Já se passaram dois anos desde que o General Abdourahamane Tiani derrubou o presidente democraticamente eleito do Níger e prometeu restaurar a segurança no país. No entanto, os dados mais recentes mostram que Tiani fez poucos progressos contra uma onda crescente de violência terrorista.
“Até ao Outono de 2023, as insurreições no Níger estavam num estado relativamente estável,” o analista Michael DeAngelo escreveu recentemente para o Foreign Policy Research Institute. “A abordagem pré-golpe do Níger foi um sucesso limitado, enquanto a abordagem pós-golpe é um fracasso.”
Antes do golpe de 2023, o então presidente Mohamed Bazoum seguiu uma política de aumento da segurança nas áreas insurgentes, combinada com negociações para determinar as suas exigências. Tiani concentrou-se em garantir a segurança da capital Niamey, deixando grande parte do país com pouca protecção contra terroristas, de acordo com DeAngelo.
A Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) e a Província do Estado Islâmico no Sahel (ISSP) operam abertamente no oeste do Níger, ao longo da fronteira com o Burquina Faso e o Mali, e na região de Dosso, que faz fronteira com Benin e Nigéria. No leste do Níger, a Jama’atu Ahlis-Sunna Lidda’Awati Wal-Jihad (JAS) e a Província do Estado Islâmico na África Ocidental (ISWAP) continuam a operar em Diffa, perto do Lago Chade.
A incapacidade do Níger de reprimir os grupos terroristas representa uma ameaça crescente para os seus vizinhos costeiros a sul. No último ano, o Benin e a Nigéria repeliram incursões de terroristas do Níger nos seus territórios.
Em Junho, 200 terroristas do ISSP, que se faziam transportar em motorizadas, invadiram uma base do Exército do Níger perto da fronteira com o Mali e mataram 34 soldados. Poucos dias depois, terroristas do ISSP mataram 17 civis em oração em Dosso, perto do Benin e da Nigéria. Os ataques contribuíram para tornar Junho o mês mais mortífero em termos de ataques terroristas no Níger desde Abril de 2021.
O ataque de Junho foi o mais recente de uma série de ataques terroristas em todo o oeste do Níger, que deixaram dezenas de soldados e civis mortos. Em Março, por volta da altura em que Tiani tomou posse como presidente, terroristas mataram 44 civis na parte do Níger da região de Liptako-Gourma.
No final de Maio, 100 combatentes do ISSP invadiram o campo de Eknewan, na província de Tahoua, e mataram quase 60 soldados. Alguns dias antes, combatentes alinhados com a al-Qaeda mataram 40 soldados em Falmey, perto da fronteira com o Benin e o Burquina Faso.
“A campanha do ISSP em Junho marcou um claro regresso à prática de atrocidades em massa nas zonas rurais, visando reuniões de oração, mercados e comunidades inteiras, o que levou a deslocações em massa,” escreveram analistas do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) sobre o Níger.
Tiani culpou a crescente violência aos políticos locais e às forças militares estrangeiras, que, segundo ele, impediram o Níger de combater adequadamente os terroristas. Os soldados nigerinos disseram aos seus superiores que não têm recursos para combater os terroristas, de acordo com o The Africa Report.
A situação tornou-se tão grave que um oficial subalterno confrontou recentemente o General Moussa Salaou Barmou, um membro da junta que Tiani promoveu recentemente. Barmou abordou posteriormente Salifou Mody, membro da junta e Ministro da Defesa do Níger, sobre as alegações do oficial e ameaçou demitir-se em protesto, de acordo com relatos da imprensa.
Observadores afirmam que Tiani está cada vez mais isolado, com um pequeno círculo de conselheiros no complexo presidencial em Niamey, onde Bazoum continua prisioneiro. Acrescentam que Tiani governa o Níger praticamente sozinho.
Um diplomata anónimo da África Ocidental disse ao The Africa Report que a aliança do Níger com as juntas que governam o Burquina Faso e o Mali ajuda a manter Tiani no poder. Os três países saíram da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) em Janeiro, fundando o seu próprio bloco regional chamado Aliança dos Estados do Sahel (AES). Esse esforço também parece estar a enfrentar dificuldades devido ao aumento das tensões com os vizinhos do sul do bloco.
“A junta está a sufocar economicamente — com as fronteiras fechadas com o Benin e a relações com a China a piorar. Não se pode pedir às pessoas que sofram para sempre,” disse o diplomata da África Ocidental. “Já passaram dois anos desde que tomaram o poder. Para quê?”