EQUIPA DA ADF
Durante mais de uma década, os dispositivos explosivos improvisados foram as armas mais mortíferas que os terroristas na Somália utilizaram contra soldados e civis.
Desde 2014, os DEI colocados pelo al-Shabaab mataram ou feriram mais de 14.000 pessoas, 61% das quais civis, segundo a organização Action on Armed Violence. Com sede no Reino Unido, o grupo acompanha a violência armada contra civis em todo o mundo.
Só nos últimos 12 meses, os DEI mataram ou feriram 1.500 somalis, a maioria dos quais civis.
O al-Shabaab bombardeou um café em Mogadíscio em Julho e uma loja de chá no centro da Somália em Agosto. No dia 27 de Setembro, atentados bombistas mataram seis pessoas e feriram 10 em Mogadíscio e na região de Middle Shabelle. A explosão em Mogadíscio envolveu um carro armadilhado com explosivos perto do Teatro Nacional, a cerca de um quilómetro do gabinete do Presidente.
Buloburde, o local do atentado à loja de chá, alberga uma base da operação de manutenção da paz da União Africana e tem sido um alvo frequente de ataques com engenhos explosivos nos últimos anos. Os civis foram os que mais sofreram com os atentados bombistas, que visaram sobretudo restaurantes, hotéis e postos militares frequentados por soldados do Exército Nacional da Somália (SNA) e por dirigentes governamentais.
À medida que o SNA vai expulsando o al-Shabaab de secções do centro e do sul da Somália, o grupo terrorista aumenta a sua campanha de bombardeamento em retaliação. Em 2023, mais de 820 soldados do SNA foram mortos ou feridos, a maioria deles por DEI.
O Coronel Faisal Ali Noor, do SNA, disse à ONU que os soldados foram feridos por DEI enquanto respondiam a explosões anteriores.
“Por vezes, os DEI detonaram enquanto estávamos a escavar, resultando em baixas,” disse o Coronel Noor. “Devido aos nossos conhecimentos limitados, chegámos a acender fogos para desactivar os DEI, o que provocou mais mortes.”
À medida que o SNA expande o seu controlo sobre mais áreas do país, segundo os especialistas, os militares precisam de mais soldados com competências para localizar e remover DEI. Nos últimos anos, o Serviço de Acção contra as Minas das Nações Unidas (UNMAS) treinou 46 equipas somalis de neutralização de engenhos explosivos. Em Setembro, a ONU lançou um programa de “formação de formadores” com a duração de um mês que permitirá ao SNA criar mais equipas de eliminação.
“Este curso constitui um marco significativo, com formadores somalis a formarem, pela primeira vez, estudantes somalis, assegurando a sustentabilidade do SNA na resposta à ameaça que os riscos explosivos representam para as comunidades de todo o país,” Fran O’Grady, chefe do UNMAS na Somália, disse num comunicado da ONU.
Desde 2020, o SNA expandiu a sua capacidade de combater a ameaça dos DEI com a ajuda de formação, orientação e equipamento especializado fornecido pelo UNMAS.
O aumento dos ataques com DEI foi acompanhado por um aumento dos explosivos caseiros fabricados a partir de componentes facilmente obtidos que entram na Somália através dos seus portos ou são contrabandeados do Iémen, do outro lado do Mar Vermelho.
“Sabemos o impacto devastador que estes [DEI] têm nas comunidades somalis,” James Swan, o representante interino da ONU na Somália, disse aos participantes no evento de “formação de formadores.” “E também sabemos que os principais alvos são os vossos colegas soldados do SNA. Por isso, é extremamente importante que se encontre uma solução para enfrentar esta ameaça.”
À medida que a Somália vai aumentando o seu corpo de especialistas treinados em eliminação de bombas, as tropas continuarão a enfrentar ameaças do al-Shabaab, enquanto as forças do SNA expandem a sua área de controlo.
“Encontramos inúmeros perigos, incluindo bloqueios inimigos e DEI controlados remotamente,” o Tenente-Coronel Mohamed Mohamud Awale, do SNA, disse à Africa News. “Perdemos muitos camaradas.”