Jingjing Zhang é advogada e activista ambiental que luta há décadas contra empresas chinesas que poluem. O seu trabalho levou-a a muitos países, onde ela afirma que a sua terra natal, a China, está a usar um modelo de desenvolvimento perigoso: poluir agora, enriquecer e tentar limpar depois.
Em Maio, ela visitou a Zâmbia para aconselhar os moradores cujas vidas foram devastadas quando um derrame de resíduos tóxicos de uma mina de cobre chinesa causou um dos piores desastres ecológicos do país.
“As empresas têm um dia de festa quando vêm aqui,” Andrew Kombe, um advogado zambiano que representa os aldeões, disse a Zhang, de acordo com a Inside Climate News. “Elas podem fazer o que quiserem.”
Em meio ao alvoroço generalizado em África sobre os países que lutam para pagar a dívida chinesa, um padrão preocupante surgiu no contexto da Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR): as empresas chinesas de mineração e construção no continente estão a deixar um rasto de devastação ambiental.
Luwi Nguluka, directora de comunicações da organização Wildlife Crime Prevention na Zâmbia, disse que as duas questões estão interligadas. No seu país, a China detém 82 empréstimos — mais do que qualquer outro país em África — totalizando 9,5 bilhões de dólares.
“A estreita relação do governo e a dependência financeira da China representam desafios para responsabilizar totalmente as empresas de mineração de propriedade chinesa,” disse à ADF, explicando que a limpeza e a restauração do ambiente em torno do derrame da Sino-Metals Leach Zambia podem levar muitos anos. “A supervisão e a regulamentação frouxas são questões de longa data no sector de mineração da Zâmbia.”
O Quénia é outro exemplo cautelar de enormes empréstimos da ICR que conferem às empresas de infra-estruturas chinesas uma influência desproporcionada que pode prejudicar os recursos naturais.
Os bancos e empresas chineses financiaram e construíram a Linha Férrea de Bitola Padrão, que suscitou controvérsia por dividir o Parque Nacional de Nairobi e atravessar a área de conservação de Tsavo, que sustenta cerca de 40% da população de elefantes do Quénia.
A ferrovia fragmentou habitats, perturbou rotas migratórias e alterou o comportamento da vida selvagem. Foram incluídas medidas de mitigação, como passagens subterrâneas para animais selvagens, mas estudos mostram que elas têm sido apenas parcialmente eficazes, com elefantes e outros animais ainda a ter dificuldades para atravessar com segurança.
“Projectos de infra-estrutura linear, como a ferrovia, devem desenvolver medidas sustentáveis e ecologicamente sensíveis,” o falecido Tobias Nyumba, então pesquisador da Universidade de Nairobi, escreveu para a The Conversation. “Por exemplo, as passagens subterrâneas devem ter a densidade e o tamanho adequados. Actualmente, as passagens subterrâneas são poucas e estão localizadas em áreas não utilizadas regularmente pela fauna bravia.”
Dentro das suas normas e directrizes opacas, a China comprometeu-se a tornar a ICR mais “verde,” instando as empresas chinesas a cumprir as melhores normas ambientais internacionais ou regras chinesas mais rigorosas. Na Zâmbia, Zhang espera diminuir a distância entre essa retórica verde e a realidade no terreno através da sua defesa.
Mas Maggie Mwape, directora-executiva do Centro para a Justiça Ambiental em Lusaka, Zâmbia, disse que mesmo avaliar a extensão total dos danos é um desafio devido à falta de transparência da empresa mineira chinesa e à pressão inerente que vem com os empréstimos chineses de bilhões de dólares.
“O governo da Zâmbia pode enfrentar pressão para priorizar os interesses económicos em detrimento das preocupações ambientais e sociais,” disse à ADF.
Enquanto isso, os zambianos estão furiosos. O derrame da mina de cobre danificou um dos cursos de água mais importantes do país, o Rio Kafue, que fornece água potável a cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo residentes da capital, Lusaka. Cerca de 60% da população da Zâmbia vive na sua bacia hidrográfica e depende das suas águas.
“Isto só revela a negligência que alguns investidores têm no que diz respeito à protecção ambiental,” o engenheiro ambiental Mweene Himwinga disse à The Associated Press. “Eles não parecem ter qualquer preocupação, qualquer consideração. E acho que é muito preocupante porque, no final do dia, [é] a única terra que nós, como povo zambiano, temos.”
Numa crítica mordaz, Ondiro Oganga, da Bloomberg News, destacou o forte investimento da China para ajudar a satisfazer as ambições da Zâmbia de triplicar a sua produção de cobre.
“Estamos a ver o governo a ser muito diplomático, a andar na ponta dos pés em torno da questão [ambiental] para não tropeçar em alguns fios eléctricos,” disse no dia 15 de Agosto.
A Zâmbia está a reestruturar a sua dívida com os credores chineses, algo que Oganga acredita que o governo não quer comprometer.
“Há também algo a ser dito sobre o apetite insaciável da China por minerais, particularmente em todo o continente africano,” disse. “Eles estão a deixar um rasto de desastres que estão a começar a manchar a imagem cuidadosamente cultivada de parceiros dignos.
“Vimos fatalidades em locais de mineração. Vimos conflitos entre empresas de mineração e comunidades. Agora estamos a ver desastres ambientais acompanhados de corrupção e actividades fraudulentas. A China precisa de voltar à prancheta e repensar como vai fazer negócios, particularmente a mineração no continente africano.”