Burquina Faso Receia um Motim Após Ataque Mortal a uma Base Militar

EQUIPA DA ADF

O grupo terrorista Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) reivindicou a responsabilidade pelo ataque de 11 de Junho a uma base militar do Burquina Faso, em Mansila, que matou mais de 100 soldados e vários civis. Tratou-se do ataque mais mortífero contra os militares burquinabês desde 2015.

Um dia depois, um foguete atingiu o parque de estacionamento da estação de televisão estatal Radiodiffusion Télévision Burquinabé (RTB), em Ouagadougou, a capital do país. Ninguém morreu na explosão, embora algumas pessoas tenham ficado feridas.

O Capitão Ibrahim Traoré, líder da junta do Burquina Faso, desvalorizou o incidente, dizendo que as pessoas que estavam a guardar a estação lançaram o foguete por engano, informou a BBC.

Estes acontecimentos alimentaram a especulação, há muito existente, de tensões internas no seio das forças armadas. Como observou o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), ataques terroristas com elevado número de vítimas precederam os dois golpes de Estado burquinabês em Janeiro e Outubro de 2022.

Fontes militares disseram à Radio France Internationale (RFI) que o incidente com o foguete estava ligado à “situação interna” do Exército e que “as coisas não estão bem.” O Jeune Afrique noticiou que o foguete foi disparado das proximidades do palácio presidencial enquanto Traoré se encontrava numa reunião e que a segurança teve de o retirar. Traoré negou a existência de um motim.

“Não há absolutamente nada,” disse ele fora da RTB, de acordo com a Al Jazeera. “Estamos aqui. Não devemos dar ouvidos a estes indivíduos que estão a tentar distrair as pessoas. Não estamos a fugir. Não estamos a recuar, não estamos a desistir.”

A junta afirmou ter impedido tentativas de golpe em Setembro, após relatos de agitação em várias guarnições e campos do Exército, e em Janeiro.

Tanto a opinião pública como os soldados burquinabês manifestaram a sua preocupação pelo facto de o governo de Traoré não ter conseguido conter a crise de segurança no país.

O ataque de Mansila ocorreu semanas depois de a JNIM ter divulgado fotografias de um campo de treino no Burquina Faso, o que demonstrou a capacidade do grupo para montar descaradamente campos rudimentares em áreas abertas. Até há pouco tempo, a JNIM tinha os seus campos de treino do outro lado da fronteira, no Mali.

O ataque ocorreu cerca de uma semana depois de o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, ter visitado o Burquina Faso e anunciado planos para enviar mais instrutores militares para o país. Em meados de Junho, aviões russos transportaram entre 80 e 120 soldados malianos e russos do norte do Mali para o Burquina Faso, informou a RFI.

Um oficial anónimo de um país do Sahel também afirmou que as juntas do Mali e do Níger ofereceram “apoio directo” a Traoré no meio dos rumores do golpe, segundo o ISW.

A instabilidade surge numa altura em que centenas de auxiliares das milícias civis no norte e leste do Burquina Faso se demitiram desde Maio de 2024 devido ao elevado número de baixas, às violações de direitos humanos, à retenção de salários e à falta de equipamento.

Oito dias após o ataque a Mansila, vários Batalhões de Intervenção Rápida de elite deslocaram-se das suas bases regionais perto de zonas afectadas pelo terror para Ouagadougou, segundo o ISW.

A deslocação de recursos militares para fora das zonas de conflito é susceptível de diminuir “a frequência e a eficácia das operações defensivas e ofensivas em todo o país, enquanto as forças de segurança estiverem preocupadas,” escreveu Liam Karr, do ISW. “A concentração na estabilidade do regime, em vez de operações de contra-insurgência, reduzirá a pressão sobre as zonas de apoio aos insurgentes, permitindo que estes continuem a reunir-se em grande número para ataques esmagadores.”


Traoré assumiu o poder em 2022 com a promessa de eliminar os grupos terroristas. Mas, desde a tomada do poder, tanto a JNIM como o grupo da Província do Sahel do Estado Islâmico expandiram o seu território e aumentaram o número de mortos na sua luta contra as forças governamentais, as milícias voluntárias e os mercenários russos do Africa Corps, anteriormente conhecido como Grupo Wagner.
As forças de segurança burquinabês e os mercenários russos são ambos acusados de cometer atrocidades contra civis. No ano passado, as mortes devidas a “violência mortal” no Burquina Faso subiram para 8.000, mais do dobro do número de mortes registadas em 2022, de acordo com os dados do projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos.

Traoré tornou-se mais duro com os seus inimigos na sequência das tentativas de golpe de Estado de Setembro e Janeiro. Dezenas de pessoas acusadas de planear golpes de Estado foram detidas e os militares suspeitos de estarem envolvidos foram enviados para missões no estrangeiro.

“É uma espécie de modelo de campo de ‘reeducação,’ mas quando os soldados que nos criticam acabam por ser enviados para a Rússia, isso não parece bom,” Dan Eizenga, analista do Centro de Estudos Estratégicos de África, disse à Al Jazeera.

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