Embora o terrorismo seja um problema global, é “particularmente crítico” em muitas partes de África, disse o Presidente de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, em finais de Março.
Durante uma reunião sobre o combate ao terrorismo, Nyusi partilhou as conclusões do Índice Global de Terrorismo de 2022, que mostraram que a África Subsaariana representava 48% das mortes por terrorismo global em 2021. As redes terroristas estão a sobreviver e a crescer em muitas áreas, particularmente na região do Sahel, Bacia do Lago Chade, região dos Grandes Lagos e África Austral.
“No contexto do continente africano, eles geralmente recorrem ao tráfico de recursos minerais com ênfase nas pedras preciosas e ao tráfico ilícito de droga para o financiamento das suas actividades, através do branqueamento de capitais,” disse Nyusi. “Estes recursos financeiros resultantes de actividades ilícitas apoiam o aliciamento e o recrutamento dos jovens para se juntarem às suas fileiras no seio de grupos terroristas.”
De acordo com o Centro Africano para o Estudo e Pesquisa sobre Terrorismo, cerca de 1.100 ataques terroristas foram perpetrados em África, entre Janeiro e Setembro de 2022, um período que a Vice-Presidente do Gabão, Rose Christiane Raponda, descreveu como “particularmente sanguinário.”
A violência resultou em mais de 7.800 mortes e mais de 1.770 feridos, incluindo civis, forças de segurança e funcionários governamentais.
“Os inúmeros desafios que os movimentos terroristas representam para a paz e segurança internacionais exigem que permaneçamos vigilantes, mas também que reforcemos a nossa cooperação de modo a aumentar a resistência dos Estados frágeis, particularmente na aquisição de tecnologia que [os grupos terroristas] utilizam para expandir as suas actividades criminosas,” disse Raponda ao Conselho de Segurança. “Este é um requisito fundamental, porque os grupos terroristas continuam a criar raízes nas áreas onde a autoridade ou a capacidade do Estado é insuficiente.”
Raponda apelou a todos os Estados-membros do Conselho de Segurança para reafirmarem o seu compromisso com a Declaração de Deli, que visa desenvolver princípios orientadores para combater a utilização de tecnologias novas e emergentes para fins terroristas. As directrizes abordarão assuntos relacionados com o abuso de drones, plataformas de redes sociais e crowdfunding (ou financiamento colectivo).
“As redes terroristas estão em constante mudança e resistem à mobilização da comunidade internacional,” disse Raponda. “Esta é claramente uma ameaça transfronteiriça e formidável, e nenhum governo ou organização pode combater isso por si só. Por conseguinte, uma acção concertada a nível nacional, regional e global é fundamental neste contexto.”
O Ministro dos Negócios Estrangeiros do Ruanda, Vincent Biruta, argumentou que as missões tradicionais de manutenção da paz não têm abordado eficazmente o terrorismo e o extremismo violento. Biruta salientou a importância da cooperação na luta contra o terrorismo e acrescentou que a reconstrução pós-conflito deve ser uma prioridade nas regiões afectadas.
“Aprendemos isto com a trágica história do nosso país,” disse Biruta.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, reconheceu a ameaça que as organizações terroristas continuam a representar.
“Nenhuma idade, nenhuma cultura, nenhuma religião, nenhuma nacionalidade e nenhuma região está imune, mas a situação em África é especialmente preocupante,” disse Guterres. “O desespero, a pobreza, a fome, a falta de serviços básicos, o desemprego e as mudanças inconstitucionais de governo continuam a criar um terreno fértil para a expansão insidiosa de grupos terroristas, infectando novas partes do continente. Estou profundamente preocupado com os ganhos que os grupos terroristas estão a ter no Sahel e noutras partes.”
James Kariuki, o representante permanente adjunto do Reino Unido junto da ONU, pressionou para uma maior colaboração entre a ONU, a União Africana e as comunidades económicas regionais. Ele sugeriu a utilização de sanções da ONU para cortar o financiamento de grupos terroristas, assegurando ao mesmo tempo a continuação da assistência humanitária em zonas de conflito.
“Valorizamos profundamente, profundamente a nossa cooperação com parceiros regionais sobre o regime de sanções do al-Shabaab,” disse Kariuki. “Utilizámos isto para continuar a reforçar as normas sobre o al-Shabaab, incluindo através do patrocínio da designação de indivíduos associados a esse grupo.”