Aldeões reuniram-se para as orações da noite na mesquita de Manda, no Níger, no dia 20 de Junho. Logo depois, os assassinos chegaram.
Terroristas afiliados ao grupo Estado Islâmico (EI) massacraram 70 fiéis na mesquita. Os poucos sobreviventes conseguiram salvar-se, fingindo-se de mortos entre os corpos dos seus companheiros.
“Havia corpos por toda a parte, uns em cima de outros,” uma mulher, cujos três filhos morreram no ataque, disse à Human Rights Watch (HRW).
O ataque fez parte de um aumento de violência que matou quase 1.700 nigerianos desde que os líderes militares derrubaram o presidente Mahmoud Bazoum em 2023. Os terroristas mataram mais de 130 pessoas desde Março deste ano, segundo os observadores.
O número de mortos por terrorismo desde o golpe de 2023 é mais do que o dobro das 770 mortes sob o governo de Bazoum, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED).
Os líderes da junta forçaram as tropas francesas e depois americanas a abandonarem o país em 2024 e, mais tarde, recorreram à ajuda dos mercenários do Grupo Wagner da Rússia — agora rebaptizado como Africa Corps e operando sob o Ministério da Defesa russo. Tal como no Burquina Faso e no Mali, as mortes relacionadas com o terrorismo no Níger aceleraram após a chegada dos mercenários russos.
A região de Tillabéri, no oeste do Níger, tem sido o foco de grande parte da violência terrorista recente no Níger. A cidade fica na área de Liptako-Gourma, onde o Níger faz fronteira com o Burquina Faso e o Mali. Juntos, os três países do Sahel tornaram-se o foco global da violência terrorista.
Como parte do seu ataque às comunidades, os terroristas destroem escolas e locais religiosos e obrigam a população a aderir a uma interpretação rigorosa da lei islâmica, de acordo com a HRW.
“Grupos armados islâmicos estão a atacar a população civil no oeste do Níger e a cometer abusos horríveis,” Ilaria Allegrozzi, investigadora sénior da HRW, disse à BBC. “As autoridades nigerianas precisam de fazer mais para proteger as pessoas que vivem na região de Tillabéri.”
Até agora, porém, a junta do Níger parece estar focada em proteger a capital, Niamey, em detrimento do interior do país. O líder da junta, o General Abdourahamane Tchiani, tem concentrado grande parte da sua atenção no controlo da capital e na repressão aos meios de comunicação e à dissidência.
Após o golpe, o Níger juntou-se ao Burquina Faso e ao Mali e abandonou o grupo de países G5 Sahel, encarregado de combater o terrorismo na região. O Níger também se retirou da Força-Tarefa Conjunta Multinacional que combate terroristas na região do Lago Chade, no leste do país.
Essas mudanças criaram espaço para que grupos terroristas operassem impunemente em todo o Níger.
Repórteres do The Africa Report recentemente tiveram acesso a uma comunidade controlada por terroristas do Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM). Os combatentes chegaram para a sua reunião em motocicletas para recolher tributos dos residentes.
“Os soldados do país não significam nada para nós,” o líder do gangue, que fala fula, disse ao The Africa Report.
Poucos dias após essa reunião, no dia 10 de Setembro, terroristas mataram 27 soldados em ataques coordenados. Três dias depois, os terroristas emboscaram 14 soldados da patrulha de fronteira e os mataram. Então, no dia 15 de Setembro, os terroristas mataram 22 pessoas ao abrir fogo durante uma cerimónia de baptismo.
Nenhum grupo reivindicou a responsabilidade pelos ataques, mas testemunhas disseram à HRW que os terroristas provavelmente pertenciam à Província do Sahel do Estado Islâmico, devido às aldeias que foram alvo e à forma como os atacantes estavam vestidos.
Sem os parceiros franceses ou americanos, as forças armadas do Níger parecem estar em desvantagem e deixaram muitas comunidades praticamente desprotegidas contra ataques terroristas.
“Eles matam os homens na frente das mulheres,” Hadjara Zibo, residente de Libiri, disse ao The Guardian no final de 2024. Zibo disse que as mulheres foram forçadas a casarem-se com terroristas ou levadas como escravas sexuais. “As mulheres enfrentam o horror e a humilhação e, sem a ajuda da junta, somos deixadas à mercê dos jihadistas.”
