EQUIPA DA ADF
Quem matou nove cidadãos de nacionalidade chinesa na mina de ouro de Chimbolo, na República Centro-Africana (RCA)?
O governo do presidente da RCA, Faustin-Archange Touadéra, prometeu investigar os assassinatos da mina de propriedade da Gold Coast Group, da China, que foi atacada por homens armados poucos dias depois de ter sido aberta, em Março.
O governo atribuiu a culpa pelo ataque a estrangeiros, como parte de um complicado plano que envolve mercenários de nacionalidades chadiana, da República Democrática do Congo, da República do Congo e do antigo presidente da Assembleia Nacional da RCA, Karim Meckassoua, que fugiu do país em 2021.
O grupo rebelde Coligação de Patriotas para a Mudança (CPC), dirigido pelo antigo presidente François Bozizé, também é considerado culpado.
À medida que mais informações sobre o ataque vão aparecendo, uma explicação mais simples parece ser mais provável: foi o Grupo Wagner da Rússia.
“É provável que os russos estejam a tentar obrigar os investidores chineses a saírem dos países africanos, que se tornaram dependentes do Kremlin depois de o Grupo Wagner ter sido destacado para a sua terra,” escreveu o Lansing Institute, numa análise sobre o ataque.
Um sobrevivente chinês dos assassinatos disse à Corbeau News Centrafrique (CNC), da RCA, que os atacantes eram soldados brancos fortemente armados, trajados de coletes à prova de bala e não falavam a língua francesa.
“Eles tinham máscaras para esconder os seus rostos … até as orelhas,” disse o sobrevivente à CNC. Os guardas da mina fugiram quando os homens se aproximaram, “o perigo tornou-se mais evidente quando estávamos sob a ameaça dos seus canhões,” acrescentou a testemunha.
Os homens armados obrigaram os cidadãos de nacionalidade chinesa a ajoelharem e dispararam contra eles na nuca, a testemunha disse à CNC.
A mina de proprietários chineses situa-se próximo da cidade de Bambari, o centro de várias operações mineiras. Antes de a China ter assumido Chimbolo, o Grupo Wagner tinha tentado controlar a mina, situada próximo da sua mina de Ndassima.
Os russos da mina mais próxima anteriormente ameaçaram os cidadãos de nacionalidade chinesa em Chimbolo, afirmando que eles tinham o direito de desenvolver aquela área, de acordo com a CNC.
“Os russos pensam que esta terra lhes pertence e que não depende dos chineses poder explorá-la,” comunicou a CNC.
Os mercenários do Grupo Wagner utilizaram tácticas semelhantes na Síria, em 2018, como parte de uma tentativa fracassada de assumir o controlo de campos de petróleo e de gás numa refinaria detida por ConocoPhillips.
O ataque de Chimbolo seguiu-se a uma tentativa de destruição da cervejeira Castel, de propriedade de franceses, em Bangui, por atacantes vestidos de uniforme militar e com armas parecidas com as do Grupo Wagner. O Grupo Wagner fabrica a sua própria cerveja na RCA e está a obrigar as lojas a comercializarem a mesma.
Desde que entrou na RCA em 2018, o Grupo Wagner tem estado a expandir de forma incansável a sua presença naquele país. Os operativos do Grupo Wagner servem como conselheiros e guarda-costas de Touadéra. Empresas afiliadas ao Grupo Wagner praticam a mineração de ouro e do diamante e expulsaram os mineradores artesanais da terra próxima da fronteira com o Sudão.
Os mercenários do Grupo Wagner originalmente contratados para treinar o exército da RCA agora participam em rusgas contra grupos rebeldes, levando a execuções sumárias e outras violações de direitos humanos. As operações de propaganda do Grupo Wagner apresentam filmes pro-Rússia e difundem conteúdo pro-Rússia na rádio e online. Os operativos do Grupo Wagner até controlam os processos das alfândegas da RCA.
De acordo com analistas, o ataque de Chimbolo representa dois desafios importantes para o governo da RCA: as ligações próximas com o Grupo Wagner fazem com que uma investigação do envolvimento da Rússia seja questionável; e as operações mineiras da China pagam impostos que as operações da Rússia não o fazem.
No primeiro ponto, a investigação das mortes de Chimbolo está a ser dirigida por Bienvenu Zokoué, director-geral da polícia, que tem aquilo que os observadores descrevem como sendo uma relação próxima com Vitali Perfilev, o chefe do Grupo Wagner em Bangui. Zokoué encontra-se frequentemente com ele na sede do Grupo Wagner ou na sua própria.
Pouco antes do ataque de Chimbolo, homens armados raptaram três outros cidadãos de nacionalidade chinesa na região oeste da RCA, próximo da fronteira com os Camarões. O ataque de Chimbolo fez com que Touadéra viajasse para a China para tranquilizar as empresas chinesas que operam no seu país.
“O Presidente Touadéra encontra-se num impasse com o Grupo Wagner,” escreveram recentemente os editores da CNC. “Já é altura de expulsá-los para que a República Centro-Africana mais uma vez se torne num país tranquilo e pacífico onde a vida é boa.”