EQUIPA DA ADF
Após uma batalha recente entre os aliados das Forças Armadas do Sudão (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares, os combatentes encontraram um esconderijo de documentos inesperados. Entre eles estavam o passaporte, a carta de condução e outros documentos pertencentes a um mercenário colombiano.
Num vídeo publicado na plataforma social X, antigo Twitter, um homem de uniforme militar fala em árabe enquanto regista cada documento, todos eles pertencentes a um cabo colombiano de 33 anos nascido nos territórios palestinos.
“Estas são as pessoas que nos estão a matar”, diz um homem no vídeo.
Cerca de 160 combatentes colombianos faziam parte de uma caravana que viajava da Líbia para o Sudão em meados de Novembro, quando foram atacados pela Força Conjunta dos Movimentos Armados do Darfur, alinhada com as SAF. Os combates feriram o cabo, cujos documentos os combatentes da Força Conjunta divulgaram através do seu vídeo.
Os combatentes colombianos que foram atacados tinham viajado oito dias através do deserto de Benghazi, na Líbia, para apoiar as RSF, de acordo com o site de notícias La Silla Vacía, com sede na Colômbia.
As SAF e as RSF passaram a maior parte do ano de 2024 em luta pelo controlo da cidade de el-Fasher e do Darfur do Norte, a única parte da região do Darfur que ficou fora das mãos das RSF desde o início da guerra em Abril de 2023.
La Silla Vacía obteve gravações de vídeo e áudio adicionais dos mercenários colombianos e falou directamente com alguns deles. Os combatentes afirmaram que tinham sido enviados para o Sudão contra a sua vontade. Disseram que tinham sido contratados por uma empresa colombiana, a International Services Agency A4SI (Academy for Security Instruction), para serem guardas de segurança em campos petrolíferos nos Emirados Árabes Unidos. Depois de chegarem aos EAU, ficaram a saber que seriam enviados para a Líbia. A partir daí, foram enviados para o Sudão para se juntarem às RSF.
Um grupo de mercenários colombianos foi atacado em Outubro, a pouca distância de el-Fasher. Entre os mortos estava Diego Edison Hernández, cuja família disse à publicação colombiana Semana que uma empresa militar privada o tinha recrutado para ser piloto de drones. Pouco mais se sabia sobre a sua morte ou quando o seu corpo seria devolvido à Colômbia.
Segundo a revista Military Watch, os mercenários colombianos foram financiados pelos EAU, que continuam aliados das RSF e, segundo as Nações Unidas, continuam a fornecer-lhe armas e apoio, apesar das declarações oficiais em contrário.
Os documentos descobertos pelos combatentes da Força Conjunta confirmam que os mercenários colombianos chegaram aos EAU em Outubro. No início de Dezembro, as SAF informaram que drones suicidas tinham matado mais de 20 colombianos na região de Darfur.
O Sudão é a última zona de guerra em que mercenários colombianos foram atacados. Também combateram na Ucrânia, no Iémen e no Haiti, onde participaram no assassinato do presidente haitiano, Jovenel Moise, em 2021.
Os mercenários colombianos são apenas os últimos assassinos profissionais a juntarem-se à brutal batalha pelo Sudão. Outros mercenários vieram da República Centro-Africana, do Chade e do Níger. O Grupo Wagner da Rússia, actualmente conhecido como Africa Corps, forneceu armas às RSF através da fronteira líbia no início da guerra.
Especialistas em recrutamento de mercenários disseram ao jornal espanhol El País que a experiência dos colombianos é típica de uma nova geração de pequenas organizações que, muitas vezes, se apresentam como empresas de segurança e não como contratados militares.
“O último elo da cadeia são quase sempre aqueles conhecidos na indústria como ‘nacionais de países terceiros,’ que vêm da Colômbia, Peru, El Salvador, Somália ou Nigéria,” Ulrich Petersohn, especialista em recrutamento de mercenários da Universidade de Liverpool, disse ao El País. “Sem passaportes sólidos ou dinheiro para bilhetes de voo, estão totalmente dependentes do que as agências querem fazer com eles.”
Para os soldados colombianos reformados, os contratos podem representar até cinco vezes o seu salário de reforma, o que torna a oferta tentadora.
Os dirigentes colombianos lamentaram a presença de mercenários colombianos no Sudão. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luis Gilberto Murillo, prometeu às autoridades sudanesas que a Colômbia garantiria o regresso dos seus cidadãos que combatem no Sudão.
A Colômbia assinou recentemente a convenção das Nações Unidas de 1989 que proíbe o recrutamento e o treino de mercenários, tornando-se assim num dos 30 países que o fizeram. O Congresso da Colômbia aprovou recentemente uma medida que proíbe as organizações que exploram militares reformados.
Mario Urueña, especialista em segurança global da Universidad del Rosario, em Bogotá, disse ao El País que a convenção da ONU, embora não tenha um apoio generalizado, “vai na direcção certa, que é criminalizar os líderes que exploram as pessoas.”