EQUIPA DA ADF
Foi apenas uma questão de dias para o grupo terrorista somali al-Shabaab felicitar o Hamas pelo seu mortífero ataque de 7 de Outubro contra Israel.
No dia 15 de Outubro, o al-Shabaab, um ramo da al-Qaeda, reuniu centenas de apoiantes para manifestações em apoio ao Hamas nos seus redutos do sul da Somália, Jilib e Kunya Barrow.
Homens queimaram a bandeira de Israel e vários oficiais de clãs afiliados ao Shabaab discursaram em frente a uma faixa onde se lia: “Somos uma Ummah [comunidade islâmica mundial].”
Os especialistas afirmam que o al-Shabaab está a utilizar os seus recursos no terreno, na rádio e nas redes sociais para se ligar a Gaza e cooptar a atenção, expandir e reforçar os seus esforços de recrutamento.
Caleb Weiss, analista sénior da organização de caridade Bridgeway Foundation e fundador do site Long War Journal, disse que os comícios na Somália foram uma tentativa do al-Shabaab de ligar o conflito israelo-palestiniano à “jihad global.”
“O al-Shabaab tem tentado, regularmente, colocar-se no mesmo contexto do conflito israelo-palestiniano, tal como a al-Qaeda em geral,” disse à ADF. “Ajuda a mobilizar apoiantes ou novos recrutas, tanto a nível local como global, aproveitando a raiva e o ódio que o conflito invariavelmente produz.”
O governo somali declarou “guerra total” contra o grupo extremista em Agosto de 2022 e lançou várias ofensivas militares para tentar recuperar grandes áreas do centro e do sul da Somália.
O Primeiro-Ministro da Somália, Hamza Abdi Barre, afirmou que o al-Shabaab utiliza as redes sociais para difundir uma torrente de propaganda.
“Estão a utilizar plataformas avançadas de redes sociais, nomeadamente o Telegram, o Tik Tok e outras plataformas,” disse numa entrevista à Al Jazeera, no dia 16 de Setembro. “Acreditamos que muitos dos operativos do al-Shabaab estão a usar pseudónimos para difundir a sua ideologia perversa e perigosa no nosso país.
“Os nossos jovens são pacíficos, desarmados e inocentes, e estão a ser sujeitos a uma maré alta de guerra ideológica.”
Esta não é a primeira vez que o al-Shabaab se insere no conflito israelo-palestiniano. Anteriormente, alegou que o seu ataque mortal de 2019 contra um hotel e um complexo de escritórios em Nairobi, no Quénia, era uma resposta ao reconhecimento internacional de Jerusalém como capital de Israel.
A investigadora Georgia Gilroy, baseada em Nairobi, afirmou que os influenciadores das redes sociais desempenham um papel central nas operações do al-Shabaab.
Numa análise feita no dia 31 de Outubro para o site da Global Network on Extremism & Technology, ela examinou a forma como as redes de comunicação social do al-Shabaab passaram rapidamente a partilhar conteúdos pró-Hamas e a retratar o Hamas como seus “irmãos.”
“Ao entrelaçar a retórica do al-Shabaab com as queixas palestinianas e ao estabelecer paralelos entre a luta do Hamas e a luta do al-Shabaab, o grupo tem uma hipótese legítima de se orientar para um público mais internacional, ao mesmo tempo que aumenta a sua simpatia entre as populações somalis da África Oriental,” escreveu Gilroy.
A investigadora de terrorismo, Alta Grobbelaar, também descreveu em pormenor a forma como o al-Shabaab se agarra a conflitos a milhares de quilómetros de distância da Somália e concebe as suas mensagens para atingir públicos específicos.
“O Al-Shabaab descobriu o segredo do sucesso neste século — a relevância,” escreveu na edição de Janeiro de 2023 da revista académica Insight on Africa. “Ao utilizarem os meios de comunicação social de que dispõem em seu proveito, provaram que a diminuição do número de pessoas e do território não equivale a uma diminuição das capacidades e, muito menos, a uma diminuição da cobertura mediática.”