EQUIPA DA ADF
Enquanto os extremistas violentos atormentam os seus vizinhos do norte, a Costa do Marfim mantém-se livre de ataques terroristas há dois anos, graças a uma combinação de intervenção militar, segurança reforçada e maior investimento em zonas ao longo das suas fronteiras.
“O objectivo é inverter a percepção das comunidades fronteiriças de que o Estado as abandonou,” escreveu recentemente o analista William Assanvo para o Instituto de Estudos de Segurança (ISS). “Se o fizerem, reduzirão o risco de serem explorados pelos insurgentes.”
Vários países do Golfo da Guiné seguem um padrão: a riqueza e o investimento económico estão concentrados ao longo da costa, enquanto o norte tende a ser mais pobre e menos desenvolvido. Esta dinâmica gera ressentimentos que colocam as regiões em risco de radicalização por parte de grupos extremistas que desestabilizaram os países vizinhos do Sahel.
O mais recente ataque terrorista na Costa do Marfim ocorreu em Junho de 2021, quando um dispositivo explosivo improvisado matou três soldados numa emboscada perto da comunidade fronteiriça de Tehini, no nordeste do país, perto do Burquina Faso.
Antes disso, um ataque em 2020 a um posto de segurança em Kafolo, também perto da fronteira com o Burquina Faso, matou 10 pessoas. Este ataque seguiu-se a uma operação conjunta entre o Burquina Faso e a Costa do Marfim para expulsar os extremistas do Parque Nacional de Comoé, na fronteira com a Costa do Marfim.
Nos anos que se seguiram a esses ataques, o governo da Costa do Marfim reforçou a presença militar e de segurança nos distritos de Savanes e Zanzan, que fazem fronteira com o Mali e o Burquina Faso. A Costa do Marfim continua a trabalhar com os seus vizinhos no âmbito da Iniciativa de Acra para detectar e desmantelar as actividades terroristas na região.
Em Dezembro de 2022, o governo condenou 11 malianos à prisão perpétua pelo seu envolvimento no ataque de 2016 à comunidade costeira de Grand Bassam. Esse atentado — o primeiro acontecimento terrorista na Costa do Marfim — matou 19 pessoas.
Após o atentado de Grand Bassam, a Costa do Marfim investiu 137,2 milhões de dólares na sua luta contra o terrorismo. O financiamento estabeleceu programas para equipar e treinar unidades especiais de combate ao terrorismo, bem como outros programas para reforçar os laços do governo com os residentes dos distritos do norte.
No ano passado, a Costa do Marfim juntou-se aos seus vizinhos da África Ocidental para criar a Força-Tarefa Conjunta Multinacional, com 10.000 pessoas, inspirada numa força-tarefa semelhante que opera na Bacia do Lago Chade.
Para além dos aspectos de segurança, o programa investe na educação e nos cuidados de saúde, bem como em infra-estruturas essenciais como estradas e água potável. O objectivo é também desenvolver estágios e outras oportunidades de emprego para cerca de 24.000 jovens, Touré Mamadou, Ministro da Promoção da Juventude, da Integração Profissional e do Serviço Cívico, disse recentemente à emissora RTI.
O Primeiro-Ministro, Patrick Achi, lançou o programa em Janeiro de 2022 com uma visita a Tougbo, perto da fronteira com o Burquina Faso.
O Banco Africano de Desenvolvimento disponibilizou 10,53 milhões de dólares em 2022 para ajudar a fornecer electricidade a 71.600 agregados familiares e a mais de 7.100 centros comerciais nos distritos de Savanes, Zanzan e Woroba, na Costa do Marfim. O programa de electrificação faz parte de um esforço mais vasto para reduzir a pobreza no norte e, por extensão, a tentação de radicalização.
“Dependendo da redução das vulnerabilidades estruturais e da fragilidade no norte do país, o programa social pode — ao complementar as operações militares e de segurança — reduzir as ameaças actuais e futuras,” escreveu Assanvo para o ISS.
O especialista em segurança, Fidel Amakye Owusu, do Gana, considera que a electrificação rural e os investimentos económicos como os da Costa do Marfim são cruciais para prevenir o terrorismo a longo prazo.
Embora as intervenções militares e de segurança sejam soluções importantes a curto prazo, ajudar as pessoas a satisfazerem as suas necessidades básicas é mais importante para as manter fora da influência dos terroristas, disse numa entrevista à ADF.
“Quando uma pessoa se sente frustrada, é provável que pegue numa catana, faça ataques e culpe os outros pelos seus próprios problemas,” disse Owusu.