EQUIPA DA ADF
As recentes mortes de soldados sul-africanos, destacados em Dezembro para enfrentar os rebeldes do M23 no leste da República Democrática do Congo (RDC), levaram os grupos de oposição sul-africanos a questionar a missão e os recursos disponíveis para as tropas.
“A realidade é que a SANDF (Força Nacional de Defesa da África do Sul) não tem capacidade para levar a cabo uma campanha de combate à insurgência eficaz contra os rebeldes do M23 e também não tem o equipamento de missão principal para apoiar as forças terrestres,” Kobus Marais, membro da Aliança Democrática, disse num comunicado sobre o destacamento divulgado na página da internet da aliança.
Marais descreveu ainda o destacamento como “uma decisão imprudente que irá potencialmente colocar as vidas das nossas forças em grave risco.”
O M23 é o mais proeminente dos mais de 100 grupos armados que operam no leste da RDC, país rico em recursos naturais, que vive um conflito sem tréguas desde a década de 1990.
“Talvez o maior risco que a SANDF enfrenta é o facto de o seu adversário, os rebeldes do M23, operarem no leste da RDC há muitos anos e estarem familiarizados com o terreno,” disse Marais.
Em entrevista à BBC, o analista Remadji Hoinathy, do Instituto de Estudos de Segurança, disse que os líderes da oposição estão a fazer o seu trabalho ao questionar o governo. No entanto, acrescentou, a África do Sul está a utilizar a sua posição de líder regional para ajudar a tornar África um lugar mais pacífico.
“O exército sul-africano já provou o seu valor contra insurgências no passado,” disse Hoinathy. “A África do Sul volta a desempenhar este papel para resolver o problema na região.”
A Ministra da Defesa e Veteranos Militares da África do Sul, Thandi Modise, disse que a manutenção da paz é uma parte importante do mandato da SANDF. Ela classificou as alegações de que as tropas da SANDF estavam mal preparadas para a sua missão na RDC como “uma mentira azul.”
A SANDF enviou 2.900 soldados para o leste da RDC como a maioria de uma missão de 5.000 membros da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral que inclui tropas do Malawi e da Tanzânia. A Missão da SADC na RDC (SAMIDRC) tem por missão ajudar as forças armadas da RDC (FARDC) a controlar o M23.
A SAMIDRC substituiu uma missão da Comunidade da África Oriental (CAO) depois de o Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, ter expulsado a CAO ao fim de um ano, afirmando que a missão tinha sido ineficaz.
O contingente da SADC é significativamente mais pequeno do que os 6.500 a 12.000 soldados que a Força Regional da Comunidade da África Oriental planeou inicialmente enviar para a região antes de ser expulsa ao fim de pouco mais de um ano. Tem cerca de um terço da dimensão da missão de manutenção da paz das Nações Unidas MONUSCO, que tem estado a operar no leste da RDC desde 1999 e que se retirará em Dezembro.
Dois soldados sul-africanos foram mortos e outros três ficaram feridos num ataque com morteiros do M23 à sua base, em meados de Fevereiro. Dois outros soldados sul-africanos morreram num aparente assassinato/suicídio quando se encontravam em missão no final de Fevereiro.
A utilização de armas pesadas pelo M23 — uma táctica pouco comum nas insurgências armadas — está a provocar a morte e a destruição generalizadas entre a população civil do Kivu do Norte. A Cruz Vermelha afirma que 40% das pessoas que procuram cuidados e centros de saúde são vítimas de bombardeamentos.
As restrições financeiras obrigaram as forças sul-africanas a deslocarem-se para a região do Kivu do Norte sem os seus helicópteros de ataque Denel Rooivalk para dar cobertura aérea às tropas terrestres. Os helicópteros, que foram eficazes contra o M23 em missões anteriores, foram imobilizados devido à falta de fundos para a sua manutenção. Em consequência, os helicópteros de transporte Oryx da Força Aérea Sul-Africana foram repetidamente atacados por fogo de armas ligeiras. Segundo os observadores, as forças do M23 têm acesso a mísseis terra-ar, morteiros guiados por GPS e outro armamento de alta tecnologia, invulgar para estas milícias.
O destacamento da SAMIDRC corresponde a cerca de 10% dos 30.000 efectivos militares da África do Sul. Os recentes ataques, e a possibilidade de mais e mais mortíferos, levaram outros líderes da oposição sul-africana a questionar até que ponto a missão contra o M23 é do interesse da África do Sul.
O líder da Freedom Front Plus, Pieter Groenewald, declarou recentemente que as mortes na SANDF e a falta de equipamento essencial estão a abalar o moral das tropas no terreno.
“Não compreendem por que razão as suas vidas estão a ser postas em perigo num conflito que nada tem a ver com a África do Sul,” afirmou Groenewald numa declaração recente.