As forças da Somália mataram seis combatentes do al-Shabaab, em finais de Janeiro, mas não antes de os terroristas terem bombardeado o escritório do Presidente do Conselho Municipal de Mogadíscio, terem invadido o edifício do governo, matado pelo menos cinco civis e ferido pelo menos 16 outras pessoas.Tratou-se de um dos mais recentes numa série de ataques terroristas que têm cada vez mais sido perpetrados na Somália e noutras partes da África Subsaariana nos últimos anos.
Assim como o al-Shabaab, os grupos extremistas violentos, como o Al-Sunna wa Jama’a, ou ASWJ, o Boko Haram, o Daesh e o Jama’at Nusrat al-Islam wal Muslimeen, ou JNIM, estão à procura de insatisfações dos locais para criar um espaço, essencialmente nas comunidades rurais, em toda a região. Esta fou uma das conclusões do novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Um recente relatório do PNUD classifica África Subsaariana como um dos novos epicentros do mundo do extremismo violento.
Aproximadamente metade de todas as mortes relacionadas com o terrorismo, a nível global, ocorreram na África Subsaariana, em 2021. Quatro dos 10 países mais afectados foram Burquina Faso, Mali, Níger e Somália, onde 34% das mortes relacionadas com terrorismo ocorreram, de acordo com o PNUD.
O aumento da violência “não apenas impacta de forma adversa as vidas, a segurança e a paz, mas também ameaça reverter os ganhos do desenvolvimento arduamente conseguidos por gerações e gerações,” disse o Administrador do PNUD, Achim Steiner, numa conferência de imprensa.
A violência está cada vez mais a aumentar na África Subsariana à medida que os grupos extremistas perdem o terreno no Iraque, na Síria e em outras partes do mundo. A região é alvo por causa dos seus recursos naturais e localizações estratégicas ao longo de principais rotas terrestres e marítimas, incluindo zonas com fraco historial de segurança.
Em Moçambique, por exemplo, o ASWJ capturou a cidade portuária de Mocímboa da Praia, em 2020. A cidade está próxima do local de exploração de projectos de gás natural, avaliados em 60 bilhões de dólares. O porto foi encerrado por mais de dois anos antes de ser reaberto, em finais de 2022.
A região também alberga uma enorme população jovem que procura emprego e pode ser persuadida a juntar-se a grupos extremistas violentos por razões ideológicas.
De acordo com o PNUD, os grupos extremistas violentos procuram recrutar pessoas que sentem que estão a receber tratamento injusto por parte das forças governamentais ou pelas milícias locais, percebem a corrupção entre os detentores de poder e estão insatisfeitos com a gestão de terras. As pessoas que destas regiões sentem que as disputas não são resolvidas de forma eficaz e os sistemas judiciais dão às vítimas do crime pouca esperança pela justiça.
Somente no Quénia, os ataques ligados ao al-Shabaab aumentaram de 51, em 2021, para 77, em 2022, um aumento de 26%, de acordo com um relatório do Centro de Direitos Humanos e Estudos de Políticas (CHRIPS). Cerca de metade dos ataques tiveram como alvo as autoridades de segurança. O ataque de 2022 resultou em 116 mortes — um aumento, em comparação com 100, em 2021 — incluindo 42 civis.
Muitos dos ataques estiveram concentrados próximo da fronteira do Quénia com a Somália, afirmou o relatório. Os ataques essencialmente tiveram como alvo viaturas de segurança, algumas aldeias e projectos portuários e rodoviários.
“Embora as autoridades de segurança e os órgãos de combate ao terrorismo no país possam ser elogiadas pelo aumento das medidas colocadas em vigor para conter o extremismo violento, no Quénia, os dados do Observatório demonstram que o al-Shabaab continua a representar uma ameaça, uma vez que a frequência dos ataques relacionados com o terrorismo aumentou ao longo do ano, essencialmente tendo como alvo oficiais de segurança primariamente em trânsito ou em patrulha, através do uso de vários dispositivos explosivos,” disse o investigador do CHRIPS, Rahma Ramadhan.
O mais recente relatório do PNUD indica que os esforços do exército por si só não são suficientes para derrotar o extremismo.
“As respostas de combate ao terrorismo impulsionadas pela segurança, muitas vezes, são dispendiosas e pouco eficazes, mesmo assim, os investimentos em abordagens preventivas para o extremismo violento são lamentavelmente inadequados,” disse Steiner. “O contrato social entre os Estados e os cidadãos deve ser revigorado para lidar com as principais causas do extremismo violento.”
O relatório argumenta que novas abordagens para conter o extremismo violento devem ter em vista compreender as formas complexas através das quais os grupos extremistas violentos recrutam ou intimidam civis enquanto agem como alternativas à autoridade do Estado.
Esse conhecimento pode ajudar os actores a trabalharem com os governos locais e nacionais para garantirem que a população tenha acesso aos direitos, bens e serviços de que precisam para viverem de forma próspera.
A justiça transicional, o processo de responder a violações de direitos humanos, através de melhorias judiciais e reformas políticas, é de extrema importância para reconstruir Estados inclusivos no contexto da violência extremista, disse Amanda Lucey, líder sénior de projectos do grupo de reflexão sul-africano, Institute for Justice and Reconciliation.
Lucey concordou que os fracassos sistemáticos do Estado, as oportunidades económicas limitadas, a marginalização e a discriminação levaram a um aumento de grupos extremistas violentos em África, especificamente a radicalização de jovens.
“Isso requer uma mudança de pensamento político, de uma maior ênfase no indivíduo para as condições colectivas e estruturais que dão lugar à violência e uma compreensão de que a radicalização pode emergir da ausência de alternativas, em que o Estado se deve envolver,” Lucey escreveu para o site de notícias sul-africano, news24.com.