Numa altura em que a insegurança no Sahel continua a aumentar para oeste e sul, o Gana está a reforçar a sua segurança marítima para combater crimes marítimos, como a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada, a pirataria e o tráfico ilícito de armas. Muitas armas ilegais passam pelo Gana a caminho do Sahel.
Escrevendo para a revista The Africa Report, o analista Kent Mensah observou que a crescente colaboração do Gana com a União Europeia, a Alemanha e a França, que se retirou completamente do Sahel para se concentrar mais nos Estados costeiros, posiciona Acra como uma “nova força estabilizadora na região.”
Em Setembro de 2025, o Tonnerre, um navio de guerra anfíbio francês, entrou no porto de Tema, no Gana, para participar no Siren, um exercício regional conjunto da marinha que se concentrou em exercícios de combate à pirataria, controlo da poluição e resposta a crises. O Tonnerre também participou no exercício de segurança marítima Grand African Nemo, com duração de uma semana, que envolveu 20 nações africanas. O exercício, realizado em Acra, capital do Gana, terminou a 17 de Novembro.
“Tenho orgulho em reafirmar o compromisso do Gana com a segurança marítima regional e a gestão sustentável das pescas,” Emelia Arthur, Ministra das Pescas do Gana, disse à The Africa Report. “A pesca ilegal, a pirataria e o tráfico ameaçam os meios de subsistência do nosso povo.”
Em Dezembro de 2024, Acra inaugurou a sua maior base operacional avançada em Ezinlibo, no Golfo da Guiné, perto da fronteira com a Costa do Marfim. Estão previstas mais bases para as cidades costeiras de Ada, Elmina, Keta e Winneba. De acordo com o contra-almirante Godwin Livingston Bessing, chefe do Estado-Maior da Marinha do Gana, o país está a preparar-se para uma postura marítima mais assertiva.
“Estamos em vias de adquirir navios de patrulha offshore para reforçar as nossas capacidades operacionais,” Bessing disse à The Africa Report. “Isto garante que estamos mais bem preparados para proteger o nosso território marítimo e combater ameaças tradicionais e emergentes.”
O Gana também deverá criar um novo Centro de Fusão Marítima para reforçar a sua capacidade de resposta a crimes marítimos, incluindo ataques a cabos submarinos que servem de linha de vida digital do país.
Em 2025, o Gana adoptou uma nova lei destinada a travar a pesca ilegal. Entre outras novas regulamentações, o governo ganês ampliou a zona de exclusão costeira (ZEC) do país de 6 para 12 milhas náuticas da costa. Arrastões estrangeiros da China e de outras áreas, muitas vezes, violam a ZEC do Gana para capturar peixes destinados aos pescadores artesanais do país. A pesca ilegal custa ao país cerca de 14,4 a 23,7 milhões de dólares anualmente.
Embora a pirataria no Golfo da Guiné tenha diminuído, ela ainda ameaça o Gana, outras nações costeiras e a indústria naval. Em 2023, 26,5 milhões de toneladas de carga passaram pelos portos ganeses, que servem como um corredor comercial estratégico para países vizinhos sem litoral, como Burquina Faso, Mali e Níger.
No início de Dezembro, piratas atacaram um navio que transportava gás de petróleo liquefeito no Golfo da Guiné, perto da Guiné Equatorial, e sequestraram nove tripulantes. Na altura, o Neptune P2P Group, uma empresa internacional de segurança privada, relatou que houve pelo menos 17 assaltos à mão armada ou incidentes de pirataria no Golfo da Guiné durante o ano passado.
Mesmo quando a pirataria tem origem longe das águas do Gana, “ainda sentimos o impacto — desde ameaças à infra-estrutura energética offshore até interrupções nos cabos de comunicação marítima,” Kamal-Deen Ali, director-geral da Autoridade Marítima do Gana, disse à The Africa Report.
O vice-Almirante Issah Yakubu, presidente-executivo do Instituto Marítimo do Golfo da Guiné, disse que, embora a coordenação regional e a partilha de informações tenham avançado na última década, a região continua a ser alvo de crimes marítimos, visto que muitos aliados estrangeiros retiraram os seus navios de guerra da região devido à guerra da Rússia na Ucrânia.
“Isso expôs os limites de confiar-se na presença naval estrangeira,” Yakubu disse à The Africa Report. “Os nossos governos devem investir mais. O Gana destaca guardas armados para embarcações de pesca, mas é preciso fazer mais para fortalecer as operações conjuntas em toda a região.”
