EQUIPA DA ADF
Tanto no deserto da Somália, nas fronteiras porosas do Níger assim como ao longo da costa do Golfo da Guiné, muitos países africanos enfrentam ameaças semelhantes de anarquia e extremismo violento.
As forças aéreas africanas podem — e devem — desempenhar um papel fundamental para abordar estes desafios, fornecendo transporte aéreo estratégico, ajuda humanitária e alívio em situações de calamidades e ainda a capacidade de colher inteligência enquanto faz a monitoria das ameaças.
É por isso que os chefes das forças aéreas e outro pessoal proveniente de 40 países reuniram-se em Dacar, Senegal, de 28 de Fevereiro a 3 de Março, na 12.ª edição do Simpósio de Chefes das Forças Aéreas Africanas (AACS) para discutir os desafios comuns das forças aéreas do continente.
“O nosso objectivo é, em parte, reafirmar as ligações entre as forças aéreas e, em simultâneo, debater assuntos importantes da nossa cooperação,” Brigadeiro-General Papa Souleymane Sarr, Chefe do Estado-Maior da Força Aérea do Senegal, disse à imprensa local, na França, durante uma conferência de imprensa sobre o evento de quatro dias.
Sarr trabalhou como co-organizador do AACS com o General James B. Hecker, Comandante das Forças Aéreas dos EUA na Europa-Forças Aéreas em África. O tema do simpósio foi “Forças Aéreas Africanas na Luta Contra Ameaças Transnacionais.”
O simpósio é promovido pela Associação das Forças Aéreas Africanas (AAAF), uma colaboração de potências da aviação criada em 2015, quando a Costa do Marfim, a Mauritânia e o Senegal se juntaram aos EUA e assinaram a Carta da AAAF. No AACS deste ano, a Somália tornou-se o 29.º país africano a aderir à associação quando o Brigadeiro-General Mohamud Sheikh Ali Mohamed, comandante da Força Aérea da Somália, assinou a carta do grupo durante a cerimónia de abertura.
Sarr citou a ameaça do extremismo violento que, por mais de uma década, assola o norte do Mali e se alastra para os países vizinhos sahelianos, como Burquina Faso e Níger. Nos últimos anos, esta ameaça aproximou-se mais ainda dos países costeiros como Benin, Gana e Senegal.
“As ameaças agora atravessam fronteiras,” disse Sarr à imprensa local. “Temos um inimigo comum que tem em vista acabar com todos os esforços dos nossos países. Por isso, todos temos de trabalhar juntos para conseguirmos afastar este inimigo .”
Embora Sarr tenha dito que o Senegal possui capacidade de garantir a sua própria segurança, ele disse que a cooperação entre os países será essencial para enfrentar a ameaça, acrescentando que o Senegal irá “oferecer o seu apoio para todos os nossos amigos.”
Durante a conferência, os chefes de forças aéreas ou seus representantes reuniram-se para acompanhar várias apresentações sobre a acção humanitária e de alívio em situações de desastre, inteligência, vigilância e reconhecimento, mulher, paz e segurança, entre outros assuntos. O simpósio providenciou espaço para encontros bilaterais entre os chefes das forças aéreas, para que pudessem debater questões mais específicas de um para um.
O evento também contou com um fórum para oficiais superiores alistados e momentos culturais para fomentar a camaradagem entre os participantes.
Os líderes de forças aéreas de todo o continente afirmaram que consideram importante que haja encontros para partilhar preocupações e desafios.
“O simpósio melhora as nossas relações,” disse o Brigadeiro-General Hermalas Ndabashinze, Chefe da Força Aérea do Burundi. “Partilhamos o valor das nossas forças aéreas nas apresentações e nos encontros bilaterais.” Ele disse que, se os chefes de forças aéreas notarem que algo funciona num outro lugar, eles podem procurar aplicar esta melhor prática nas suas próprias forças.
O Major-General Ian Macleod Chirwa, comandante da força aérea do Malawi, disse à ADF que a força aérea do seu país apenas passou a existir nos últimos dois anos, depois de uma transição, deixando de ser um braço aéreo.
“Esta conferência tem tantas vantagens,” disse. “O Malawi como país valoriza a segurança, o bem-estar e a paz. Então, a visão dos chefes de forças aéreas africanas é de reunirem-se e criarem relações africanas fortes, em termos de segurança, paz e bem-estar. Pelo que este é um fórum especial para contribuir como um malawiano e como uma força aérea, para contribuir para esta parceria importante com tantos outros países.”
O Níger, um país cercado por extremistas violentos originários do Mali, a oeste, e do norte da Nigéria e da Bacia do Lago Chade, a sudeste, considera a cooperação regional e internacional como essencial para a sua segurança.
“Este simpósio é muito importante para nós, porque temos de partilhar experiência, temos de criar um mecanismo onde podemos utilizar os nossos activos com outros parceiros,” Coronel Salifou Maïnassara, Chefe do Estado-Maior da Força Aérea do Níger, disse à ADF.
Os países africanos que participaram no simpósio são Argélia, Angola, Benin, Botswana, Burundi, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Egipto, Guiné Equatorial, Eswatini, Gabão, Gana, Guiné-Bissau, Quénia, Lesoto, Líbia, Madagáscar, Malawi, Mauritânia, Marrocos, Moçambique, Níger, Nigéria, República do Congo, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Somália, Tanzânia, Togo, Tunísia, Uganda e Zâmbia.
A próxima edição do AACS está marcada para início de 2024 e terá lugar na Tunísia. O tema da mesma estará centrado na criação de capacidades da próxima geração para África.