No nordeste da República Democrática do Congo, empresas mineiras chinesas estão a explorar a corrupção governamental, expulsando a população local das suas terras e causando danos ambientais irreparáveis na sua busca por ouro.
A mineração ilegal de ouro na província de Haut-Uélé vem aumentando desde 2020. Em muitos casos, as operações que se apresentam como cooperativas de mineração artesanal são apoiadas por empresas chinesas ou directamente operadas por elas, de acordo com uma investigação da Pax for Peace, uma organização não-governamental com sede nos Países Baixos.
“As cooperativas são apenas rótulos,” um funcionário não identificado da comunidade de Watsa disse à Pax. “Os cidadãos chineses são os que fazem tudo.”
Durante duas décadas, as empresas mineiras estatais chinesas detiveram o quase monopólio da mineração na RDC. Esse domínio permite que as empresas chinesas operem com quase total impunidade, promovendo a corrupção, deslocando comunidades e incentivando a mineração ilegal, de acordo com o analista Ashley Nunes.
“Enquanto isso, as populações locais lutam para manter o acesso a uma renda estável e a serviços básicos,” Nunes recentemente escreveu para o New Lines Institute.
Os investigadores da Pax visitaram locais de mineração em Haut-Uélé e conversaram extensivamente com residentes cujas vidas e meios de subsistência foram afectados pelas minas chinesas. Eles descrevem o agravamento da pobreza numa região que já sofre com dificuldades económicas, apesar da riqueza que se encontra sob o seu solo. Uma mulher disse aos investigadores que chegou ao seu campo de mandioca perto da comunidade de Moku e descobriu equipamentos de mineração a destruir as suas colheitas.
“Implorei que me devolvessem pelo menos a mandioca que tinha sido arrancada, mas eles recusaram,” a mulher, mãe de oito filhos, disse à Pax. “Eles destruíram a maior parte do campo e deixaram uma pequena parte, que agora estou a tentar usar para sobreviver, para que as crianças possam sobreviver.”
As empresas chinesas têm desrespeitado as leis destinadas a manter as máquinas fora de áreas especificamente reservadas para a mineração artesanal. Elas também têm realizado operações de mineração em áreas onde isso é totalmente proibido, de acordo com os investigadores da Pax. Operações ilegais semelhantes de mineração chinesa estão em curso nas províncias de Ituri, Kivu do Sul e Tshopo. Nessas áreas, algumas empresas de mineração estão a trabalhar dentro da lei, mas muitas não.
“Embora os intervenientes envolvidos nesta corrida ilegal ao ouro em Haut-Uélé tenham provavelmente obtido lucros enormes, nem as comunidades locais nem o tesouro público congolês beneficiaram destas actividades, que em grande parte escaparam à supervisão oficial e à tributação,” escreveram os investigadores no seu relatório.
Depois de as empresas mineiras seguirem em frente, os mineiros artesanais ficam a peneirar a terra destruída à procura de quaisquer restos de ouro que possam encontrar.
Os residentes dizem que as empresas mineiras chinesas, quando confrontadas com obstáculos legais, contornam-nos apelando às autoridades locais ou regionais. Desde 2020, centenas de militares e polícias foram destacados para proteger as operações mineiras ilícitas, de acordo com a Pax.
A destruição de fontes de água doce e terras aráveis aumenta a tensão entre as comunidades e eleva o potencial de violência na região. Nos últimos anos, homens armados atacaram operações de mineração perto de Moku, matando mineiros chineses e soldados congoleses e roubando ouro.
Os membros da etnia Mbuti estão entre as pessoas mais afectadas pelas acções de mineração chinesas. A destruição de florestas e rios na região deixou os residentes sem fontes confiáveis de água potável. Os poços cheios de água deixados pelas empresas mineiras criam riscos potenciais para os residentes locais, principalmente para as crianças, que já se afogaram neles.
Um homem Mbuti disse aos investigadores: “Os nossos antepassados disseram-nos para proteger o rio, e nós seguimos os seus passos. Infelizmente, hoje, [os mineiros chineses] vieram destruí-lo.”