Ruanda Lança Instituto da Paz de Isōko para Promover Resiliência e Aprender com a História
EQUIPA DA ADF
Trinta anos depois de o genocídio ter matado centenas de milhares de pessoas, o Ruanda lançou o Instituto da Paz de Isōko para ajudar as comunidades de todo o mundo a aprender a viver em harmonia.
O anúncio foi feito durante uma conferência de paz de três dias na Universidade do Ruanda, que contou com a participação de 400 académicos, decisores políticos e autoridades de alto nível.
“A paz não é apenas a ausência de conflitos. É a presença da justiça, da equidade e do respeito pela dignidade humana,” Kayihura Muganga Didas, vice-reitor da Universidade do Ruanda, disse aos participantes. “Juntas, a paz e a resiliência formam a base de uma sociedade saudável e progressista.”
Cerca de 70% da população do Ruanda nasceu depois do genocídio de 1994, um massacre nacional do povo Tutsi que se desenrolou em cerca de 100 dias.
O número exacto de mortes é incerto. As organizações internacionais situam o número entre 500.000 e 800.000. As autoridades ruandesas afirmam que morreram mais de 1 milhão de pessoas. O genocídio terminou quando a Frente Patriótica do Ruanda (RPF, na sigla inglesa), dominada pelos Tutsis, assumiu o controlo do país.
O antigo comandante da RPF, Paul Kagame, foi eleito presidente do Ruanda em 2000 e ganhou recentemente um quarto mandato.
As forças armadas do Ruanda construíram a sua reputação através de operações de manutenção da paz contra os rebeldes no norte de Moçambique. No entanto, a comunidade internacional afirmou que os militares ruandeses estão a apoiar os rebeldes do M23 no leste da República Democrática do Congo, impulsionando o conflito em curso no Kivu do Norte e nas províncias vizinhas. As autoridades ruandesas negam o seu envolvimento com o M23.
Jean-Damascène Bizimana, ministro da unidade nacional e do envolvimento cívico do Ruanda, afirmou que o instituto da paz irá promover a educação para a paz, a partilha de experiências e acções que se oponham aos discursos de ódio e à violência.
“Também irá reforçar os diálogos entre gerações para que os mais velhos ensinem valores e práticas pacíficas aos mais novos,” disse Bizimana na conferência. “As pessoas não têm necessariamente de ver as coisas da mesma maneira, mas devem ser capazes de viver em harmonia, especialmente quando têm coisas em comum, como fazer parte do mesmo país.”
Freddy Mutanguha, director do Memorial do Genocídio de Kigali, disse que os ruandeses têm muito a ensinar ao mundo sobre a confiança e a reconciliação através do Instituto da Paz de Isōko. Mutanguha dirige o AEGIS Trust, que criou o Memorial do Genocídio de Kigali e se dedica à prevenção de futuros genocídios.
“Como ruandeses, partilhamos a resiliência que nos levou a encontrar soluções caseiras e a luta da RPF-Inkotanyi para libertar os ruandeses de um regime genocida, trazer a paz e estabelecer um governo baseado na unidade nacional. Esta deve ser uma lição importante para o mundo,” disse Mutanguha aos participantes na conferência.
A construção do instituto, no valor de 40 milhões de dólares, deverá começar em 2026 no distrito de Bugesera, que foi o local do assassinato de 300 Tutsis por Hutus locais em 1992. O julgamento por esses assassinatos foi suspenso indefinidamente pelo governo então dominado pelos Hutus.
O Instituto da Paz de Isōko incluirá um centro de formação destinado a reforçar as comunidades contra o potencial de violência e a incentivar a investigação sobre formas de melhorar a educação para a paz. Também terá um centro de retiro para as pessoas que trabalham na linha da frente da construção da paz e uma sala de situação para desenvolver formas de prevenir, mitigar e acabar com a violência em larga escala baseada na identidade.
A subsecretária-geral das Nações Unidas, Alice Wairimu Nderitu, participou na conferência na qualidade de conselheira especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para a prevenção do genocídio. Nderitu elogiou o novo instituto por oferecer lições sobre o que significa praticar a paz diariamente.
“O Ruanda é um exemplo para o mundo do que é o processo de cura e reconciliação,” disse Nderitu. “Muito foi partilhado aqui e será partilhado aqui, aprendendo com experiências, desafios e sucessos que têm algo a ensinar-nos.”
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