A prisão, em Agosto, de 60 cidadãos chineses que realizavam mineração ilegal de criptomoedas em Angola encerrou 25 operações de mineração e fazia parte de uma investigação multinacional mais ampla sobre crimes cibernéticos em toda a África.
A Operação Serengeti 2.0 decorreu de Junho a Agosto sob a jurisdição da Operação Conjunta Africana contra o Crime Cibernético (AJOC). Em colaboração com a Interpol, a polícia de 18 países africanos prendeu 1.209 supostos criminosos cibernéticos, encerrou mais de 11.000 operações fraudulentas e recuperou mais de 97 milhões de dólares em fundos roubados.
O projecto visava o que os investigadores descreveram como “crimes cibernéticos de alto impacto e danos elevados,” que incluíam ransomware, esquemas fraudulentos online e operações de comprometimento de e-mails comerciais. Todos foram identificados como riscos importantes no último Relatório de Avaliação de Ameaças Cibernéticas em África, da Interpol.
Na Zâmbia, por exemplo, os investigadores prenderam 15 supostos golpistas e desmantelaram esquemas fraudulentos de investimento em criptomoedas online que custaram 300 milhões de dólares às vítimas. Eles também encerraram uma operação suspeita de tráfico de pessoas e confiscaram 372 passaportes falsos.
Juntamente com Angola e Zâmbia, a Operação Serengeti 2.0 incluiu autoridades policiais do Benin, Camarões, Chade, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Gabão, Gana, Quénia, Maurícias, Nigéria, Ruanda, Senegal, África do Sul, Seychelles, Tanzânia e Zimbabwe.
Em Novembro de 2024, a precursora desta mais recente operação, apelidada simplesmente de Operação Serengeti, resultou em mais de 1.000 detenções de alegados criminosos cibernéticos e desmantelou 134.089 operações fraudulentas em 19 países.
A Operação Serengeti 2.0 mostrou até que ponto os países africanos se tornaram pontos críticos para o crime cibernético internacional, numa altura em que o rápido crescimento da internet ultrapassa a capacidade dos governos de a regulamentar.
Em alguns casos, as organizações do crime cibernético chegaram ao ponto de criar academias em países como a Nigéria, onde adolescentes chamados de “Yahoo boys” (em referência ao motor de busca) aprendem a executar uma série de golpes online, desde roubo de identidade até fraude financeira.
Os investigadores estimam que o crime cibernético agora é responsável por mais de 30% de todos os crimes registados na África Ocidental e Oriental.
A segurança cibernética é mais do que uma questão técnica para os países africanos, o embaixador Jalel Chelba, director-executivo interino da Afripol, disse num comunicado a anunciar as detenções.
“Tornou-se um pilar fundamental da estabilidade, paz e desenvolvimento sustentável em África,” afirmou Chelba. “Diz respeito directamente à soberania digital dos Estados, à resiliência das nossas instituições, à confiança dos cidadãos e ao bom funcionamento das nossas economias.”
O Relatório de Avaliação de Ameaças Cibernéticas em África 2025 da Interpol constatou que os ataques de ransomware continuam sendo um grande problema, especialmente no Egipto e na África do Sul. Estes países, juntamente com Quénia, Marrocos e Nigéria, têm o maior número de utilizadores da internet do continente.
Além de aplicarem esquemas fraudulentos em utilizadores da internet incautos, os criminosos cibernéticos também têm como alvo infra-estruturas cruciais, como a Autoridade Rodoviária Urbana do Quénia e o Gabinete Nacional de Estatísticas da Nigéria, que ficou offline durante dias devido a um ataque cibernético.
Além desses incidentes, 60% dos países africanos membros da Interpol registaram um aumento no número de casos de sextorsão digital, em que os golpistas usam imagens sexualmente explícitas para chantagear os utilizadores da internet. As imagens podem ser reais, recebidas voluntariamente ou obtidas enganando o alvo. Às vezes, porém, elas são criadas usando a inteligência artificial (IA).
À medida que os casos do crime cibernético aumentam, os governos africanos lutam para acompanhar o ritmo. A avaliação da Interpol constatou que 95% dos governos comunicaram falta de formação, recursos e acesso às ferramentas especializadas necessárias para combater o crime cibernético de forma mais eficaz.
A cooperação transfronteiriça africana em matéria de crime cibernético está a melhorar, mas ainda há um longo caminho a percorrer, devido à lentidão dos processos, à falta de redes operacionais e ao acesso limitado a plataformas e dados hospedados no estrangeiro, informou a Interpol.
Funcionários da Interpol afirmaram que a Operação Serengeti 2.0 mostra o que é possível quando os países superam obstáculos e trabalham juntos para interromper operações internacionais de crime cibernético.
“Com mais contribuições e partilha de conhecimentos, os resultados continuam a crescer em escala e impacto,” o secretário-geral da Interpol, Valdecy Urquiza, disse num comunicado. “Esta rede global está mais forte do que nunca, produzindo resultados reais e protegendo as vítimas.”