Abubakar Adamu iniciou a sua carreira militar no exército nigeriano em 1987, anos antes da invenção da World Wide Web e muito antes de qualquer lugar do mundo ter ouvido falar da internet, muito menos ter-se conectado a ela. Em 35 anos de serviço, ele viu a sua carreira evoluir a par da revolução digital.
Oficial de comunicações e processamento de dados, o major-general reformado Adamu tornou-se o primeiro comandante do Comando de Guerra Cibernética do Exército em 2022. Ele desempenhou um papel significativo ao ajudar a Nigéria a aproveitar a tecnologia para construir as suas capacidades digitais de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR).
Hoje, defende a expansão da capacidade digital de ISR em África para ajudar a combater grupos terroristas cada vez mais sofisticados, como o Boko Haram, que cresceu em poder e se espalhou pela região do Lago Chade durante o tempo em que Adamu esteve no Exército.
“A tecnologia é a força motriz do que estamos a fazer, seja em tempos de crise ou de paz,” disse num webinar realizado no dia 3 de Dezembro pelo Centro Africano de Estudos de Segurança. “Há muita colaboração entre todas as agências. Quando uma agência não tem as ferramentas adequadas, colaboramos com todas as agências que as têm.”
Numa altura em que grupos terroristas bem financiados continuam a inovar, adaptar-se e expandir-se num cenário cada vez mais complexo, as forças de segurança africanas devem adoptar o uso de ferramentas digitais de ISR e expandir a capacidade de proteger civis e garantir a segurança do território.
A inteligência de código aberto (OSINT), a monitorização em tempo real das redes sociais e outras ferramentas digitais que processam e integram dados e inteligência em vários domínios ajudam os governos e as forças armadas a manter-se à frente dos terroristas através de capacidades ISR melhoradas.
“Fazemos análises de sentimentos para pessoas que estão online, particularmente usando a Meta ou o Facebook, e também respondemos a narrativas em mudança,” destacou Adamu. “Utilizamos o software de investigação Maltego em vários momentos, particularmente para metadados, para obter tudo o que as pessoas estão a discutir, principalmente na dark web e outros domínios, e para combater a propaganda extremista e o recrutamento na internet.”
Ahmed Labaran, do Serviço Alfandegário da Nigéria, escreveu recentemente um artigo sobre como a combinação de inteligência geoespacial (GEOINT) e OSINT é muito promissora para a aplicação da lei.
“Um novo paradigma de conhecimento, quase uma disciplina em si mesma, a GEOINT combina imagens de satélite, sistemas de informação geográfica, teledetecção, dados de posicionamento e análises para fornecer uma representação visual das características geográficas, actividades e mudanças ao longo do tempo,” escreveu na edição de 27 de Outubro da revista trimestral da Organização Mundial das Alfândegas.
“O uso da OSINT em zonas de conflito tem sido fundamental. Os geodados são úteis para o planeamento de operações perto de campos humanitários ou para a entrega de ajuda. No entanto, antes de partilhar quaisquer dados relacionados com estas áreas, as administrações devem garantir que os modelos analíticos não são discriminatórios e estão isentos de preconceitos políticos, principalmente quando a dinâmica da comunidade é sensível.”
Os especialistas elogiam as Forças Armadas da Nigéria (AFN) por oferecerem um modelo eficaz a outros países africanos que procuram criar instituições que possam melhorar os esforços de combate ao terrorismo online. Além do Comando de Guerra Cibernética da Nigéria, as AFN criaram a Administração Espacial de Defesa em 2016 para desenvolver e fornecer capacidades espaciais e cibernéticas.
Adamu reconheceu que há muitos desafios na implantação e dependência da tecnologia num continente que ainda está em desenvolvimento.
“A maioria dos produtos que obtemos vem de fora,” disse. “Precisamos de colaborar muito, tanto dentro como fora de África. Por isso, precisamos de construir a nossa infra-estrutura e também desenvolver muita capacidade, além de termos uma gestão fiável da cadeia de abastecimento.”
Adamu alertou que os actores não estatais estão a utilizar essas mesmas tecnologias, o que reforça a necessidade de as forças armadas africanas inovarem, anteciparem e se manterem à frente. Ele exortou todos os países que lutam contra o terrorismo a incorporar ferramentas modernas de ISR para fortalecer a consciência situacional, acelerar a tomada de decisões e refinar a eficácia operacional.
“Os governos africanos devem priorizar a harmonização das políticas relacionadas com ISR, particularmente aquelas aplicadas nas cadeias de abastecimento e na gestão de dados,” disse. “Os países que investirem em soluções tecnológicas que possam ser usadas na colaboração regional serão de grande ajuda.”
“A Nigéria também conta com uma estratégia nacional de segurança cibernética. Penso que ela precisa de ser estendida a outros para adopção, e então poderemos trabalhar em colaboração com todos os países africanos, particularmente os nossos vizinhos, porque ninguém está no controlo quando se trata de tecnologia.”
