A região do Sahel emergiu como um novo epicentro do tráfico de droga nos últimos anos.
De acordo com um relatório do Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC), as autoridades apreenderam 41 quilogramas de cocaína em 2021. O número subiu para 1.466 quilogramas no ano seguinte — um aumento de 3.476%.
Não estão disponíveis estimativas anuais para 2023, mas 2,3 toneladas métricas de cocaína já tinham sido apreendidas na Mauritânia em Junho do ano passado, e a tendência de grandes apreensões de droga tem continuado.
Em Abril de 2024, as autoridades senegalesas apreenderam mais de uma tonelada métrica de cocaína, no valor de quase 150 milhões de dólares, num camião que se dirigia para o Mali — a maior apreensão de cocaína em terra na história do país.
Os traficantes de droga da América do Sul, muitas vezes, contrabandeiam os seus produtos através da África Ocidental a caminho do Sahel, que historicamente tem sido um ponto de trânsito para a droga destinada à Europa.
A quantidade da droga apreendida não corresponde à quantidade da droga traficada, e a natureza opaca dos fluxos de contrabando de droga torna difícil determinar exactamente a quantidade de substâncias ilícitas, incluindo cannabis e opiáceos, que passam pela região. No entanto, o número crescente de apreensões sugere que há mais droga do que nunca a passar pela África Ocidental e pelo Sahel.
O consumo de drogas nestas áreas também está a aumentar à medida que as redes de tráfico se espalham pelos mercados locais, de acordo com Lucia Bird, directora do Observatório de Economias Ilícitas da África Ocidental na Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional.
“Recebemos informações sobre o aumento do consumo de craque em Agadez, no Níger, impulsionado pelo pagamento em géneros,” Bird disse à Voz da América. “Os traficantes mais pequenos são pagos em droga e descarregam-na nos mercados locais porque não têm contactos em destinos de consumo mais lucrativos.”
Uma tendência particular é a troca de haxixe marroquino por cocaína sul-americana através da África Ocidental. Segundo Bird, este acordo explora as diferenças de preços das drogas entre continentes e aumenta a quantidade de drogas traficadas por via terrestre a partir dos portos da África Ocidental através de algumas das zonas mais afectadas por conflitos do Sahel.
“O tráfico de droga está bem estabelecido na região do Sahel, com consequências prejudiciais tanto a nível local como global,” Amado Philip de Andrés, representante regional do UNODC na África Ocidental e Central, disse na página da internet da agência. “O envolvimento de vários grupos armados no tráfico de droga continua a minar a paz e a estabilidade na região.”
Os analistas estão preocupados com o possível envolvimento de grupos rebeldes e organizações terroristas afiliadas à al-Qaeda e ao grupo do Estado Islâmico (EI) no comércio ilegal de drogas no continente.
Grupos terroristas como o Boko Haram, a Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP), e a filial da al-Qaeda, Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), controlam vastas faixas do território do Sahel. Ocasionalmente, lutam entre si na tentativa de expandir e consolidar o seu controlo. Assim, beneficiam financeiramente do tráfico de droga, segundo o Atlantic Council.
Um relatório de Abril do UNODC concluiu que o tráfico de droga continua a fornecer recursos financeiros a grupos rebeldes no Sahel, incluindo grupos separatistas no norte do Mali.“Chegou o momento de tomar medidas decisivas para desmantelar as redes de tráfico de droga, nomeadamente através de serviços de prevenção e tratamento baseados em provas, do reforço dos quadros jurídicos e de uma maior cooperação internacional a nível da aplicação da lei e do Ministério Público,” de Andrés disse na página da internet do UNDOC.
De acordo com o UNODC, a corrupção e o branqueamento de capitais permitem o tráfico de droga, enquanto as detenções recentes mostram que políticos, líderes comunitários e líderes de grupos armados facilitam o comércio de droga na região.
“Os Estados da região do Sahel — juntamente com a comunidade internacional — devem tomar medidas urgentes, coordenadas e abrangentes para desmantelar as redes de tráfico de droga,” disse Leonardo Santos Simão, representante especial do secretário-geral da ONU para a África Ocidental.