EQUIPA DA ADF
O Quénia e o Ruanda estão a emergir como os principais países africanos no desenvolvimento da tecnologia dos drones, uma vez que os veículos aéreos não tripulados (VANT) desempenham um papel cada vez mais importante na vida quotidiana do continente.
Embora os drones tenham tido impacto nos campos de batalha africanos, estão também a tornar-se ferramentas fundamentais na agricultura, nos cuidados de saúde e nas telecomunicações, sobretudo em zonas remotas onde as infra-estruturas são limitadas.
O Ruanda, por exemplo, utiliza drones para entregar sangue a hospitais e clínicas longe dos centros urbanos do país.
“Assistimos a muitas melhorias em termos de prestação de cuidados de saúde, graças aos drones. Principalmente pelo facto de podermos salvar vidas,” Paula Ingabire, Ministra das Tecnologias da Informação e da Comunicação do Ruanda, disse ao Africa Renewal das Nações Unidas. “Normalmente, demorávamos cerca de três horas a distribuir sangue e, agora, com a utilização de drones, esse tempo desceu para 26 minutos.”
O Ruanda começou a utilizar drones como instrumento de saúde pública durante a pandemia da COVID-19. Nessa altura, as autoridades de saúde do Ruanda trabalharam com a empresa americana Zipline para lançar um sistema que utilizava VANT de asa fixa para recolher amostras e administrar tratamentos. O sucesso do Ruanda levou o Gana a adoptar também o sistema da Zipline.
Durante os primeiros dias da pandemia, drones de todos os tipos desempenharam papéis fundamentais na emissão de avisos de saúde e na desinfecção de espaços públicos em todo o continente. Desde então, a utilização civil de drones tem-se expandido à medida que as empresas africanas reivindicam a tecnologia, desenvolvendo VANT de fabrico africano.
Empresas como a Drone Africa Service, do Níger, a Zenvus, da Nigéria, a Charis UAS, do Ruanda, e a i-Drone Services Limited, da Zâmbia, estão a explorar formas de desenvolver e utilizar tecnologia de drones em África para resolver problemas africanos. Em 2023, havia mais de 300 operadores de drones licenciados só no Quénia.
“O negócio dos drones é, de facto, bastante significativo,” Tendai Pasipanodya, cofundador da Drones Doing Good Alliance, com sede no Quénia, disse recentemente à Africa 54.
A maioria das empresas são pequenas e ainda precisam de apoio externo para aumentar as suas capacidades, disse Pasipanodya. O seu grupo está a trabalhar no sentido de simplificar os regulamentos relativos aos drones para impulsionar a indústria. Também trabalhou com várias empresas internacionais para desenvolver o seu próprio drone Sumukai para mostrar o que os drones podem fazer pelo sector agrícola do Quénia.
Ao ritmo a que está a crescer, a indústria dos drones em África deverá criar mais de 200.000 postos de trabalho até 2030, de acordo com o Banco Mundial. Alguns desses empregos estão a surgir no Quénia, onde a Agência Espacial do Quénia e a Autoridade de Aviação Civil do Quénia estão a trabalhar em conjunto para abrir novos caminhos para a tecnologia dos drones em África.
As autoridades quenianas estão a trabalhar com a subsidiária do fabricante europeu de aviões Airbus, AALTO, para desenvolver uma primeira instalação de drones em Laikipia, que servirá de base para os drones Zephyr, que efectuarão voos de longa duração na estratosfera.
Os funcionários da AALTO afirmam que o terreno aberto e o clima temperado de Laikipia fazem dela a base ideal para o lançamento dos Zephyrs durante a maior parte do ano. Os drones de asa fixa, movidos a energia solar, precisam de pistas longas e planas para descolar e aterrar. Uma vez no ar, os drones podem servir como retransmissores de comunicação e plataformas de vigilância de alta resolução, entre outras coisas.
“O Quénia é também um pioneiro económico verde e de alta tecnologia em África, que é altamente atractivo para o investimento directo estrangeiro com uma força de trabalho qualificada,” Tom Guilfoy, vice-presidente da AALTO Port no Quénia, disse à Africa Renewal.
As autoridades quenianas reservaram uma parte da Konza Technopolis, um centro de inovação em desenvolvimento entre Nairobi e Mombaça, para testar novas tecnologias de drones. A Konza Technopolis acolheu a Cimeira Elevate Africa UAS em meados de 2024 para explorar as oportunidades e os desafios da tecnologia dos drones em África.
À medida que a tecnologia dos drones evolui, alguns especialistas esperam que os países africanos utilizem drones para ultrapassar as más estradas e as redes eléctricas pouco fiáveis, da mesma forma que utilizaram a tecnologia dos telemóveis para ultrapassar a falta de telecomunicações terrestres.
“A África está à beira de uma revolução dos drones,” Mercy Makau, fundadora do Young Aviators Club of Africa do Quénia, disse recentemente à CNBC Africa.