Na sequência do aumento do número de refugiados provenientes do vizinho Mali, a Costa do Marfim está a reforçar as forças de segurança ao longo da sua fronteira norte. Os refugiados estão a fugir dos ataques terroristas e dos bloqueios económicos no seu país natal.
O Conselho de Segurança Nacional da Costa do Marfim afirmou que estava a reforçar a segurança nas fronteiras, incluindo a tomada de medidas para registar todos os malianos que procuram asilo. O portal GhanaWeb descreveu a situação como “vários fluxos invulgares de refugiados.”
O mais recente aumento do número de refugiados resulta da renovada agressão do grupo terrorista Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), uma filial da al-Qaeda que impôs um bloqueio de combustível no Mali. O grupo tem vindo a expandir as suas operações para oeste e sul. As autoridades malianas rejeitaram as sugestões de que os terroristas podem ameaçar Bamako, a capital do Mali, num futuro imediato, segundo noticiou a Africanews.
O bloqueio de combustível, agora no seu terceiro mês, está a paralisar o país. No bloqueio, que a BBC descreve como “guerra económica,” os terroristas sequestraram motoristas de camiões-cisterna e destruíram mais de 100 camiões que se dirigiam para a capital. Os terroristas estão a concentrar-se nos camiões-cisterna que vêm do Senegal e da Costa do Marfim, por onde passa a maioria das mercadorias importadas do Mali, informou a Agence France-Presse (AFP).
Embora os terroristas tenham usado tácticas semelhantes em outras partes do país, esta é a primeira vez que eles têm como alvo específico a capital, informou a AFP. O bloqueio tem sido devastador, com escolas e empresas a encerrar, preços dos alimentos a triplicar e hospitais que dependem de geradores a diesel a enfrentar cortes de energia eléctrica. Além de paralisar a economia, o bloqueio promove os planos de expansão do JNIM, visto que os terroristas visam as auto-estradas que ligam o Mali aos seus vizinhos a oeste e sul, observou a BBC.
Alguns países instam os seus cidadãos a abandonarem o Mali imediatamente, temendo pela sua segurança. Outros países evacuaram o seu pessoal não essencial, de acordo com os serviços noticiosos.
Desde o golpe de 2021, o Mali é governado por um governo militar que prometeu deter os terroristas. Inicialmente, esperava-se que o golpe fortalecesse as forças armadas, mas apenas serviu para aprofundar as divisões, “dividindo o exército entre os leais privilegiados do regime e aqueles enviados para a linha de frente,” relata o Atlantic Council. A fragmentação militar levou ao abandono de posições, armas caíram nas mãos de separatistas e terroristas expandiram o seu domínio sobre o norte rural.
Os problemas do Mali são agora os problemas da região, à medida que os terroristas saqueiam trechos desprotegidos do Sahel na sua busca por estabelecer um governo que governaria através de leis muçulmanas rígidas. Os terroristas já deslocaram milhões de pessoas e paralisaram as economias regionais, forçando países como a Costa do Marfim a reforçarem a segurança das suas fronteiras.
A Costa do Marfim, com a sua economia próspera e cinco grandes portos, há muito que é alvo da expansão terrorista. O porto de Abidjan é o centro económico da região e movimenta 80% das trocas comerciais do país. Os portos são cruciais para o comércio interno e como pontos de embarque para os vizinhos sem litoral, nomeadamente Burquina Faso, Mali e Níger.
A Costa do Marfim vem se preparando para a ameaça terrorista há anos. Ela desenvolveu a sua estratégia nacional de combate ao terrorismo em 2018. O país intensificou os seus esforços em 2020, quando os extremistas do Burquina Faso começaram a cruzar a fronteira e lançar ataques. As invasões foram apoiadas por campanhas de propaganda e ameaças contra civis.
Em 2021, a Costa do Marfim inaugurou a sua Academia Internacional de Combate ao Terrorismo, que inclui um centro de treino para forças especiais e um instituto de investigação. A instituição treina polícias, militares, funcionários aduaneiros e administradores prisionais. O país também organizou programas para educar e empregar jovens.
Observadores dizem que, embora os terroristas tenham expandido as suas operações e avançado em direcção aos países do Golfo da Guiné, eles não parecem capazes de ameaçar Bamako num futuro próximo. Charlie Werb, analista da Aldebaran Threat Consultants, disse que a crise de segurança da região é “complexa,” sem “soluções rápidas,” informou a AFP.
“Não acredito que o JNIM possua a capacidade ou a intenção de tomar Bamako neste momento, embora a ameaça que agora representa para a cidade seja sem precedentes,” disse.
As condições no Mali foram agravadas por tensões étnicas nas regiões central e norte, por abusos militares e pela falta de confiança entre as comunidades, informou o Atlantic Council. Isso levou à formação de milícias de autodefesa, com aldeias inteiras a recusarem-se a cooperar com as Forças Armadas do Mali.
“Por enquanto, a tarefa urgente é reparar o tecido nacional, restaurar a ordem constitucional dentro de um quadro de governação renovado e reconstruir alianças,” informou o conselho. “Para isso, o exército deve regressar à sua função principal: defender a pátria, não governar.”
