis a angariar até 100 milhões de dólares por ano através da extorsão e do apoio de empresários com os mesmos interesses.
Apesar de se ter tornado uma fonte de apoio financeiro para outros grupos aliados da al-Qaeda em todo o mundo, o al-Shabaab tem sofrido reveses militares a nível interno. Perdeu o seu ponto de apoio costeiro na região de Galmudug, na costa central da Somália, em 2023, e perdeu território para o grupo Estado Islâmico na costa norte da Puntlândia.
“Essas tecnologias (dos Houthis) são de imenso significado para o al-Shabaab, que acredita que o alinhamento com os Houthis ajudará a mitigar os ganhos regionais obtidos pelas forças armadas somalis nos últimos dois anos,” escreveu Ruwayha.