A propaganda implacável apoiada pela Rússia retrata Burquina Faso como um país que está a abrir novas fábricas e a pagar a sua dívida externa. A realidade é completamente diferente: a maior parte do país está fora do controlo do governo, enquanto os terroristas tentam cercar a capital, Ouagadougou.
Os analistas estimam que os extremistas do Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) e do Estado Islâmico da Província do Sahel (ISSP) controlam cerca de 60% do território do Burquina Faso. Os grupos expandiram o seu domínio nos anos que se seguiram à ascensão da junta liderada pelo Capitão Ibrahim Traoré em 2022.
Após o golpe que levou Traoré ao poder, o Burquina Faso expulsou a operação antiterrorista francesa Barkhane e recorreu aos mercenários do Grupo Wagner da Rússia para obter apoio contra os dois grupos terroristas.
A expansão territorial dos terroristas coincidiu com a brutalidade do Grupo Wagner e a violência generalizada das milícias Voluntários para a Defesa da Pátria do país. Ambos os grupos atacaram civis suspeitos de cooperarem com o JNIM e o ISSP, que operam no Burquina Faso, no Mali e no Níger.
À medida que o JNIM bloqueia o abastecimento de combustível no vizinho Mali, os observadores questionam se o JNIM e o ISSP têm capacidade para conquistar Ouagadougou e tomar o controlo do Burquina Faso.
Escrevendo para o Instituto de Estudos Estratégicos, os analistas Djiby Sow e Hassan Koné afirmam que nem o JNIM nem o ISSP expulsaram as forças governamentais de comunidades rurais como Djibo, e ambos carecem da capacidade para tomar o controlo de comunidades maiores ou da capital.
O JNIM bloqueou e invadiu Djibo, perto da fronteira com o Mali, durante cinco anos antes de assumir o controlo da cidade em Maio. Soum, a província do norte onde Djibo está localizada, é um reduto do JNIM desde 2015.
“Eles não têm o poder de fogo e as capacidades logísticas para sustentar um cerco prolongado e a ocupação de uma grande cidade,” escreveram Sow e Koné. “A sua força reside na mobilidade e no conhecimento local, e não na capacidade de ocupar e governar territórios por longos períodos.”
Além disso, a opinião pública em Ouagadougou e outras capitais do Sahel continua hostil aos grupos terroristas, porque as suas acções resultam em violência, instabilidade e sofrimento nacional, de acordo com Sow e Koné.
É mais provável, dizem os analistas, que o JNIM e o ISSP utilizem essa violência, instabilidade e sofrimento para isolar Ouagadougou.
O analista Will Brown, investigador sénior de políticas para África no Conselho Europeu de Relações Externas, prevê “um cenário ao estilo de Mogadíscio, onde o governo está cada vez mais confinado a uma capital em conflito.”
“As forças governamentais parecem estar em desvantagem e estão a lutar para controlar grande parte do território fora da capital, apesar do que diz toda a propaganda ensurdecedora,” Brown disse ao The Africa Report. “Os nossos contactos dizem-nos que o moral das forças armadas está baixo e que as forças jihadistas estão armadas até aos dentes com equipamento saqueado.”
A partir da sua posição em Ouagadougou, a junta conta com o sucessor do Grupo Wagner, o Africa Corps, para proteger Traoré e gerar propaganda que promova o regime. Entretanto, a segurança no Burquina Faso continua a deteriorar-se.
“A abordagem da Rússia é a desestabilização e foi isso que eles conseguiram,” o analista Bram Posthumus disse ao The African Report. “As juntas são baratas, a propaganda é barata, os troll farms são baratos, a assistência de segurança limitada é barata e até mesmo o discurso da ‘soberania’ é barato. O objectivo é causar o máximo de perturbação com o mínimo de custo.”
