EQUIPA DA ADF
Drones militares sobrevoaram o céu do meio-dia de Outubro sobre a cidade etíope de Mehalganat, na volátil região de Amhara, antes de destruírem vários edifícios de um posto de saúde.
Os residentes afirmaram que o ataque das forças governamentais matou oito pessoas, incluindo uma criança de 9 anos, um homem de 70 anos e o farmacêutico da clínica. O ataque aéreo durou quatro dias.
“Quando o drone chegou, parecia um abutre,” disse uma testemunha ocular à BBC, sob anonimato, por medo de repercussões. “Deixou cair algo explosivo e encontrámos sete corpos juntos.”
Os ataques com drones, os bombardeamentos de artilharia, as execuções extrajudiciais e as detenções arbitrárias tornaram-se um comuns nas cidades, vilas e aldeias da região de Amhara.
A Associação Amhara da América documentou 24 ataques aéreos e com drones em 17 incidentes separados entre 25 de Setembro e 16 de Outubro, matando 87 pessoas e ferindo 37.
Os combates na segunda maior região da Etiópia intensificaram-se desde que a Força de Defesa Nacional da Etiópia (ENDF) lançou uma ofensiva no final de Setembro. A milícia de etnia Amhara, conhecida como Fano, está empenhada na insurgência armada.
“Acreditamos que estamos a meses de remover [o governo federal] do poder,” Asres Mare Damtie, um líder Fano do distrito de Gojam, em Amhara, disse à revista The Economist num artigo de 27 de Outubro.
Os peritos duvidam que a milícia descentralizada tenha essa capacidade, visto que não conseguiu controlar nenhuma das grandes cidades, mas reconhecem que a Fano controla grande parte da vasta paisagem rural de Amhara.
Damtie, que publica frequentemente nas redes sociais, apelidou a luta de Fano de “luta pela sobrevivência” do povo Amhara.
“A força inimiga atacou Achefer com vários morteiros e mísseis antitanque,” escreveu no Facebook sobre uma batalha de 30 de Outubro. “O exército invasor, que utilizou a sua força aérea em todo o seu potencial, destruiu aldeias rurais com ataques aleatórios de jactos.
“Leais ao povo, imunes aos ataques de jactos e drones, criámos uma geração destemida.”
Em muitos aspectos, o fim de um conflito militar interno na Etiópia provocou o início de outra guerra civil semelhante.
Os Amhara foram os principais apoiantes do Primeiro-Ministro Abiy Ahmed na guerra de dois anos do seu governo contra as Forças de Libertação do Povo de Tigré. Esperavam também manter o controlo do território disputado que eles e os tigrenhos há muito reivindicam.
Mas Abiy assinou o Acordo de Paz de Pretória com a região de Tigré em Novembro de 2022 sem a participação dos Amhara, o que provocou um sentimento generalizado de traição.
O investigador político Farouk Hussein Abu Deif afirmou que a crise na região de Amhara tem implicações mais vastas no Corno de África, visto que as tropas da Eritreia continuam presentes em ambos os lados da fronteira norte da região de Tigré.
“Isso constitui um novo desafio para o governo de Ahmed, com receios acrescidos de uma repetição do cenário de guerra de Tigré em Amhara, que poderá resultar numa grave crise humanitária, em desafios económicos e em relações etíopes tensas com várias potências regionais, incluindo a Eritreia e a Somália,” escreveu na edição de 14 de Novembro do jornal egípcio Al-Ahram Weekly.
“A Etiópia receia a cooperação entre as milícias Fano e a Eritreia, com as milícias a ameaçar a estabilidade territorial, a soberania e a unidade da Etiópia.”
Tal como fez no conflito de Tigré, o governo de Abiy respondeu a outra ameaça interna com uma força militar devastadora.
“Os assassinatos brutais de civis pelas forças armadas etíopes em Amhara desmentem as alegações do governo de que está a tentar trazer a lei e a ordem para a região,” Laetitia Bader, directora-adjunta para África da Human Rights Watch, disse num comunicado no início deste ano.
“Desde o início dos combates entre as forças federais e as milícias Fano, os civis estão mais uma vez a suportar o peso de um exército abusivo que opera impunemente.”
Após um ataque de drones a 5 de Novembro no distrito de Achefer, um residente de Durbete disse ao jornal Addis Standard que os ataques da ENDF criaram um pesadelo.
“Vivemos num medo constante, preparando-nos para o que quer que possa acontecer,” disse. “Ninguém sabe o que cada dia trará, e os frequentes confrontos deixam a comunidade num estado de grande ansiedade.”