EQUIPA DA ADF
A cerca de 1.000 quilómetros a leste de Moscovo, a Zona Económica Especial de Alabuga, na região do Tartaristão, no sul da Rússia, sofreu uma expansão dramática das suas instalações secretas de fabrico de drones.
Uma das chaves da operação, que é fundamental para a guerra do Kremlin contra a vizinha Ucrânia, tem sido a utilização de mulheres africanas na força de trabalho. Mas muitas das mulheres dizem que foram enganadas e que não lhes é permitido abandonar estes empregos perigosos.
Muitos dos países de origem dos participantes africanos desconhecem a sua situação, segundo o fundador do Instituto para a Ciência e Segurança Internacional, David Albright, que expôs a situação num relatório de 2024.
“Em algumas das primeiras investigações sobre este assunto, os recrutadores em África não sabiam de nada quando lhes perguntaram para onde iam estas mulheres,” disse à Voz da América. Acrescentou que alguns países foram informados e espera que haja “uma reacção por parte desses governos sobre para que exactamente [a Alabuga] está a recrutar estas mulheres.”
Construídas em 2023, as instalações de Alabuga pertencem ao governo russo e foram financiadas em parte pelo Ministério da Defesa. A Rússia aumentou substancialmente os seus ataques com drones nos últimos meses, tendo os ataques aumentado de cerca de 400 em Maio de 2024 para mais de 2.400 em Novembro, segundo a CNN.
Antes de ser removida de várias plataformas de redes sociais em 2024, uma campanha de marketing online denominada “Alabuga Start” partilhou centenas de vídeos de recrutamento dirigidos a mulheres africanas com a promessa de um emprego bem remunerado e de um voo gratuito para a Rússia.
O verdadeiro trabalho: fabricar drones militares Shahed-136, de concepção iraniana, para a guerra contra a Ucrânia.
Cerca de 200 mulheres africanas, a maioria com idades compreendidas entre os 18 e os 22 anos, trabalham na fábrica de drones de Alabuga, segundo a The Associated Press. São oriundas do Quénia, da Nigéria, do Ruanda, da Serra Leoa, do Sudão do Sul e do Uganda. A AP falou com quatro mulheres africanas para um inquérito que publicou em Outubro de 2024. Uma delas, cujo trabalho incluía a montagem de estruturas de drones, apelidou o emprego de “armadilha,” acrescentando que o custo do alojamento, do bilhete de avião, dos cuidados médicos e das aulas da língua russa eram deduzidos do seu salário.
“As mulheres africanas são maltratadas como burros, são escravizadas,” disse.
Numa análise de 2024, o Instituto Robert Lansing de Estudos sobre as Ameaças Globais e as Democracias acusou a Rússia de explorar “não só os recursos naturais de África, mas também a sua população — vítima de crises económicas — através de enganos e restrições à sua liberdade.”
“A exploração das mulheres africanas desta forma está de acordo com as conclusões anteriores sobre as políticas coloniais da Rússia em África. As acções da Rússia estão a colmatar a falta de mão-de-obra causada pela mobilização de homens para a guerra na Ucrânia, uma guerra também marcada por motivações coloniais.”
Albright disse que as campanhas de recrutamento do Kremlin continuam, tendo os representantes de Alabuga visitado recentemente Madagáscar, Serra Leoa e Zâmbia, onde assinaram acordos com organizações locais. A VOA informou em Dezembro de 2024 que a maioria dos países africanos envolvidos não interveio nem deu uma resposta oficial. Alguns até parecem ter ligações com o programa de recrutamento russo.
O Ministério Federal da Educação da Nigéria partilhou um documento online anunciando a abertura de inscrições para o Alabuga Start em 2023. O Ministério da Educação e do Desporto do Uganda partilhou um anúncio semelhante. A VOA encontrou dois ficheiros que parecem ser cartas oficiais dos ministérios dos governos do Mali e do Burquina Faso anunciando que o Alabuga Start tinha reservado lugares para participantes desses países em 2023.
Porque as cidadãs africanas foram apanhadas na máquina de guerra russa, Albright lançou um aviso aos seus países de origem contra a inacção.
“Tem sido um programa muito enganador, no sentido em que as candidatas não sabiam que iam trabalhar essencialmente numa empresa sancionada pelos EUA [e] pela Europa que fabrica drones que estão a ser utilizados com efeitos devastadores contra alvos civis ucranianos, alvos energéticos, centrais eléctricas,” disse à VOA.
“Nesse sentido, são cúmplices de um crime, de um crime internacional, visto que a guerra contra a Ucrânia é ilegal. Estão a envolver-se no fabrico de drones que estão a ser utilizados contra alvos civis e não apenas contra alvos militares.”