Um novo grupo rebelde tigrenho está a entrar em confronto com a Frente Popular de Libertação do Tigré (TPLF), realizando ataques a civis na região de Afar e renovando as tensões ao longo da linha da frente da guerra civil do país.
Isso está a alimentar os receios de que a frágil paz da Etiópia, que começou em 2022 com o acordo de paz de Pretória, esteja ameaçada.
De acordo com a revista The Africa Report, o grupo rebelde conhecido como Força de Paz do Tigré (TPF) foi criado por ex-membros insatisfeitos das Forças de Defesa de Tigré (TDF) e comandantes de nível médio da TPLF que se sentiram abandonados após o acordo de paz.
“Eles não viam algum futuro na liderança da TPLF,” uma fonte anónima familiarizada com o grupo disse à revista. “Eram combatentes que acreditavam estar a defender a liberdade do Tigré, não a preservar a mesma velha elite.”
A TPF pretende, alegadamente, pôr fim ao domínio político da TPLF no Tigré e que as forças armadas do Tigré sejam neutras. A TPF opõe-se ao apoio dos generais seniores do Tigré à TPLF. A TPLF e os militares do Tigré acusam o governo etíope de apoiar os rebeldes, de acordo com uma reportagem do newaddis.com. Os rebeldes acusam a TPLF de se aliar à Eritreia para reacender o conflito no Tigré.
Operando a partir da fronteira sudeste entre o Tigré e Afar, a TPF declarou partes desta área como “terra hara,” que significa terra livre na língua tigrenha, uma zona simbólica fora da autoridade da TPLF. A sua retórica demonstra frustração com a hierarquia política de Mekelle, capital do Tigré, e exige um “novo Tigré” baseado na justiça e na inclusão. A administração provisória do Tigré insistiu que não haverá enclaves separatistas.
“A [chamada] terra livre está dentro do Estado Regional de Afar, não no Tigré,” o Tenente-General Tadesse Werede, presidente interino do Tigré, disse à revista The Africa Report. “Qualquer provocação por parte dos [rebeldes em] Afar será considerada uma agressão por parte do governo de Afar ou do governo federal.”
A TPF começou a organizar operações em Afar em 2025. No dia 2 de Julho, dezenas de combatentes armados da TPF entraram no distrito de Wajerat, no sul do Tigré. Lá, os rebeldes lutaram contra as forças armadas do Tigré, embora a extensão das perdas sofridas por ambos os lados seja desconhecida. No dia 30 de Setembro, a TPF foi acusada de atacar as forças da TPLF em Milazat e matar um combatente.
As tensões aumentaram no dia 5 de Novembro, quando a TPLF foi acusada de cruzar a fronteira com Afar, tomar seis aldeias e atacar pastores civis com morteiros no distrito de Megale. A Administração Regional de Afar caracterizou o ataque como “actos de terrorismo,” prometeu defender o seu território e afirmou que os combates “destruíram abertamente o acordo de paz de Pretória,” segundo noticiou a Al Jazeera.
No entanto, as unidades alinhadas com a TPLF insistiram que estavam a responder a ataques de “um grupo armado apoiado pelo governo federal.” O General Weldegiorgis Teklay, da TDF, disse que as tropas entraram em Afar “para repelir os ataques realizados pela Força de Paz do Tigré.”
“Os confrontos transformaram a fronteira de Afar num campo de batalha por procuração para a disputa interna do Tigré, que corre o risco de arrastar o governo federal de volta para a crise do norte,” o analista Michael Musrie escreveu na revista The Africa Report.
Analistas afirmam que uma acirrada disputa política está por trás da violência. Os observadores locais vêem isso como parte de um realinhamento em curso entre os detentores do poder no Tigré.
“Este caos é entre a TPLF e a TPF dentro de Afar,” Adem Ummer Adem, residente de Kemisse, perto de Afar, disse à The Africa Report. “A TPLF tentou abrir um escritório em Deqemehari, perto da Eritreia, mas os residentes locais resistiram. Muitos combatentes da TPLF já se juntaram à TPF, e a antiga TPFL teme perder o seu controlo.”
Adem alegou que os poderosos líderes da TPLF mantêm laços com o presidente da Eritreia, Isaias Afwerki, enquanto a TPF ganha simpatia entre os principais actores federais.
“Embora essas alegações permaneçam não verificadas, elas ressaltam a complexa teia de antigas lealdades, novas ambições e interferências externas que moldam a política pós-guerra do Tigré,” escreveu Musrie.
Os analistas vêm a crise em curso como um sintoma das fracturas pós-guerra não resolvidas da Etiópia.
“A Etiópia está numa encruzilhada crítica,” Negalegne Mequanint, analista de conflitos baseado em Washington, D.C., disse a Musrie. “A crise em Amhara continua a infligir uma dor insuportável e agora o Tigré corre o risco de voltar ao caos. Abrir uma nova frente em Afar em meio à instabilidade nacional é um acto de autodestruição nacional.”
