EQUIPA DA ADF
Ao longo de 2023, o grupo criminoso sul-africano conhecido como Gangue do Oeste aterrorizou a cidade de Inanda, a norte de Durban.
O grupo é alegadamente responsável por uma série de roubos e mais de 50 assassinatos, incluindo o homicídio de um agente da polícia, de patrulheiros da vigilância do bairro e de um membro do fórum de policiamento comunitário.
Uma moradora contou ao Eyewitness News sobre um ataque envolvendo a gangue, que ela disse ser composta por adolescentes.
“No início de Outubro, vieram cá uns rapazes,” disse. “A primeira casa em que entraram era uma pequena loja que vendia comida. O proprietário da loja estava em casa com a sua mulher. Exigiram dinheiro. Apontaram-lhe uma arma e bateram-no. Ele deu-lhes todo o dinheiro que tinha. Deram-lhe um tiro na perna, à frente da mulher. Isso traumatizou-a muito.”
A criminalidade relacionada com a juventude — e os crimes contra os jovens — é frequente em todo o país. Os analistas que participaram num recente painel de discussão conduzido pelo Instituto de Estudos de Segurança (ISS), argumentaram que as abordagens da base para o topo são a melhor forma de evitar que os jovens enveredem por uma vida de crime.
“Estas são intervenções que envolvem a comunidade a nível das bases,” afirmou Jody van der Heyde, coordenador global do grupo de trabalho Inspire, no ISS. “Estas intervenções são baseadas ou incorporadas nas comunidades em que são implementadas. Isso é muito importante porque, ao fazê-lo, são deliberadamente adaptados e respondem às necessidades específicas da comunidade.”
Alguns projectos estão a trabalhar para implementar programas de redução da violência em várias comunidades.
Em Durban, Lindokuhle Mkhize, um gestor de projectos da Wildlife and Environment Society of South Africa, concentra-se no projecto Childsafe da sociedade, que trabalha para tirar as crianças das ruas e oferecer-lhes melhores oportunidades para que não se voltem para o crime. Também cria espaços seguros para crianças expostas a abusos, violência e drogas nas zonas de praia de Durban.
O programa beneficia crianças marginalizadas e vulneráveis e as suas famílias através de reunificações e formação parental.
“Ajuda [as crianças] a afastarem-se das drogas, da violência sexual que acontece na praia e de muitas outras coisas a que as crianças ou as pessoas que vivem nas ruas estão sujeitas — muitas coisas diferentes que nem sequer deviam estar a acontecer hoje em dia,” disse Mkhize durante o debate no ISS.
O programa envolve também os comerciantes das praias locais que se apercebem de todo o tipo de crimes que afectam os seus negócios e o turismo.
“Não olhemos para estas pessoas e crianças [nas ruas] como uma ameaça para a sociedade, mas [em vez disso, perguntemos-lhes] o que correu mal?” disse Mkhize. “Como é que o ajudamos a regressar a casa e a ser novamente uma criança? Uma vez na rua, uma criança torna-se automaticamente num adulto. Eles precisam de se defender sozinhos, precisam de encontrar comida. Precisam de se defender de outros adultos que querem coisas diferentes deles.”
Barbara Holtmann, directora técnica da Fixed Africa, uma organização dedicada à segurança e ao desenvolvimento urbanos, supervisionou um estudo de caso nas comunidades de Hoekwil e Touwsranten, no Cabo Oriental, onde os residentes iniciaram um diálogo comunitário devido aos elevados níveis de violência.
“É uma metodologia formal em que as pessoas optam por ter um foco específico para a sua conversa,” disse Holtmann durante o debate no ISS, acrescentando que acredita que a compaixão é fundamental para lidar com a violência.
Os grupos de Hoekwil e Touwsranten reúnem-se uma vez por mês durante 90 minutos para discutir questões de segurança e prosperidade. Até Dezembro de 2023, realizaram-se 21 diálogos comunitários, que são conduzidos em inglês e africâner.
As conversas são convocadas por membros reconhecidos da comunidade, tais como oficiais militares, polícias, especialistas em toxicodependência e alcoolismo, funcionários municipais, pais e residentes.
“Em Touwsranten, registou-se um nível muito elevado de violência interpessoal e adorei a forma como abordaram a questão, que consistiu em explorar o significado de violência para os adultos da comunidade,” afirmou Holtmann. “Estão a tentar evitar a violência contra as crianças, mas também a conseguir impedir que as crianças pensem que a violência é o caminho a seguir.”