O Presidente da Somália, Hassan Sheikh Mohamud, prometeu travar uma “guerra total” contra o al-Shabaab, mas o grupo extremista continua a lançar ataques descarados contra civis e forças de segurança.
Entre 27 de Maio e 23 de Junho, o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) registou mais de 200 ataques ou casos de violência ligados ao grupo terrorista na Somália. Mais de 700 pessoas morreram nos ataques.
A maior parte da violência registou-se na região de Lower Shabelle, que rodeia Mogadíscio, onde o al-Shabaab lançou dezenas de ataques contra as tropas da Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS).
A ATMIS tem até Dezembro de 2024 para transferir todas as responsabilidades de segurança para as forças somalis e está a retirar gradualmente as tropas do país. A missão retirou 2.000 soldados até ao final de Junho — 400 de cada um dos seguintes países: Burundi, Etiópia, Djibouti, Quénia e Uganda — e espera-se que retire mais 3.000 até ao final de Setembro.
Mohamud Sayid Aden, vice-presidente do Estado de Jubaland, na Somália, afirmou que será “difícil” para as forças somalis assegurar as áreas desocupadas pelas tropas da ATMIS. Segundo o ACLED, os ataques do al-Shabaab contra as tropas da ATMIS têm aumentado constantemente desde o final de Março.
“Vai haver um perigo a partir daí,” disse Aden à Voz da América Somália. “O inimigo vai ter [uma] vantagem. Os civis que confiaram nas forças da Somália e da ATMIS vão ter de se vingar.”
Aden apelou para que a retirada fosse “suspensa e revista.”
No final de Maio, o al-Shabaab atacou uma base da ATMIS que albergava soldados ugandeses em Bulamarer, 130 quilómetros a sudoeste de Mogadíscio. O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, afirmou que 54 soldados ugandeses foram mortos no ataque.
No início de Julho, o al-Shabaab atacou uma Base Operacional Avançada da ATMIS em Gherille, no Estado de Jubaland. A base albergava tropas das Forças de Defesa do Quénia até ser entregue às forças somalis em Junho. As tropas do Exército Nacional da Somália impediram o ataque após um feroz tiroteio, segundo o site de notícias da Somália garoweonline.com.
As forças somalis têm tido sucesso contra o grupo. A primeira ofensiva contra o al-Shabaab sob o comando de Mohamud centrou-se na região de Middle Shabelle. Durante esse esforço, que decorreu de Agosto de 2022 a Janeiro de 2023, os soldados somalis libertaram 70 comunidades, incluindo Rage-El, uma aldeia que esteve sob o controlo do al-Shabaab durante 13 anos.
A ofensiva recuperou cerca de um terço do território controlado pelo al-Shabaab. O governo somali informou também que 3.000 militantes foram mortos na primeira fase dos ataques e mais de 3.700 outros foram feridos com a ajuda das milícias locais conhecidas como Ma’awisley.
O Presidente Mohamud continua optimista, afirmando que as forças nacionais adquiriram uma experiência valiosa nas últimas operações.
“Aprendemos as tácticas do al-Shabaab,” disse Mohamud num relatório do The Soufan Center. “O nosso moral diz-nos que somos capazes de os derrotar. A política actual do governo é libertar o país do al-Shabaab.”
No entanto, dizem os observadores, a perda de território na Somália provavelmente tenha levado o al-Shabaab a realizar ataques noutros locais.
Em meados de Junho, oito agentes da polícia foram mortos perto da fronteira com a Somália, no leste do Quénia, quando o seu veículo accionou um dispositivo explosivo improvisado.
“Suspeitamos que o al-Shabaab esteja a atacar as forças de segurança e os veículos de passageiros,” afirmou o Comissário Regional do Nordeste, John Otieno, numa reportagem da Al Jazeera.
Menos de duas semanas depois, o al-Shabaab matou cinco civis e incendiou casas no condado de Lamu, na costa do Quénia.
Em resposta a esses ataques, o Ministro do Interior do Quénia, Kithure Kindiki, anunciou, no início de Julho, que o país iria adiar a reabertura da sua fronteira com a Somália. Em Maio, os dois países acordaram em reabrir a fronteira de forma faseada.
O Quénia não concordará com a reabertura da fronteira “até resolvermos de forma conclusiva a recente vaga de ataques terroristas e crimes transfronteiriços,” disse Kindiki à Agence France-Presse.
O al-Shabaab também atacou locais na Etiópia. Os especialistas dizem que os ataques no Quénia e na Etiópia são uma tentativa de impedir os países vizinhos de se envolverem na Somália. No início de Junho, as forças etíopes impediram um ataque na cidade fronteiriça de Dollo.
O exército etíope “deteve os atacantes antes que pudessem causar estragos,” afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país numa publicação no Twitter.