O Gana reconheceu que a sua luta contra a mineração ilegal de ouro, conhecida como galamsey, é uma questão de segurança nacional. Agora, especialistas afirmam que as ligações entre a galamsey, o terrorismo, as redes criminosas transnacionais e outras economias ilícitas são um problema para a maior parte da África Ocidental.
É sabido que os lucros da galamsey acabam nas mãos de organizações terroristas. Liam Morrisey, consultor de mineração e riscos de segurança, acredita que o Gana corre o risco de ser infiltrado por esses militantes que operam na fronteira norte do país e arredores.
“A ameaça que a galamsey representa é desprezível, e o Gana precisa de tratá-la como uma emergência antes que esses terroristas cheguem aqui,” disse à rede de notícias TV3 numa entrevista de 15 de Outubro. “Olhando para as fronteiras porosas e as questões de instabilidade no Burquina Faso, o Gana pode ser um alvo fácil. Sei que as autoridades estão cientes disso e que será prudente impedir que isso aconteça antes que chegue aqui.”
A área da tríplice fronteira onde o Burquina Faso e a Costa do Marfim se encontram com o noroeste do Gana emergiu como um centro de recursos para a Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), afiliada da al-Qaeda, de acordo com um relatório de 20 de Outubro da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC).
Lucia Bird, co-autora do relatório e directora do Observatório de Economias Ilícitas na África Ocidental da GI-TOC, disse que o norte do Gana está cercado pela JNIM.
“Devido à estrutura da economia da mineração de ouro — o ouro artesanal flui para o norte, o financiamento vem para o sul — tudo isso torna a região vulnerável à infiltração da JNIM,” disse à agência de notícias alemã Deutsche Welle.
A galamsey estava entre as 20 economias ilícitas identificadas pela GI-TOC na África Ocidental. As mais proeminentes e difundidas eram o tráfico de drogas, o tráfico de armas e o comércio ilícito de ouro.
“Estas incluem mercados abertamente criminosos, como o tráfico de armas e o sequestro, e economias ilícitas que se sobrepõem a outras actividades económicas, que as populações locais podem considerar meramente ‘informais,’” lê-se no relatório.
A área da tríplice fronteira é um corredor fundamental para o roubo de gado e o comércio ilícito de animais, que são outras fontes críticas de receita para a JNIM. O contrabando transfronteiriço na área também inclui combustível e motocicletas, muitos dos quais passam pelos portos costeiros do Gana antes de serem traficados para o norte. A GI-TOC afirmou que as cidades fronteiriças ganesas de Tumu e Hamile são pontos de trânsito fundamentais para o fluxo de combustível para o Burquina Faso.
A estratégia da JNIM é garantir recursos sem recorrer à violência nos seus principais corredores logísticos.
“O comércio ilícito de ouro é fundamental para a obtenção de recursos, o financiamento e a criação de legitimidade para os grupos armados,” afirmou a GI-TOC. “Embora alguns grupos armados se dediquem directamente à mineração de ouro, na maioria das vezes obtêm receitas através da tributação das actividades mineiras, por vezes, em troca da garantia de segurança ou, no mínimo, de não atacarem a própria comunidade mineira.”
O Gana está a enfrentar o seu problema de galamsey, mas a mineração de ouro é uma indústria importante que se estima empregar um milhão de ganeses. O governo intensificou a vigilância das fronteiras e lançou novas operações contra a mineração ilegal, mas Morrisey quer que as autoridades identifiquem aonde o dinheiro e o ouro ilícitos vão parar.
“Devemos ir além do simples rastreamento, devemos reforçar o controlo das fronteiras,” afirmou. “Os grupos da sociedade civil devem denunciar qualquer coisa suspeita. As forças armadas e a polícia civil também devem trabalhar em conjunto, e então o governo deve intensificar o envolvimento da comunidade.”
