As Forças Armadas do Sudão (SAF) utilizaram uma nova arma sofisticada na sua luta contra as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares: o drone Safrouq, produzido localmente, que está equipado com tecnologia contra a interferência e tem um alcance de 600 quilómetros.
O Safrouq é uma resposta ao uso do sistema de guerra electrónica Groza-S da Bielorrússia pelas RSF para identificar e interferir ou enganar os drones das SAF.
O Safrouq representa o mais recente avanço tecnológico, à medida que ambos os lados do conflito mudam as suas tácticas para armas aéreas e se afastam das forças terrestres, que chegaram a um impasse.
O Safrouq pode ser usado para reconhecimento, mas foi projectado para ser um veículo de ataque unidireccional (OWA), também conhecido como kamikaze. É também uma actualização dos drones modificados disponíveis no mercado que ambos os lados têm usado para ataques kamikaze nos últimos meses.
O Safrouq estreou em Julho na Feira Internacional da Indústria de Defesa (IDEF) em Istambul. A Turquia continua a apoiar as SAF e o líder de facto do Sudão, o General Abdel Fattah al-Burhan, política e militarmente, através da venda de drones Bayraktar TB2 e Akinci.
Os drones turcos revelaram-se uma componente fundamental na capacidade das SAF de expulsar as RSF de Cartum este ano. As RSF afirmam ter abatido vários drones turcos, incluindo um drone Akinci abatido sobre o Cordófão Ocidental em Setembro.
O sucesso das RSF contra os drones “expõe a fragilidade da superioridade não tripulada numa guerra em que as defesas fornecidas por estrangeiros estão a nivelar o campo de batalha aéreo,” de acordo com a revista Military Africa.
As RSF aumentaram o uso dos seus próprios drones a partir da sua base em Nyala, no Darfur do Sul, usando drones kamikaze FH-95 fabricados na China. Muitos dos drones das RSF são projectados para voar longas distâncias até ao território controlado pelas SAF e pairar acima de alvos potenciais, aguardando para atacar.
As RSF utilizaram drones de longo alcance lançados a partir do Darfur para atacar Port Sudan, visando uma pista de aterragem onde estavam baseados os drones Bayraktar das SAF. As SAF agora armazenam os drones no subsolo.
Nas últimas semanas, as RSF utilizaram os seus drones para atacar uma central eléctrica em Omdurman, uma refinaria de petróleo em Cartum e uma fábrica de armas em Yarmouk. No início de Outubro, os drones das RSF atacaram um hospital e bairros residenciais em el-Obeid, capital do Cordófão do Norte.
Em Julho, as tropas sudanesas abateram um drone kamikaze das RSF sobre as cidades de al-Dabbah e Merowe, no Estado do Norte, uma região que permaneceu praticamente intocada pelo conflito.
As RSF têm conseguido ameaçar o Estado do Norte desde que assumiram o controlo do Triângulo de Owaynat, uma rota comercial importante que faz fronteira com a Líbia e o Egipto, no noroeste do Sudão. Em resposta, as SAF reforçaram as defesas em torno das instalações militares na região, adicionando equipamentos de interferência e armas antiaéreas para combater um potencial ataque com drones.
As RSF também usam drones para assassinar figuras proeminentes. Al-Burhan sobreviveu a uma tentativa durante uma formatura militar no Estado do Mar Vermelho em 2024.
Analistas observam que a mudança para campanhas aéreas baseadas em drones aumenta a pressão sobre soldados e membros da milícia encarregados de defender locais importantes. No entanto, esses ataques não se traduzem necessariamente em ganhos territoriais para nenhum dos lados.
“Do ponto de vista do cálculo estratégico, as perdas sofridas por uma parte não conduzem necessariamente a ganhos para a outra,” o analista Albadawi Rahmtall escreveu recentemente na Military Africa.
“A superioridade aérea desvinculada da capacidade de explorar as condições terrestres e alterar a geografia militar diminui o valor dos ataques aéreos e reduz o seu significado militar e político,” acrescentou Rahmtall.