Conflito na Região de Amhara Ameaça Deflagrar Outra Guerra na Etiópia
EQUIPA DA ADF
Em finais de Outubro, os tiroteios abalaram a tranquilidade típica da cidade de Debark, situada na encosta das montanhas Semien, na região de Amhara, na Etiópia.
Meses de intensos combates na segunda maior região da Etiópia desalojaram qualquer sentimento de paz no país devastado pela guerra, numa altura em que o governo federal se debate com o que poderá vir a ser uma nova guerra civil.
Embora o Acordo de Pretória se destinasse a pôr fim ao conflito da Etiópia na região de Tigré em Novembro de 2022, o mesmo deixou por resolver muitas questões, como as disputas territoriais de décadas entre os Amhara e os Tigrenhos.
“Supunha-se que o acordo de paz de há dois anos fosse garantir que as partes beligerantes da Etiópia pudessem corrigir essas divergências através de novas negociações e não da violência. Mas essas conversações não se concretizaram,” a revista The Economist escreveu num artigo de 27 de Outubro. “Por enquanto, não passa de um cessar-fogo — e que pode facilmente cair.”
Depois de terem lutado ao lado das forças federais contra os Tigrenhos, as milícias de etnia Amhara, conhecidas como Fano, foram instruídas em Abril de 2023 para se desarmarem e se integrarem na Força de Defesa Nacional da Etiópia (ENDF). Em vez de obedecer, a Fano desencadeou uma insurgência, apoderando-se de cidades e rodovias.
No final de Setembro de 2024, as forças federais lançaram uma ofensiva contra a Fano, declarando-a ameaçadoramente como a “operação final.” A ENDF atacou as milícias e entrou brevemente em várias cidades, incluindo Gondar e Metema. Os combates intensificaram-se desde o final da estação das chuvas, visto que as condições mais secas permitem as tropas deslocarem-se mais facilmente e os céus mais limpos abrem caminho para os drones militares.
Entre 25 de Setembro e 24 de Outubro, houve 43 ataques de drones e ataques aéreos em 22 distritos da região de Amhara, matando 196 pessoas, incluindo civis, e ferindo 77, de acordo com a Associação Amhara da América.
A ENDF terá enviado dezenas de milhares de tropas para a região de Amhara.
“Nas últimas duas semanas, houve vários reforços (do exército federal) e muitas detenções de funcionários suspeitos de conluio com a Fano,” uma fonte de segurança disse à Agence France-Presse, sob condição de anonimato, no início de Outubro.
Embora a ENDF tenha recuperado o controlo de várias cidades, continua a enfrentar um inimigo resistente que conta com o apoio popular dos Amhara. A Fano é menos um grupo organizado do que uma coligação fragmentada de milícias autónomas. As conquistas da ENDF obrigaram os combatentes da Fano a retirarem-se para as montanhas e a empreenderem uma guerra de guerrilha.
“A estrutura descentralizada da Fano dificulta a transformação da sua força em poder político,” o analista Liam Carr concluiu numa avaliação dos serviços secretos feita em Setembro para o Projecto de Ameaças Críticas. “O reforço da insurgência da Fano aumenta o risco de conflitos étnicos com regiões vizinhas da Etiópia, como Tigré e Oromia, e afectaria questões transnacionais envolvendo a Eritreia, a Somália e o Sudão, que poderiam desestabilizar ainda mais a Etiópia ou outras áreas do Corno de África.”
No dia 26 de Outubro, um contingente da ENDF reuniu-se com membros da comunidade de Debark para discutir uma via para uma paz sustentável. O representante do exército, no entanto, culpou a Fano pela violência.
“O grupo extremista, que está cheio de ódio e de pensamentos cegos, levou o povo ao conflito, roubou o seu próprio povo e pôs em perigo as instituições de desenvolvimento do governo,” o Major-General Amare Gebru, chefe do posto de comando de Debark, disse numa reunião, de acordo com a ENDF.
As conversações de paz são improváveis e nenhum dos lados parece capaz de uma vitória militar, segundo Adem Abebe, conselheiro sénior para a construção da paz, do Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral, com sede na Suécia.
“A Fano não está pronta para negociações de paz,” disse ao The Africa Report num artigo de 10 de Outubro. “O governo pode tentar falar com alguns líderes aqui e ali, mas até que haja alguma coordenação entre a Fano, vai ser muito difícil para qualquer líder da Fano comprometer-se publicamente com um processo de paz.
“Não creio que haja grandes mudanças no campo de batalha, mas a situação continuará a provocar um sofrimento terrível para a população.”