EQUIPA DA ADF
Uma das questões mais prementes que o novo Presidente do Gana, John Dramani Mahama, tem de resolver é a de conceber e implementar uma abordagem coerente e multifacetada à ameaça crescente dos grupos terroristas que se deslocam do Sahel para o sul.
Mahama, que ocupou o mesmo cargo entre 2012 e 2017, fez da crise económica do país a sua plataforma dominante, e os especialistas há muito que apelam a um maior investimento no norte para complementar a abordagem militar do Gana no sentido de impedir os militantes de ganharem terreno. É originário de Damongo, no norte do Gana, o que suscita a esperança de que possa restaurar a paz na região.
“As expectativas dos ganeses são muito elevadas e não podemos dar-nos ao luxo de os desiludir,” afirmou Mahama no seu discurso de vitória. “Os nossos melhores dias não estão trás. “Os nossos melhores dias estão à nossa frente. Para a frente sempre, para trás nunca.”
Os militantes extremistas do Sahel já se estabeleceram no interior da porosa fronteira de 600 quilómetros do Gana com o Burquina Faso e é provável que estejam a recrutar entre as comunidades marginalizadas do norte.
“O risco de repercussão é elevado,” Adam Bonaa, analista de segurança do Instituto de Segurança, Protecção, Política e Investigação, com sede em Acra, disse à revista The Africa Report.
Nos últimos anos, a jornalista Nosmot Gbadamosi tem feito reportagens no norte do Gana e disse ter observado “um aumento alarmante da criminalidade e da violência” nas comunidades fronteiriças remotas.
“No entanto, os jovens com quem falei disseram que se envolveram em redes criminosas para contrabandear ouro, madeira, armas e maquinaria através do Burquina Faso e do Togo, porque não tinham emprego e eram pobres,” escreveu para a revista Foreign Policy, no dia 20 de Novembro. “As suas motivações eram financeiras e não ideológicas. De facto, a fome foi o factor preponderante.”
Os especialistas em segurança alertaram para o facto de o governo ter de aumentar a sua presença no norte do país com serviços para combater a pobreza e o desemprego generalizados, que atingiram quase 15% em todo o país. De acordo com o World Data Lab, cerca de 3,5 milhões de homens e 3,3 milhões de mulheres no Gana encontram-se em situação de pobreza extrema, definida como um limiar de vida igual ou inferior a 2,15 dólares por dia.
Embora as forças armadas do Gana sejam bem conceituadas, não podem impedir sozinhas a propagação de grupos extremistas violentos. O analista R. Maxwell Bone alertou para o facto de as comunidades rurais estarem particularmente expostas à expansão de grupos extremistas.
“No Gana, os grupos afiliados ao JNIM e ao Estado Islâmico estabeleceram-se como nós-chave no comércio ilícito de ouro, uma actividade económica importante no norte do país,” escreveu R. Maxwell Bone numa análise de Setembro de 2024 para a revista Foreign Policy. “A menos que a abordagem militarizada seja substituída por uma abordagem que dê ênfase à mitigação da exclusão social que tornou as comunidades vulneráveis ao recrutamento de extremistas violentos, a situação de segurança continuará a deteriorar-se.”
Em Março de 2024, os Estados Unidos anunciaram uma ajuda de 100 milhões de dólares para apoiar a prevenção de conflitos e os esforços de estabilização no Gana, Benin, Costa do Marfim, Guiné e Togo, que fazem fronteira com os focos do terrorismo do Sahel no Burquina Faso, Mali e Níger. A União Europeia também forneceu assistência militar em 2024 para reforçar a defesa do Gana contra a radicalização.
A cerca de 4 quilómetros da fronteira norte do Gana com o Burquina Faso, a cidade de Bawku encarna de forma dramática os desafios internos do país. Hospitais, bancos e escolas foram encerrados, à medida que se intensificavam os ataques mortais entre os grupos étnicos Kusasi e Mamprusi.
“A ilegalidade de Bawku oferece um terreno fértil para a sua expansão,” disse Bonaa. “As redes terroristas do Sahel vêem qualquer vazio como uma oportunidade.”
Mahama Ayariga, um deputado local, está seriamente preocupado com o facto de Bawku, tal como tantas outras comunidades fronteiriças, necessitar urgentemente de uma intervenção governamental e militar.
“A violência aqui é de partir o coração,” disse ao The Africa Report. “Se isto não for resolvido rapidamente, Bawku tornar-se-á o elo mais fraco do Gana na luta contra o terrorismo.”