EQUIPA DA ADF
Meses de perdas no campo de batalha e centenas de deserções parecem ter enfraquecido o Boko Haram, mas não impediram os extremistas de continuar a aterrorizar a Bacia do Lago Chade.
Os especialistas dizem que, como o grupo demonstrou uma capacidade alarmante de se reorganizar e adaptar as suas tácticas, as forças de segurança devem ser igualmente flexíveis e resistentes.
Abrangendo partes dos Camarões, do Chade, do Níger e da Nigéria, a Bacia do Lago Chade tem-se revelado um teatro problemático com os seus muitos pântanos e ilhas.
Os quatro países contribuem com tropas para a Força-Tarefa Conjunta Multinacional (MNJTF) que concluiu recentemente a Operação Lake Sanity 2, que desmantelou vários esconderijos terroristas.
“A [operação] resultou na neutralização de numerosos combatentes terroristas do Boko Haram, no resgate bem-sucedido de vários reféns e na captura de armas e munições,” afirmou a MNJTF num comunicado de 26 de Outubro de 2024.
Remadji Hoinathy e Célestin Delanga, investigadores do Instituto de Estudos de Segurança, sediado na África do Sul, afirmaram que as forças de segurança têm de antecipar a próxima viragem do grupo terrorista.
“A Operação Lake Sanity teve algum sucesso contra o Boko Haram na Bacia do Lago Chade, mas os insurgentes vão adaptar-se rapidamente às novas tácticas militares,” escreveram num artigo de 16 de Setembro de 2024. “Para manter os ganhos obtidos, a Força-Tarefa Conjunta Multinacional, que lidera a operação, deve manter-se à frente desta dinâmica.”
Após as operações da MNJTF, os militantes fugiram para as zonas periféricas, onde atacaram civis e utilizaram cada vez mais bombistas suicidas e dispositivos explosivos improvisados (DEI).
“A utilização de DEI transportados por veículos e enterrados no solo representa um grave risco para as forças de segurança e exige operações de desminagem e tecnologias como veículos resistentes a minas e protegidos contra emboscadas,” escreveram os investigadores.
“O recurso do Boko Haram a engenhos explosivos e a ataques suicidas propaga o medo e perturba tanto a coesão da comunidade como os esforços militares. Estas tácticas devem ser combatidas frontalmente para evitar o ressurgimento e o regresso das facções terroristas.”
No seu comunicado de imprensa de 26 de Outubro de 2024, a MNJTF afirmou que “está activamente empenhada em estabilizar a área, garantindo protecção genuína aos civis e criando condições conducentes a uma paz e desenvolvimento sustentáveis.”
No dia seguinte, porém, o Boko Haram mostrou que ainda consegue reunir forças para ataques em grande escala.
No dia 27 de Outubro, cerca de 300 combatentes do Boko Haram invadiram uma base militar chadiana numa ilha chamada Barkaram, a 5 quilómetros da fronteira com a Nigéria. Os militantes mataram pelo menos 40 soldados e o seu comandante, apoderaram-se de armas e queimaram veículos equipados com armas pesadas.
O Presidente do Chade, Mahamat Idriss Déby, avaliou sombriamente os danos no dia seguinte ao ataque e prometeu retaliação.
“Decidi lançar a Operação Haskanite para vingar os nossos [soldados],” disse num vídeo do governo. “Gostaria de assegurar ao povo chadiano que iremos perseguir estes lunáticos. Vamos segui-los até à sua última base.”
Encontrada na região do Lago Chade e nos desertos circundantes, Haskanite é uma planta local conhecida pela sua força e resistência.
Com a iminência de outra grande operação militar na região do Lago Chade, Hoinathy e Delanga afirmam que os vizinhos do Chade e a MNJTF devem concentrar-se na forma como os militantes do Boko Haram adaptam as suas tácticas e se dividem em grupos mais pequenos.
Embora reconheçam que os grandes esforços militares coordenados podem atingir muitos objectivos, os investigadores apelaram também as forças de segurança para melhorarem a sua capacidade de vigilância das zonas periféricas.
“Isso deve incluir operações regulares de forças combinadas dos países da Bacia do Lago Chade para impedir que o Boko Haram reposicione os seus combatentes nestas áreas. Esta estratégia permitiria preservar a estabilidade alcançada em certas localidades e evitar a pressão de novas vagas de pessoas deslocadas à força,” escrevem os investigadores.
O aumento da presença da polícia e do governo nas áreas em redor do Lago Chade também ajudaria a combater as ameaças à segurança e a criar confiança nas comunidades. São igualmente necessárias abordagens não cinéticas, incluindo a assistência humanitária e económica às pessoas afectadas pela violência.
“O envolvimento com as comunidades locais nestas áreas permitirá a recolha de informações e a criação de uma frente unida contra os insurgentes,” escreveram. “Os esforços de desenvolvimento comunitário existentes como parte da estratégia de estabilização regional da Comissão da Bacia do Lago Chade devem ser intensificados, incluindo acções civis-militares da MNJTF.”