EQUIPA DA ADF
As bandeiras russas tornaram-se um elemento de referência em comícios e protestos públicos no Burquina Faso, na República Centro-Africana e no Mali — uma indicação da forma como a Rússia está a promover a sua propaganda e desinformação, infiltrando-a através de influenciadores locais.
Um desses influenciadores, Kemi Seba, uma figura franco-beninense das redes sociais com mais de 1 milhão de seguidores no Facebook, foi convidado a falar no Instituto de Moscovo, na Rússia. Durante a sua apresentação, defendeu as acções de Moscovo em toda a região, em particular as dos mercenários do Grupo Wagner, que se tornaram os representantes militares da Rússia em muitos países.
Outros influenciadores pró-Moscovo na região incluem Nathalie Yamb, conhecida como “a senhora de Sochi” pelos seus comentários pró-russos na Cimeira Rússia-África de 2019, e Adama Ben Diarra, que dá pelo nome de “Ben the Brain” nas redes sociais.
Diarra tem estado particularmente activa no sentido de encorajar os malianos a acolherem o Grupo Wagner no país.
De muitas formas, dizem os analistas, a Rússia e o Grupo Wagner estão a explorar os laços históricos entre algumas nações africanas e a União Soviética, ao mesmo tempo que fazem passar a ideia de que a Rússia não tem uma história colonial no continente.
“Alguns destes influenciadores ganharam muitos seguidores recentemente, mas a forma de pensar sobre eles é que são apenas parte de um sistema de desinformação mais amplo que a Rússia está a implantar em África através do Grupo Wagner,” disse Mark Duerksen, investigador associado do Centro de Estudos Estratégicos de África, ao site Coda. “Eles apresentam-se como pseudo-intelectuais que adoptam tropos de uma história profunda de pan-africanismo para os seus objectivos.”
O Grupo Wagner está presente na RCA desde 2017. Desde então, os mercenários têm servido como guarda presidencial e conselheiros de segurança nacional, enquanto as suas empresas afiliadas exploram o ouro e o diamante do país para o seu próprio benefício e para financiar a invasão russa à Ucrânia. O grupo de mercenários chegou mesmo a assumir o controlo do sistema aduaneiro da RCA.
A presença crescente do Grupo Wagner no país inclui uma estação de rádio patrocinada pela Rússia, uma estátua pró-russa no centro de Bangui e projecções públicas gratuitas de um filme pró-russo, “Le Touriste.”
“A propaganda russa fá-los parecer amigos da região,” comentou Howard Gethin, analista da BBC, num podcast recente.
As operações de mão pesada do Grupo Wagner em países africanos estão a produzir resultados opostos aos que os seus clientes esperam, desestabilizando ainda mais os países. No Mali, por exemplo, a al-Qaeda utilizou a participação do Grupo Wagner em acontecimentos como o brutal massacre de Moura, em 2022, para justificar a sua própria presença na defesa dos malianos.
“A Rússia é um factor de perturbação,” afirmou Beverly Ochieng, analista da BBC, num podcast. “As operações de influência russa pioraram a sensação de estabilidade que o Mali esperava alcançar. O Grupo Wagner parece estar lá para permitir que a junta se mantenha no poder.”