Outro grupo armado surgiu para desestabilizar ainda mais a região oriental da República Democrática do Congo.
Liderada pelo criminoso de guerra condenado Thomas Lubanga, a Convenção para a Revolução Popular (CRP) teria enfrentado as forças armadas congolesas (FARDC) em combates intensos em Agosto, em dois locais a cerca de 30 quilómetros a norte da capital da província de Ituri, Bunia.
Dieudonne Losa, um activista da sociedade civil de Bunia, disse que 19 civis morreram, incluindo 13 mulheres idosas e quatro meninas.
“O que está a acontecer a norte de Bunia é uma situação inaceitável,” Losa disse à Reuters.
As FARDC afirmaram que a CRP tentou vários ataques e que os soldados mataram 12 combatentes do grupo. Um comandante da CRP reconheceu à Reuters que houve confrontos, mas afirmou que apenas “um dos meus homens” foi morto.
Em 2002, Lubanga tornou-se famoso como líder da milícia União dos Patriotas Congoleses (UPC) em Ituri, onde os seus combatentes foram acusados de inúmeras violações de direitos humanos, incluindo massacres étnicos, assassinatos, violações, tortura e mutilações.
O Tribunal Penal Internacional condenou-o por recrutar e alistar à força crianças-soldados e enviá-las para o combate. Haia condenou Lubanga a 14 anos de prisão em 2012.
Depois de cumprir dois terços da sua pena, foi liberto em 2020. O presidente congolês, Félix Tshisekedi, gerou controvérsia ao nomear rapidamente Lubanga para uma força-tarefa do governo encarregue de trazer a paz a Ituri.
Em 2022, Lubanga foi sequestrado por um grupo rebelde durante dois meses, o que mais tarde atribuiu ao governo. Em 2023, foi eleito deputado provincial em Ituri, mas a eleição foi anulada devido à fraude. Desde então, acredita-se que ele esteja a residir no Uganda.
Em Março de 2025, Lubanga disse aos meios de comunicação internacional que estava a formar a CRP para derrubar o governo regional de Ituri, acusando as autoridades de não protegerem os civis e de excluí-lo dos esforços de paz.
Ele disse à Reuters que a CRP tinha homens armados em três áreas da província, mas que ainda não tinham iniciado hostilidades naquele momento. Para alcançar a paz em Ituri, segundo ele, “é necessária uma mudança imediata na gestão e no governo.”
O ressurgimento de Lubanga como líder da CRR representa uma ameaça à estabilidade na província de Ituri e na região dos Grandes Lagos, o Instituto Robert Lansing para Estudos sobre Ameaças Globais e Democracias escreveu numa análise de Abril:
“Embora ainda não seja uma força armada dominante, a CRP pode evoluir para um agente perturbador perigoso — principalmente se as crises em curso no leste da RDC continuarem a aprofundar-se.”
Não está claro quantos combatentes Lubanga pode controlar. Em 2024, especialistas das Nações Unidas acusaram-no de apoiar e estruturar a milícia de Ituri conhecida como Zaire-FPAC e de coordenar com o grupo rebelde M23, que tomou grandes partes do território na província vizinha de Kivu do Norte.
Com a ajuda de Lubanga, o Zaire recrutou ex-combatentes da UPC e estabeleceu centros de treino em Ituri e no Uganda, supervisionados por instrutores de Ituri, Uganda e Ruanda, de acordo com a ONU.
Agora aliada ao M23, a milícia Zaire construiu um arsenal com carrinhas, barcos militarizados e drones de vigilância, reforçando a sua presença em Ituri e o seu papel nos conflitos mais amplos do leste da RDC.
Mais de 120 grupos armados operam no leste da RDC, contribuindo fortemente para uma crise humanitária na qual dezenas de milhares de civis fugiram das suas casas. As tropas ugandesas mantêm presença em Ituri há anos para ajudar as FARDC a combater o grupo rebelde Forças Democráticas Aliadas, afiliado ao grupo Estado Islâmico.
Os especialistas em segurança acreditam que a CPR seja mais susceptível de exacerbar a proliferação de grupos armados do que trazer a paz.
“[A CRP] representa uma fusão perigosa de retórica populista, ressentimento étnico e ambição militarizada,” escreveu o Instituto Lansing. “Embora o seu impacto actual seja limitado, o seu potencial para desestabilizar o leste da RDC e corroer a segurança regional é significativo.
“A comunidade internacional, juntamente com as autoridades congolesas, deve monitorizar este grupo de perto, resolver as causas profundas da rebelião e apoiar processos políticos inclusivos que reduzam o apelo da luta armada.”