Observadores internacionais acusam as Forças Armadas do Sudão (SAF) de usar armas químicas proibidas contra as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares, com base, em parte, em provas recentes em vídeo de um ataque em 2024 a uma base militar e refinaria de petróleo a norte de Cartum.
Os combatentes das RSF ocupavam a base em Garri e a refinaria de petróleo al-Jaili nas proximidades na altura da batalha de Setembro de 2024 com as SAF.
Na altura da batalha, as RSF controlavam a refinaria de petróleo desde Abril de 2023. As SAF recapturaram-na em Janeiro de 2025.
Vídeos e imagens publicados nas redes sociais sobre o ataque das SAF à base militar de Garri, no dia 5 de Setembro de 2024, mostram uma nuvem de gás verde-amarelado espalhando-se pelo solo e subindo no ar. Uma semana depois, no dia 13 de Setembro, as RSF informaram que aviões de guerra das SAF lançaram bombas contendo gás tóxico perto da refinaria de petróleo. O gás causou problemas respiratórios aos trabalhadores da refinaria.
Especialistas afirmam que a nuvem que se formou durante o ataque de 5 de Setembro é provavelmente uma evidência de que as SAF utilizaram gás cloro. A arma é semelhante à que o governo da Síria utilizou contra os rebeldes há quase uma década.
As SAF negaram ter usado armas químicas.
Essa negação foi recebida com cepticismo quando a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos se reuniu no dia 21 de Outubro na Gâmbia. Os membros da comissão pediram que o Sudão cooperasse com os investigadores da Organização para a Proibição de Armas Químicas para determinar os factos.
O Sudan War Monitor está entre os observadores que contestam a negação das SAF.
“Através da nossa monitorização das redes sociais, identificámos relatos potencialmente credíveis e provas visuais da utilização de armas químicas, embora não possamos avaliar a extensão destes ataques,” relatou o Sudan War Monitor, uma colaboração entre jornalistas e investigadores de fontes abertas, em Maio, pouco depois de o governo dos Estados Unidos ter acusado as SAF de lançarem ataques químicos.
O Sudan War Monitor relatou que as SAF utilizaram bombas de barril contra civis nas regiões de Darfur e Cordofão. As bombas de barril, como o nome indica, são uma forma de dispositivo explosivo improvisado (DEI) feito a partir de um barril de óleo ou recipiente semelhante e cheio de explosivos. Elas foram condenadas pelo direito internacional.
Relatórios de fontes abertas e análises de especialistas da France 24 Observers apoiam as alegações de que as SAF utilizaram gás cloro em Garri. Imagens tiradas por combatentes das RSF dentro da base de Garri mostram barris verdes e amarelos no chão.
“Estas são claramente botijas de cloro,” Dan Kaszeta, especialista em defesa química, disse à France 24 Observers. “Este tipo de recipiente é usado em todo o mundo para o tratamento de água.”
Um dos barris tinha marcas visíveis que o ligavam a um carregamento de cloro líquido de uma empresa química indiana para Port Sudan em Agosto de 2024. O cloro líquido destinava-se ao tratamento da água potável no Sudão.
Imagens semelhantes tiradas na refinaria de petróleo no dia 13 de Setembro mostram outro barril debaixo de uma árvore. Homens que trabalhavam na refinaria relataram que o barril vazou uma substância que levou várias pessoas ao hospital com graves problemas respiratórios.
Um engenheiro que trabalhava na refinaria no momento do ataque disse à France 24 Observers que ajudou vários colegas que foram encontrados inconscientes ou com dificuldades respiratórias no local onde o barril caiu.
Kaszeta disse à France 24 Observers que um ataque aéreo como os da região de Garri provavelmente não mataria ninguém imediatamente.
“Na realidade, é muito difícil matar alguém com este gás quando ele é disperso ao ar livre, desta forma. É usado principalmente como um forte irritante, para forçar os oponentes a sair dos abrigos e torná-los vulneráveis ao bombardeamento convencional. Era assim que era usado principalmente na Síria,” disse.
Especialistas em armas químicas disseram à France 24 Observers que os ataques em Garri são consistentes com o uso de gás cloro, mas alertaram que seriam necessárias inspecções no local para confirmar isso.
As evidências são consistentes com uma tendência recente de reutilização de materiais industriais, como o cloro, para fins de combate, de acordo com N.R. Jenzen-Jones, director da Armament Research Services, uma consultoria australiana especializada em armas e munições.
“Neste caso, as evidências são bastante convincentes e apontam para ataques usando gás cloro como arma,” Jenzen-Jones disse à France 24 Observers. “Talvez, infelizmente, não seja surpreendente ver esse método de guerra adoptado em outros lugares.”
